Quando escrevi sobre Feito na América (2017), falei como
Hollywood vinha continuadamente investindo em histórias sobre o traficante
Pablo Escobar, de Conexão Escobar
(2016) a Escobar: Paraíso Perdido
(2014), passando pela série Narcos.
Este Escobar: A Traição é mais um
filme dessa leva e só serve para provar a saturação do mercado com tramas sobre
o famoso (ou infame) chefão do tráfico colombiano.
A trama pretende ser focada no
caso que Pablo Escobar (Javier Bardem) teve com a jornalista Virginia Vallejo
(Penélope Cruz) durante o auge do poderio de seu reinado como traficante. Eu
digo “pretende” porque essa história nunca é realmente contada ou examinada,
esses dois personagens mal interagem ou dialogam ao longo das duas horas de
projeção e o texto parece claramente mais interessado na ascensão e queda de
Escobar no tráfico do que em entender a complicada relação que havia entre os
dois, o que os movia ou os atraía.
A verdade é que o caso entre os
dois é uma mera nota de rodapé na história de Escobar (que era casado na época)
e ao tentar transformar em central algo que era pouco importante na trajetória
no narcotraficante o filme apenas evidencia a própria irrelevância. Talvez
funcionasse se Virgínia fosse colocada em primeiro plano e Escobar fosse um
personagem secundário, mas do jeito que está, com Escobar tendo o maior tempo
de cena, a narrativa me fez perguntar o tempo todo durante a projeção “porque
esse filme existe?”.
Eu faço essa pergunta pelo motivo
da trama não ter nada a dizer sobre seus dois protagonistas. A ideia de abordar
um ângulo até então pouco explorado nos esforços biográficos que se debruçam
sobre a figura de Escobar deveria aprofundar algum aspecto até então pouco
visto do sujeito. Ao invés disso a trama é uma história de “ascensão e queda”
bastante banal e que não mostra nada que a série Narcos já não tenha mostrado, por exemplo. Claro, Javier Bardem
traz sua habitual intensidade ao personagem e a violência explícita choca, mas
não afasta a sensação de déjà vu.
Bardem, inclusive, é prejudicado pelas próteses feitas para engordá-lo
artificialmente, sua barriga falsa é bem esquisita e a maquiagem em seu rosto
na segunda hora de projeção o deixa parecendo o Edgar do filme MiB: Homens de Preto (1997).
Penelópe Cruz tem muito pouco a
fazer com o pequeno espaço que Vallejo ocupa na trama. Considerando que ela não
estava presente na maioria dos eventos que sua voz narra em off, sua presença como narradora é
dispensável. Quando está fisicamente em cena, o texto não nos dá muito para nos
importarmos com ela. O roteiro a faz parecer uma mulher fútil, que aceitou ser
colocada em uma posição de cumplicidade simplesmente pelos presentes caros e
benesses que recebia do traficante. Assim, quando ela eventualmente perde tudo
a personagem soa menos como mais uma vítima do mal que é Escobar e mais uma
hipócrita recebendo o que merece. A relação com Vallejo tem tão pouco impacto
na trajetória de Escobar que é difícil não se perguntar qual a razão do filme
dedicar atenção a ela.
Não chegando nem perto de cumprir a promessa de explorar um aspecto pouco visto de seu protagonista, Escobar: A Traição soa mais como um engodo que tenta nos tapear a consumir uma história que já foi contada inúmeras vezes antes.
Nota: 4/10
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