O final da quinta temporada de Orange is the New Black prometia uma
espécie de recomeço para a série ao levar as detentas para uma prisão de
segurança máxima e parte delas sendo levada a uma outra prisão. Ficava, no
entanto, a dúvida, se a sexta temporada iria se dividir entre duas prisões ou
se concentraria apenas em uma, descartando o resto das personagens. A decisão
acabou sendo a mais acertada, mantendo tudo em uma só prisão e se concentrando
nas detentas que foram para a área de segurança máxima de Litchfield, mas mesmo
reduzindo o número de personagens a série ainda tem alguns problemas de arcos
narrativos que não funcionam como deveriam.
O sexto ano começa nos mostrando
as consequências da rebelião, com as autoridades federais investigando as
responsáveis pela rebelião e também pela morte do guarda Piscatella (Brad
William Henke), já que os guardas que mataram por acidente plantam provas para
implicar uma das presas. Além de lidarem com os interrogatórios, as presas
precisam arranjar um jeito de sobreviver ao cotidiano violento da nova prisão,
que vive em uma constante disputa entre as gangues lideradas pelas irmãs e
rivais Carol (Henny Russell) e Barb (Mackenzie Philips).
Tal como em temporadas
anteriores, a série critica muito da estrutura prisional dos Estados Unidos,
revelando como todo o sistema não tem qualquer interesse em reabilitar as
presas ou fornecer ferramentas para que elas se reintegrem à sociedade, se
interessando somente em mantê-las encarceradas para poder ganhar mais dinheiro
com isso. O processo desumaniza tanto quem está preso quanto os guardas que
trabalham diariamente na prisão e, nesse sentido, a mudança para uma prisão de
segurança máxima serve para colocar os personagens diante de dilemas morais
ainda mais sérios e com mais riscos.
Questões de lealdade e redenção
são levantadas ao longo da temporada conforme a investigação da morte de
Piscatella obriga as personagens a fornecerem testemunhos para evitarem penas
maiores ou a disputa entre as gangues de diferentes pavilhões separa pessoas
que antes eram amigas. Essa divisão também serve para que a série explore
interações entre personagens que até então não tinham muita proximidade como o
que acontece com Flaca (Jackie Cruz) e Cindy (Adrienne C. Moore) ou Frieda
(Dale Soules) e Suzanne (Uzo Aduba), que servem tanto a propósitos cômicos
quanto dramáticos. Falando em comédia, o equilíbrio com o drama nem sempre
funciona tão bem e às vezes é difícil sair de uma cena em que alguém é
brutalmente agredida por um guarda para algum outro personagem fazendo algo
esquisito e engraçadinho.
A trama também tenta estabelecer
como presas e guardas padecem dos mesmos problemas como fica evidenciado pelos
arcos de Ruiz (Jessica Pimentel) e da guarda McCullough (Emily Tarver).
McCullough claramente sofre de estresse pós-traumático em virtude do que passou
durante a rebelião, reagindo com extrema violência mesmo quando as presas não
fazem nada demais, enquanto que Ruiz sofre com o arrependimento da conduta
violenta que teve durante a tomada do presídio. Não é à toa que a narrativa as
coloque para chorar, em momentos diferentes, no mesmo banheiro, sinalizando
como elas são dois lados de uma mesma moeda.
Os temas de lealdade se
apresentam nas tramas de personagens como Nicky (Natasha Lyonne) e Cindy,
forçadas a delatar as amigas para as autoridades. A delação de Nicky a coloca
(e outras detentas) no centro da fúria vingativa de Red (Kate Mulgrew), que se
sente traída por aquelas que considerava sua família, enquanto que Cindy tenta
esconder seu testemunho e vai sendo devorada pelo arrependimento. Como de
costume, a série evita maniqueísmos fáceis e faz nossa adesão flutuar entre os
diferentes personagens conforme dá a eles razões compreensíveis (ainda que nem
sempre moralmente justificáveis) para o modo como agem. O uso dos flashbacks contribui para isso,
humanizando personagens que facilmente poderiam se tornar caricaturas, como
Madison (Amanda Fuller) e Daddy (Vicci Martinez).
Quem continua a se destacar entre
o diverso elenco é Danielle Brooks como Taystee, nos dando a dimensão do peso
que ela carrega depois dos eventos da temporada anterior cujo comportamento
oscila entre a esperança de ter se tornado um símbolo da luta por direitos e o
desamparo diante da possibilidade de ser condenada (e receber uma pena severa)
por um crime que não cometeu. A temporada, no entanto, não consegue fazer
render algumas tramas de personagens que vinham sendo importantes até então. A
fuga de Doggett (Taryn Manning) gasta um cinco episódios para dizer algo que as
temporadas anteriores já tinham deixado claro, que a relação entre ela e
Charlie (James McMenamin) não daria certo por conta do comportamento agressivo
dele. Mesmo depois que ela retorna à prisão, a série não consegue fazer nada
interessante com a personagem. O arco de Aleida (Elizabeth Rodriguez), embora
seja importante para falar das dificuldades das presas em reconstruírem suas
vidas e dos problemas do sistema de custódia de menores, demora a fazer o envolvimento
da personagem com um esquema multinível estilo Herbalife se integrar a alguma
das tramas principais da temporada.
Ainda assim, a série acerta no
agridoce desfecho, entregando algumas resoluções felizes e vislumbres de que as
coisas podem dar certo, mostrando as presas de diferentes pavilhões conseguindo
conviver pacificamente enquanto Barb e Carol são destruídas pelo próprio ódio e
ressentimentos. Ao mesmo tempo, o desfecho reconhece que muitos problemas dessa
infraestrutura estão longe de acabar como acontece com Taystee ou a ideia de
prisões para imigrantes.
A sexta temporada de Orange is The New Black entrega algo
mais conciso que o quinto ano, ainda que com alguns problemas de ritmo, mantendo o cuidado no desenvolvimento de seus
personagens mesmo quando as suas críticas ao sistema prisional dos EUA fazem pouco para avançar o que a própria série já disse.
Nota: 6/10
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