Uma Quase Dupla prometia ser uma versão brasileira dos “filmes de
parceiros” hollywoodianos como Máquina
Mortífera (1987), criando uma comédia de ação protagonizada por dois
detetives com personalidades opostas. Como esse é um filão pouco explorado pelo
cinema brasileiro, entrei para assistir torcendo por um resultado positivo, mas
lamentavelmente não é isso que acontece.
A trama acompanha Keyla (Tatá
Werneck) uma durona policial carioca que é enviada para uma pacata cidade do
interior para ajudar na investigação de um estranho homicídio que a polícia
local não sabe como lidar. Lá ela recebe ajuda de Cláudio (Cauã Reymond), um
atrapalhado policial da cidade. Ao longo da investigação novas mortes começam a
ocorrer e Keyla desconfia se tratar de um assassino em série.
Os personagens apresentam uma
curiosa inversão de expectativas, com Tatá Werneck, famosa por seu talento
cômico, assumindo a personagem mais séria enquanto que Cauã fica com o lado
pacato e incompetente da dupla. Poderia dar muito errado, mas os atores fazem
funcionar, principalmente Cauã que abraça sem medo a estupidez ingênua de seu
personagem enquanto que Tatá adota a postura intransigente que assumia em
esquetes como o “Entrevista com o Especialista” do seu programa no Multishow.
Apesar do esforço dos atores, o
texto deixa a desejar ao insistir em repetir as mesmas situações a cada cena.
Praticamente todo o filme gira em torno da dupla chegar em algum lugar, Keyla
começa a interrogar alguém de modo ríspido, metralhando seu interlocutor com
sucessivas ofensas (e algumas são criativas o bastante para fazer rir),
enquanto Cláudio tenta aparvalhadamente mantê-la sob controle. E uma vez que
percebemos esse excesso de repetição, tudo se torna cansativo apesar da curta
minutagem (cerca de 90 minutos).
Algumas gags visuais inclusive não chegam a funcionar nem mesmo na primeira
vez, como o constante hábito de Keyla em lamber as coisas para fazer longas
deduções a partir do paladar. O ato provavelmente foi pensado para parodiar
personagens como Sherlock Holmes, capazes deduzirem uma quantidade enorme de
informação a partir dos menores detalhes, mas é tão exagerado que acaba soando
forçado e não surte o efeito que deveria. Forçadas também são as tentativas de
tentar inserir menções a marcas que patrocinaram o filme, como a cena na qual
um personagem berra o nome de um canal de televisão por assinatura de maneira
totalmente gratuita. Outro problema é que algumas cenas, em especial os
diálogos da dupla com delegado Moacir (Ary França) ou com o suspeito
interpretado por Daniel Furlan, se alongam mais do que deveriam e o que começa engraçado
rapidamente se torna enfadonho por perder o timing
e ficar se repetindo ao invés de mover a cena adiante.
O bizarro crime que inicia o
filme poderia render algo interessante com a ideia de um assassino que mata
pessoas que ele considera como chatas, Chumbo
Grosso (2007) fez algo similar e é uma das melhores paródias de filmes
policiais, entre outros motivos, pelo modo como utiliza a motivação fútil e
estúpida dos crimes como uma contraposição à frieza racional que é típica do
gênero. Uma Quase Dupla, no entanto,
não faz muita coisa com a motivação pitoresca do crime exceto pelo modo como o
assassino arruma os corpos de suas vítimas, mas a resolução em si carece de
impacto ou mesmo de graça.
Uma Quase Dupla acaba não aproveitando bem sua premissa e elenco,
descambando para uma comédia repetitiva que mais cansa do que faz rir.
Nota: 4/10
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