Jurassic World: O Mundo dos Dinossauros (2015) era uma colagem rasa
das principais cenas de ação da franquia costurada por uma versão requentada da
trama do filme original de 1993. Apesar de ser um fanservice preguiçoso, ainda que carismático, conseguiu arrecadar
mais de um bilhão e meio, logicamente gerando uma continuação, este Jurassic World: Reino Ameaçado. O filme
prometia levar a franquia a novas direções, mas só faz isso em seus últimos
minutos e até chegar lá o público precisa se contentar com uma reciclagem da
trama de O Mundo Perdido (1997).
Anos depois dos eventos do filme
anterior, a Ilha Nublar está ameaçada por uma erupção vulcânica. Preocupada com
o destino dos dinossauros que lá habitam, Claire (Bryce Dallas Howard) lidera
uma campanha para que o governo evacue os répteis, porque claro, nada melhor
que torrar o dinheiro do contribuinte para salvar criaturas que nem deveriam
existir e que causariam um imenso desequilíbrio ecológico para toda fauna e
flora do planeta caso fossem soltas na natureza, ameaçando todas as criaturas
vivas. Quando o governo logicamente nega o auxílio, Claire é abordada por Eli
Mills (Rafe Spall), que se apresenta como um ambientalista que visa preservar
os dinossauros e pede a ajuda dela em uma operação de resgate. Claire decide
pedir ajuda para Owen (Chris Pratt), já que ele é o único capaz de interagir
com a velociraptor Blue, mas chegando na ilha a dupla descobre que os planos de
Eli eram muito mais nefastos.
Igual como aconteceu em O Mundo Perdido, a missão ambientalista
era um engodo e Eli queria capturar os dinossauros, não para um novo parque,
mas para fazer experiências e vendê-los, porque criar um super dinossauro
assassino deu muito certo para todos no filme anterior né? Sério, o quão burras
são as pessoas desse universo, que em quase trinta anos ainda não aprenderam
que nada de bom nunca sai de tentar mexer com os dinossauros? Sim, a crítica da
soberba humana é um tema recorrente, mas isso já ficava evidente desde o
primeiro filme e as continuações subsequentes fizerem pouco para avançar essa
discussão, sem falar que depois de tanto tempo e com tantos eventos cheios de
fatalidades a conduta dos personagens já superou a soberba faz tempo e entrou
com os dois pés no campo da estupidez suicida.
Para além da trama reciclada, há
a questão da falta de consequência em relação aos eventos do filme anterior.
Uma reportagem no início menciona que a empresa responsável pelo parque pagou
quase 800 milhões em indenizações, mas é estranho que não sejam mencionadas
prisões, indiciamentos ou novas leis proibindo a criação de animais
geneticamente alterados. Claire, por exemplo, era a administradora do parque,
diretamente responsável pela criação do Indominus Rex e todo o desastre que se
sucedeu depois, era de se imaginar que ela ao menos fosse ser investigada ou
indiciada, mas aparentemente nada disso aconteceu. É o tipo de furo que poderia
ser resolvido com uma ou duas linhas de diálogo, bastava alguém mencionar que
ela foi absolvida em um julgamento e estaria tudo justificado, mas do jeito que
está parece displicência e falta de cuidado na construção do universo
ficcional.
Chris Pratt segue como um
carismático herói de ação com a personalidade blasé e cafajeste do aventureiro Owen e o afeto que ele tem pela
velociraptor Blue trouxe uma emoção que eu não esperava encontrar na jornada do
personagem. A relação romântica que ele tem com Claire, no entanto, continua
repetindo o mesmo clichê do casal que se detesta, mas se ama, do filme
anterior, sendo dispensável e sem brilho. Igualmente sem brilho são os vilões
interpretados por Rafe Spall e Toby Jones que nunca vão além do caricatural.
Ainda assim, o filme diverte não
só pelo carisma de Pratt, mas pela competência do diretor J.A Bayona
(responsável pelo ótimo Sete Minutos Depois da Meia Noite) em conduzir as cenas de ação. A fuga de Owen e Claire
da ilha em erupção, por exemplo, é cheia de tensão e adrenalina. A tensão
cresce em seu terço final com a apresentação do letal Indomiraptor e o Bayona
passa a conduzir tudo mais como um terror gótico do que um filme de aventura.
Um exemplo é a primeira vez que vemos o Indomiraptor, com luzes intensas e
eletricidade estalando a cena remete ao modo como é criado o monstro de
Frankenstein. Com habilidade Bayona joga com sombras e reflexos para tornar o
dinossauro uma presença quase que sobrenatural, um monstro que pode se revelar
em cada canto escuro da velha mansão na qual os personagens estão.
A direção de Bayona é auxiliada
pelos ótimos efeitos especiais que criam os dinossauros a partir de uma mistura
de animatrônicos e computação gráfica, gerando criaturas mais convincentes do
que as do filme anterior que se apoiava exclusivamente em efeitos digitais. O design sinistro do Indomiraptor, com
longos braços e sinuosas garras, contribui para que o vejamos como um
irrefreável bicho papão.
Não deixa de ser curioso que
apesar de reciclar tantas tramas dos filmes anteriores, o desfecho finalmente
consegue entregar algo que parece levar a franquia a rumos diferentes, mas é
mais uma promessa para filmes futuros do que uma grande ruptura que acontece ao
longo do filme em si. É um pouco decepcionante que foi preciso mais um filme
cheio de ideias repetidas para que finalmente se achasse algum novo direcionamento.
Há um certo paradoxo em Jurassic World: Reino Ameaçado. Ao mesmo
tempo em que deixa mais do que evidente o cansaço das fórmulas repetidas à
exaustão pela franquia, seu desfecho empolga com a apresentação de novas
possibilidades para esse universo. É inegável o senso de diversão e
encantamento oferecido pelo filme, mas já passou da hora de suas tramas
evoluírem.
Nota: 6/10
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