terça-feira, 5 de junho de 2018

Crítica - A Morte de Stalin


Análise Crítica - A Morte de Stalin



Review - A Morte de Stalin
Tinha minhas dúvidas se uma abordagem cômica funcionaria para contar uma história tão brutal e sombria quanto a do caos que sucedeu a morte de Josef Stalin e todas as disputas de poder entre as lideranças soviéticas, mas A Morte de Stalin consegue fazer essa sátira política dar certo sem perder de vista o peso de todos aqueles eventos. Seu retrato jocoso sobre os bastidores da política soviética inclusive fez o filme ser proibido Rússia.

Como o próprio título sugere, a trama começa com a morte de Stalin (Adrian McLoughlin) e o resto das lideranças imediatamente começa a maquinar quem irá suceder o líder morto como governante da União Soviética. O eleito para o comando é Georgy Malenkov (Jeffrey Tambor), mas nem todos os ministros concordam e começam a arquitetar suas próprias tentativas de tomar o controle, principalmente Lavrenti Beria (Simon Russell Beale) e Nikita Khrushchev (Steve Buscemi).

O diretor Armando Ianucci traz aqui o mesmo niilismo cômico de sua série Veep (sobre os bastidores da política dos Estados Unidos), apresentando os líderes soviéticos como sujeitos mesquinhos, egoístas, imaturos e sem qualquer convicção ou ideologia além do desejo de poder (não muito diferente de políticos reais, na verdade). Nenhum deles tem qualquer projeto para o país ou desejo de mudar qualquer coisa, eles apenas querem uma posição de poder para manter privilégios e salvar o próprio pescoço, já que uma posição baixa na hierarquia significaria estar sujeito aos caprichos da liderança incluindo o risco de ser considerado um traidor a qualquer minuto.

A trama acerta ao recriar o clima de medo e paranoia do regime stalinista, no qual qualquer olhar torto ou resposta equivocada poderia significar ser mandado por uma gulag ou ser executado como traidor. Isso fica evidente no início do filme quando o pobre diretor de um teatro se desespera para reencenar um espetáculo musical que tinha acabado de encerrar ao receber uma ligação de que Stalin queria ouvir uma gravação do espetáculo. É difícil não rir quando um dos membros do gabinete de Stalin responde com um incrédulo "eu devo ter feito algo muito errado" ao ouvir de um colega que Stalin planejava executá-lo, denotando a natureza absolutista e inquestionável do poder do líder soviético, já que ao invés de questionar a ordem do governante, o subalterno imediatamente considera que a ordem foi justa e merecida.

Apesar dos momentos de humor e absurdo, o filme não deixa que o aspecto cômico alivie a severidade da situação, permitindo que também sintamos as consequências sombrias do autoritarismo daquele  governo. Um exemplo é a cena em que as forças especiais abrem fogo contra uma multidão de civis que se aproxima do palácio do governo querendo entrar no funeral de Stalin, matando milhares de inocentes. A execução brutal de um dos altos membros do gabinete próxima ao fim do filme serve como um duro lembrete do que estava em jogo e porque aquelas pessoas estavam tão pateticamente desesperadas por tomar o controle da situação.

Engraçado e aterrorizante em iguais medidas, A Morte de Stalin é muito bem sucedido em lançar um olhar cômico cínico sobre um dos períodos mais brutos da história.


Nota: 9/10


Trailer

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