segunda-feira, 16 de julho de 2018

Crítica – Sexy por Acidente


Análise Crítica – Sexy por Acidente


Review – Sexy por Acidente
Misturando elementos de Quero Ser Grande (1988) com O Amor é Cego (2001), Sexy por Acidente é um filme cheio de boas intenções e, embora não seja o primeiro a trazer uma mensagem de que a beleza física não importa, o que torna-o tão interessante é a sinceridade com a qual aborda esse tema em uma sociedade cada vez mais obcecada com a imagem e a beleza física.

A trama é centrada em Renee (Amy Schumer), uma mulher cheia de inseguranças quanto à aparência por não se conformar com os padrões de beleza. Ela é relativamente bem sucedida, mas pensa que sua vida poderia ser bem melhor se ela tivesse um corpo perfeito. Seu desejo é mais ou menos atendido quando ela bate a cabeça na academia e ao acordar acredita ter magicamente adquirido a beleza que tanto desejava, mas na verdade seu corpo não mudou, apenas a percepção que ela tem de si mesma.

O início do filme é hábil em mostrar como determinados padrões de aparência são impostos pelos meios de comunicação, mostrando capas de revista, publicidade e tutoriais de internet que lembram a todos, especialmente mulheres, que existe apenas uma forma, um tipo de corpo, que é considerado belo e todas as outras são incentivadas a correr atrás desses padrões.

A narrativa é inteligente também em apontar que por mais que você se sinta bem consigo mesma, parte da sociedade (talvez ela inteira) ainda julga as pessoas pela aparência e os padrões de beleza, assim ela desloca sua mensagem de um mero “acredite e confie em você” para mostrar as limitações práticas desse tipo de pensamento, lembrando que além da necessidade de mudar o modo como percebemos nossa própria aparência, precisamos também mudar o modo como a sociedade enxerga e lida com esses padrões. Do mesmo modo, a trama trabalha para demonstrar que possuir beleza não resolve todos os problemas, evidenciando como mulheres consideradas atraentes também tem sua autoestima atacada ao serem tratadas como menos inteligentes ou competentes, revelando o modo sistemático pelo qual as mulheres são constantemente diminuídas, seja pela aparência ou competência.

Apesar de começar delineando bem todas essas questões, o filme acaba derrapando em uma segunda metade morna, que não aproveita como deveria todas as ideias que até então vinha trabalhando com habilidade. A trama romântica nunca consegue envolver como deveria, em parte porque a trama não consegue justificar porque Renee, que agora se acha absolutamente gostosa, se contentaria com um sujeito tão banal como Ethan (Rory Scovel), principalmente quando ela começa a criticar e desprezar as melhores amigas por serem igualmente banais. Assim, os dois arcos, o do romance e o da amizade, acabam se contradizendo e nenhum deles consegue produzir situações de drama ou comédia que façam render a premissa do filme.

A segunda metade é ainda prejudicada pelo excesso de diálogos expositivos, que martelam sem sutileza a mensagem da trama. O clímax peca pela extrema facilidade com a qual tudo é resolvido, bastando um discurso de Renee durante um lançamento de produto para fazê-la reavaliar suas atitudes, restaurar sua autoestima e consertar a relação dela com as amigas.

Se o texto deixa a desejar, o elenco ocasionalmente consegue trabalhar os temas da narrativa com um pouco mais de nuance, principalmente a Avery vivida por Michelle Williams. Se inicialmente ela parece uma clone da Miranda Priestly de O Diabo Veste Prada (2006) com sua postura blasé e constante ar de superioridade, aos poucos a atriz nos deixa perceber que tudo não passa de um mecanismo de defesa para que os outros não percebem suas inseguranças e senso de inadequação por ela temer não ser levada à sério por sua voz infantilizada. Seria fácil torná-la a vilã da história, a chefe megera que Renee tem que superar, mas ao invés disso a trama faz de Avery alguém que, tal como Renee, é sua própria pior inimiga, atrapalhada e prejudicada mais por suas inseguranças e falta de autoestima do que pelas ações dos outros.

Sexy por Acidente começa cheio de boas intenções, mas a execução morna impede que o filme faça jus ao potencial cômico e dramático de suas ideias.


Nota: 5/10


Trailer

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