Todo Dia chama atenção por sua premissa pouco usual para um filme
de romance. Uma garota, Rhiannon (Angourie Rice), se apaixona por uma pessoa
(ou entidade), autointitulada A, que cada dia ocupa um corpo diferente. É algo
com um quê de metafísico ou realismo fantástico, mas lamentavelmente o filme
nunca embarca no potencial de sua própria trama.
Rhiannon é constantemente
ignorada pelo namorado, Justin (Justice Smith), mas um dia ele chega diferente
ao colégio e leva Rihannon em um passeio inesquecível que a faz sentir ainda
mais apaixonada pelo rapaz. No dia seguinte, no entanto, Justin não só retorna
à sua postura negligente com a namorada como também afirma não se lembrar de
nada. Nos dias que seguem, a protagonista é abordada por diferentes pessoas (de
ambos sexos) que lhe lembram do dia que teve com Justin até que um desses
indivíduos conta a ela que todo esse tempo Rhiannon esteve interagindo com um
só indivíduo. Essa pessoa, que diz se chamar A, troca de corpo toda noite e não
parece ter um corpo próprio. Intrigada por essa situação pouco usual, Rhiannon
vai se aproximando de A em suas diferentes formas.
A ideia da troca de corpos de A
poderia render uma boa metáfora sobre identidade, sexualidade, gênero, poliamor
ou alteridade mas todas essas questões são abordadas muito superficialmente
(quando não ignoradas) para surtirem qualquer impacto. Na verdade, mais parece
que a narrativa usa essa premissa para mascarar o fato de que esse é só mais um
romance adolescente igual a todos os outros do que como um ponto de partida
para refletir sobre a existência humana ou a maneira como nos relacionamos. No
máximo o filme passa a mensagem de que o importante não são as aparências, mas
o que a pessoa é, um discurso que não é exatamente novidade.
Outro problema é que A nunca
parece um personagem plenamente realizado, mas um mero dispositivo de roteiro
para realizar o desenvolvimento e educação sentimental de Rhiannon. Seus
diálogos são cheios de ensinamentos e lições sobre ver o mundo sob diferentes
perspectivas, abraçar a mudança, tudo muito expositivo e didático, mas não
mergulha muito na personalidade de A apesar do carisma emprestado pelo diverso
elenco que dá vida às suas diferentes formas.
Com isso, fica difícil se
importar ou torcer pelo casal de protagonistas já que apenas Rhiannon é uma
pessoa plenamente realizada, principalmente pelo trabalho de Angourie Rice, que
já tinha surpreendido no bacana Dois Caras Legais (2016), sendo uma eficiente âncora afetiva. Rice traz uma boa
medida de energia e doçura para sua personagem, se abrindo para cada uma das
formas de A e permitindo que seus sentimentos desabrochem a cada novo encontro.
É por conta do afeto genuíno construído por Rice que conseguimos nos manter
investidos na trama.
Exceto pelo segmento em que A
acorda no corpo de Rhiannon ou quando ele toma a forma de uma garota suicida, o
filme faz pouco para explorar as possibilidades criativas das “habilidades” de
A, falhando não só em explorar as muitas ideias suscitadas por sua existência
como fazendo muito pouco para criar situações interessantes com ela. Na
verdade, quando a trama começa a tentar levantar algumas questões sobre como
seria o futuro entre A e Rhiannon, ela abrupta e rapidamente encerra todas
essas questões e resolve tudo com muita facilidade, entregando um desfecho que
nunca atinge a dimensão trágica a que se propõe porque não dá tempo para que
isso seja sentido.
Todo Dia desperdiça sua instigante premissa metafísica em uma
narrativa rasa e banal que se acomoda em ser só mais um romance adolescente.
Nota: 5/10
Trailer
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