quarta-feira, 18 de julho de 2018

Crítica - Todo Dia


Análise Crítica - Todo Dia


Review - Todo Dia
Todo Dia chama atenção por sua premissa pouco usual para um filme de romance. Uma garota, Rhiannon (Angourie Rice), se apaixona por uma pessoa (ou entidade), autointitulada A, que cada dia ocupa um corpo diferente. É algo com um quê de metafísico ou realismo fantástico, mas lamentavelmente o filme nunca embarca no potencial de sua própria trama.

Rhiannon é constantemente ignorada pelo namorado, Justin (Justice Smith), mas um dia ele chega diferente ao colégio e leva Rihannon em um passeio inesquecível que a faz sentir ainda mais apaixonada pelo rapaz. No dia seguinte, no entanto, Justin não só retorna à sua postura negligente com a namorada como também afirma não se lembrar de nada. Nos dias que seguem, a protagonista é abordada por diferentes pessoas (de ambos sexos) que lhe lembram do dia que teve com Justin até que um desses indivíduos conta a ela que todo esse tempo Rhiannon esteve interagindo com um só indivíduo. Essa pessoa, que diz se chamar A, troca de corpo toda noite e não parece ter um corpo próprio. Intrigada por essa situação pouco usual, Rhiannon vai se aproximando de A em suas diferentes formas.

A ideia da troca de corpos de A poderia render uma boa metáfora sobre identidade, sexualidade, gênero, poliamor ou alteridade mas todas essas questões são abordadas muito superficialmente (quando não ignoradas) para surtirem qualquer impacto. Na verdade, mais parece que a narrativa usa essa premissa para mascarar o fato de que esse é só mais um romance adolescente igual a todos os outros do que como um ponto de partida para refletir sobre a existência humana ou a maneira como nos relacionamos. No máximo o filme passa a mensagem de que o importante não são as aparências, mas o que a pessoa é, um discurso que não é exatamente novidade.

Outro problema é que A nunca parece um personagem plenamente realizado, mas um mero dispositivo de roteiro para realizar o desenvolvimento e educação sentimental de Rhiannon. Seus diálogos são cheios de ensinamentos e lições sobre ver o mundo sob diferentes perspectivas, abraçar a mudança, tudo muito expositivo e didático, mas não mergulha muito na personalidade de A apesar do carisma emprestado pelo diverso elenco que dá vida às suas diferentes formas.

Com isso, fica difícil se importar ou torcer pelo casal de protagonistas já que apenas Rhiannon é uma pessoa plenamente realizada, principalmente pelo trabalho de Angourie Rice, que já tinha surpreendido no bacana Dois Caras Legais (2016), sendo uma eficiente âncora afetiva. Rice traz uma boa medida de energia e doçura para sua personagem, se abrindo para cada uma das formas de A e permitindo que seus sentimentos desabrochem a cada novo encontro. É por conta do afeto genuíno construído por Rice que conseguimos nos manter investidos na trama.

Exceto pelo segmento em que A acorda no corpo de Rhiannon ou quando ele toma a forma de uma garota suicida, o filme faz pouco para explorar as possibilidades criativas das “habilidades” de A, falhando não só em explorar as muitas ideias suscitadas por sua existência como fazendo muito pouco para criar situações interessantes com ela. Na verdade, quando a trama começa a tentar levantar algumas questões sobre como seria o futuro entre A e Rhiannon, ela abrupta e rapidamente encerra todas essas questões e resolve tudo com muita facilidade, entregando um desfecho que nunca atinge a dimensão trágica a que se propõe porque não dá tempo para que isso seja sentido.

Todo Dia desperdiça sua instigante premissa metafísica em uma narrativa rasa e banal que se acomoda em ser só mais um romance adolescente.


Nota: 5/10


Trailer

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