terça-feira, 10 de julho de 2018

Crítica – Uma Quase Dupla

Análise Crítica – Uma Quase Dupla


Review – Uma Quase Dupla
Uma Quase Dupla prometia ser uma versão brasileira dos “filmes de parceiros” hollywoodianos como Máquina Mortífera (1987), criando uma comédia de ação protagonizada por dois detetives com personalidades opostas. Como esse é um filão pouco explorado pelo cinema brasileiro, entrei para assistir torcendo por um resultado positivo, mas lamentavelmente não é isso que acontece.

A trama acompanha Keyla (Tatá Werneck) uma durona policial carioca que é enviada para uma pacata cidade do interior para ajudar na investigação de um estranho homicídio que a polícia local não sabe como lidar. Lá ela recebe ajuda de Cláudio (Cauã Reymond), um atrapalhado policial da cidade. Ao longo da investigação novas mortes começam a ocorrer e Keyla desconfia se tratar de um assassino em série.

Os personagens apresentam uma curiosa inversão de expectativas, com Tatá Werneck, famosa por seu talento cômico, assumindo a personagem mais séria enquanto que Cauã fica com o lado pacato e incompetente da dupla. Poderia dar muito errado, mas os atores fazem funcionar, principalmente Cauã que abraça sem medo a estupidez ingênua de seu personagem enquanto que Tatá adota a postura intransigente que assumia em esquetes como o “Entrevista com o Especialista” do seu programa no Multishow.


Apesar do esforço dos atores, o texto deixa a desejar ao insistir em repetir as mesmas situações a cada cena. Praticamente todo o filme gira em torno da dupla chegar em algum lugar, Keyla começa a interrogar alguém de modo ríspido, metralhando seu interlocutor com sucessivas ofensas (e algumas são criativas o bastante para fazer rir), enquanto Cláudio tenta aparvalhadamente mantê-la sob controle. E uma vez que percebemos esse excesso de repetição, tudo se torna cansativo apesar da curta minutagem (cerca de 90 minutos).

Algumas gags visuais inclusive não chegam a funcionar nem mesmo na primeira vez, como o constante hábito de Keyla em lamber as coisas para fazer longas deduções a partir do paladar. O ato provavelmente foi pensado para parodiar personagens como Sherlock Holmes, capazes deduzirem uma quantidade enorme de informação a partir dos menores detalhes, mas é tão exagerado que acaba soando forçado e não surte o efeito que deveria. Forçadas também são as tentativas de tentar inserir menções a marcas que patrocinaram o filme, como a cena na qual um personagem berra o nome de um canal de televisão por assinatura de maneira totalmente gratuita. Outro problema é que algumas cenas, em especial os diálogos da dupla com delegado Moacir (Ary França) ou com o suspeito interpretado por Daniel Furlan, se alongam mais do que deveriam e o que começa engraçado rapidamente se torna enfadonho por perder o timing e ficar se repetindo ao invés de mover a cena adiante.

O bizarro crime que inicia o filme poderia render algo interessante com a ideia de um assassino que mata pessoas que ele considera como chatas, Chumbo Grosso (2007) fez algo similar e é uma das melhores paródias de filmes policiais, entre outros motivos, pelo modo como utiliza a motivação fútil e estúpida dos crimes como uma contraposição à frieza racional que é típica do gênero. Uma Quase Dupla, no entanto, não faz muita coisa com a motivação pitoresca do crime exceto pelo modo como o assassino arruma os corpos de suas vítimas, mas a resolução em si carece de impacto ou mesmo de graça.

Uma Quase Dupla acaba não aproveitando bem sua premissa e elenco, descambando para uma comédia repetitiva que mais cansa do que faz rir.


Nota: 4/10

Trailer

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