Ver as agruras de um casal
discutindo a natureza de sua relação, se bem feito, pode fornecer muitos insights sobre a condição humana, como
formamos nossas conexões e como nos relacionamos uns com os outros, um bom
exemplo disso é Antes da Meia-Noite
(2013) e os outros dois filmes anteriores que compõem a trilogia. Quando esse “filme de DR”, por outro lado, não é bem realizado, se torna um aborrecido
exercício de paciência conforme acompanhamos pessoas desinteressantes
reclamarem de coisas sobre as quais não damos a mínima, como no caso do
sonolento À Beira Mar (2015). Este Duck Butter, dirigido pelo porto-riquenho
Miguel Arteta (responsável por Jantar Com Beatriz), não chega a nenhum desses extremos, ficando em um meio termo
entre eles.
A trama é centrada em Nima (Alia
Shawkat, a Maeby de Arrested Development),
uma jovem atriz que ainda espera sua grande chance para emplacar a carreira.
Depois de um dia frustrante de trabalho Nima conhece a cantora e compositora
Sergio (Laia Costa) e ambas se interessam uma pela outra. Sergio propõe que
elas passem 24 horas juntas para tentarem se conectar.
É um filme de poucos espaços (a
casa de Sérgio e a casa de Nima), que usa esse confinamento para criar
situações de aproximação e atrito entre as duas protagonistas. A câmera se
mantêm próxima às atrizes, constantemente em seus rostos, criando a sensação de
constante proximidade e nos mergulhando na intimidade das duas de maneira
simples e direta, assim como nas cenas de sexo, sem muitas afetações O problema
que muitas dessas situações não rendem ou soam redundantes. As personagens
fazem observações pontuais sobre suas inseguranças, frustrações amorosas, sobre
o machismo que enfrentam em seus trabalhos, mas nada é plenamente desenvolvido
e o filme não vai além da superfície dessas questões.
Na verdade, os momentos mais
eficientes são aqueles sem diálogos, como o momento em que Nima começa a chorar
ao tentar o método de meditação de Sergio ou o modo como Sergio fica ansiosa e
insegura com a vinda da mãe para tomar café da manhã, revelando, sem que
qualquer explicação seja necessária, a relação complicada que ela tem com a
mãe. É através do acúmulo desses silêncios e do modo como nos permite, sem
diálogos, vislumbrar o que está sob a superfície das personagens que a trama
consegue seus momentos de maior potência emocional, principalmente no clímax,
quando Sergio confronta Nima por sua postura distanciada.
É por causa da química entre as
atrizes que o filme envolve, mesmo quando o texto não lhes dá muita substância
para trabalhar. A espanhola Laia Costa faz de Sergio uma garota confiante, mas
dotada de uma impulsividade quase que infantil, enquanto Shawkat traz uma
vulnerabilidade e insegurança bastante sinceras para Nima, nos fazendo entender
o motivo da atriz se sentir tão atraída pela exótica compositora.
Duck Butter nem sempre alcança suas pretensões de examinar a
aproximação amorosa de duas pessoas relativamente imaturas, mas seu olhar
sincero e o talento das duas protagonistas constroem uma ternura que envolve a
despeito de suas falhas. Por mais problemas que o filme tenha, é difícil não
obter alguma satisfação no singelo desfecho que mostra o aprendizado das duas
personagens e o impacto de uma na vida da outra.
Nota: 6/10
Trailer
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