quarta-feira, 16 de maio de 2018

Crítica - Paris 8


Análise Crítica - Paris 8


Review - Mes Provinciales
Um filme francês em preto e branco que acompanha as andanças de um personagem através de Paris enquanto ele trava longas conversas sobre cinema, literatura, música e filosofia. Essa parece a descrição de algo feito por alguma vanguarda europeia da década de 50 ou 60, mas pertence a Paris 8, um filme feito em 2018.

A narrativa é centrada em Etienne (Adranic Manet), um jovem que sai da cidade de Lyon para estudar cinema em Paris. Lá ele conhece dois outros estudantes que compartilham sua paixão sobre cinema, mas ao longo do ano eles enfrentarão dificuldades que colocam dúvidas sobre seus sonhos de se tornarem grandes autores.

É uma premissa típica de uma narrativa de formação, com um jovem deixando sua pequena cidade para perseguir seus sonhos na cidade grande enquanto lida com a desilusão dos obstáculos que surgem pelo caminho. Nesse sentido, o filme capta de maneira genuína as angústias do jovem estudante de cinema enquanto ele busca sua própria voz enquanto artista, experimenta dificuldades em se estabelecer no meio profissional e dissabores amorosos. Ciente do quanto é difícil produzir algo que seja relevante quando já existem tantas obras de arte magistrais no mundo, Etienne é excessivamente crítico de si mesmo, de suas próprias realizações e essa insegurança quanto ao seu lugar no mundo e seu próprio valor é algo com que todos podemos nos relacionar.

Há, no entanto, algo de anacrônico e deslocado no modo como toda essa jornada, digna de um típico romance de formação, é contada. Como falei anteriormente, tudo nele remete a filmes europeus dos anos 50 ou 60, seja no seu uso do preto e brancos, no vaguear dos seus personagens e suas longas conversas sobre artes ou no constante clima de melancolia e desilusão. O filme se apropria desses temas e dessa estética de maneira meramente mimética, reproduzindo o modo de fazer filmes de décadas atrás sem fazer qualquer esforço de acrescentar algo a essa práxis ou tingi-la com um viés de homenagem ou nostalgia.

Não fosse o fato dos personagens usarem celulares ou câmeras modernas, eu nem seria capaz de dizer que é um filme que se passa nos dias de hoje de tanto que tudo é registrado como algo de antigamente. É como se o diretor Jean Paul Civeyrac tivesse entrado em uma máquina do tempo lá nos anos 50 e tivesse sido transportado diretamente para os dias atuais, fazendo filmes exatamente como se fazia antes. Com isso, tudo tem um incômodo sabor de naftalina, algo velho, antiquado e parado no tempo, diferente de algo como Frances Ha (2012), que consegue soar moderno mesmo tendo ares de cinema europeu antigo.

Outro problema é a longa duração de quase duas horas e vinte que arrasta mais do que necessário a simples (o que não significa que seja simplória) trama de formação e amadurecimento do protagonista. Isso se verifica nas cenas em si, que se estendem conforme os sujeitos empilham sucessivas referências a diretores, de Bresson a Dario Argento e David Fincher, ou teóricos como Gilles Deleuze e a citação nominal de sua noção da "imagem movimento", tudo feito para desfiar a extrema cinefilia dos personagens e do próprio diretor Jean Paul Civeyrac, mas nem sempre tem algo a acrescentar sobre a jornada de Etienne. Claro, ele é um estudante de cinema, então é natural que ele converse sobre cinema, mas demonstrar seu interesse e afinidade nessa área não necessariamente implica em apresentar um volume de informação que só pode ser absorvido por quem é pós graduado em cinema (e falo isso porque sou) e cujas repetições dão ao filme mais um ar de redundância do que de erudição.

Paris 8 apresenta uma sincera jornada de formação e aprendizado, mas não consegue afastar a impressão de algo desnecessariamente anacrônico e antiquado.


Nota: 5/10


Trailer

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