segunda-feira, 30 de julho de 2018

Crítica – Orange is the New Black: 6ª Temporada


Análise Crítica – Orange is the New Black: 6ª Temporada


Review – Orange is the New Black: 6ª Temporada
O final da quinta temporada de Orange is the New Black prometia uma espécie de recomeço para a série ao levar as detentas para uma prisão de segurança máxima e parte delas sendo levada a uma outra prisão. Ficava, no entanto, a dúvida, se a sexta temporada iria se dividir entre duas prisões ou se concentraria apenas em uma, descartando o resto das personagens. A decisão acabou sendo a mais acertada, mantendo tudo em uma só prisão e se concentrando nas detentas que foram para a área de segurança máxima de Litchfield, mas mesmo reduzindo o número de personagens a série ainda tem alguns problemas de arcos narrativos que não funcionam como deveriam.

O sexto ano começa nos mostrando as consequências da rebelião, com as autoridades federais investigando as responsáveis pela rebelião e também pela morte do guarda Piscatella (Brad William Henke), já que os guardas que mataram por acidente plantam provas para implicar uma das presas. Além de lidarem com os interrogatórios, as presas precisam arranjar um jeito de sobreviver ao cotidiano violento da nova prisão, que vive em uma constante disputa entre as gangues lideradas pelas irmãs e rivais Carol (Henny Russell) e Barb (Mackenzie Philips).

Tal como em temporadas anteriores, a série critica muito da estrutura prisional dos Estados Unidos, revelando como todo o sistema não tem qualquer interesse em reabilitar as presas ou fornecer ferramentas para que elas se reintegrem à sociedade, se interessando somente em mantê-las encarceradas para poder ganhar mais dinheiro com isso. O processo desumaniza tanto quem está preso quanto os guardas que trabalham diariamente na prisão e, nesse sentido, a mudança para uma prisão de segurança máxima serve para colocar os personagens diante de dilemas morais ainda mais sérios e com mais riscos.

Questões de lealdade e redenção são levantadas ao longo da temporada conforme a investigação da morte de Piscatella obriga as personagens a fornecerem testemunhos para evitarem penas maiores ou a disputa entre as gangues de diferentes pavilhões separa pessoas que antes eram amigas. Essa divisão também serve para que a série explore interações entre personagens que até então não tinham muita proximidade como o que acontece com Flaca (Jackie Cruz) e Cindy (Adrienne C. Moore) ou Frieda (Dale Soules) e Suzanne (Uzo Aduba), que servem tanto a propósitos cômicos quanto dramáticos. Falando em comédia, o equilíbrio com o drama nem sempre funciona tão bem e às vezes é difícil sair de uma cena em que alguém é brutalmente agredida por um guarda para algum outro personagem fazendo algo esquisito e engraçadinho.

A trama também tenta estabelecer como presas e guardas padecem dos mesmos problemas como fica evidenciado pelos arcos de Ruiz (Jessica Pimentel) e da guarda McCullough (Emily Tarver). McCullough claramente sofre de estresse pós-traumático em virtude do que passou durante a rebelião, reagindo com extrema violência mesmo quando as presas não fazem nada demais, enquanto que Ruiz sofre com o arrependimento da conduta violenta que teve durante a tomada do presídio. Não é à toa que a narrativa as coloque para chorar, em momentos diferentes, no mesmo banheiro, sinalizando como elas são dois lados de uma mesma moeda.

Os temas de lealdade se apresentam nas tramas de personagens como Nicky (Natasha Lyonne) e Cindy, forçadas a delatar as amigas para as autoridades. A delação de Nicky a coloca (e outras detentas) no centro da fúria vingativa de Red (Kate Mulgrew), que se sente traída por aquelas que considerava sua família, enquanto que Cindy tenta esconder seu testemunho e vai sendo devorada pelo arrependimento. Como de costume, a série evita maniqueísmos fáceis e faz nossa adesão flutuar entre os diferentes personagens conforme dá a eles razões compreensíveis (ainda que nem sempre moralmente justificáveis) para o modo como agem. O uso dos flashbacks contribui para isso, humanizando personagens que facilmente poderiam se tornar caricaturas, como Madison (Amanda Fuller) e Daddy (Vicci Martinez).

Quem continua a se destacar entre o diverso elenco é Danielle Brooks como Taystee, nos dando a dimensão do peso que ela carrega depois dos eventos da temporada anterior cujo comportamento oscila entre a esperança de ter se tornado um símbolo da luta por direitos e o desamparo diante da possibilidade de ser condenada (e receber uma pena severa) por um crime que não cometeu. A temporada, no entanto, não consegue fazer render algumas tramas de personagens que vinham sendo importantes até então. A fuga de Doggett (Taryn Manning) gasta um cinco episódios para dizer algo que as temporadas anteriores já tinham deixado claro, que a relação entre ela e Charlie (James McMenamin) não daria certo por conta do comportamento agressivo dele. Mesmo depois que ela retorna à prisão, a série não consegue fazer nada interessante com a personagem. O arco de Aleida (Elizabeth Rodriguez), embora seja importante para falar das dificuldades das presas em reconstruírem suas vidas e dos problemas do sistema de custódia de menores, demora a fazer o envolvimento da personagem com um esquema multinível estilo Herbalife se integrar a alguma das tramas principais da temporada.

Ainda assim, a série acerta no agridoce desfecho, entregando algumas resoluções felizes e vislumbres de que as coisas podem dar certo, mostrando as presas de diferentes pavilhões conseguindo conviver pacificamente enquanto Barb e Carol são destruídas pelo próprio ódio e ressentimentos. Ao mesmo tempo, o desfecho reconhece que muitos problemas dessa infraestrutura estão longe de acabar como acontece com Taystee ou a ideia de prisões para imigrantes.

A sexta temporada de Orange is The New Black entrega algo mais conciso que o quinto ano, ainda que com alguns problemas de ritmo, mantendo o cuidado no desenvolvimento de seus personagens mesmo quando as suas críticas ao sistema prisional dos EUA fazem pouco para avançar o que a própria série já disse.

Nota: 6/10

Trailer


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