segunda-feira, 20 de agosto de 2018

Crítica – Escobar: A Traição


Análise Crítica – Escobar: A Traição


Review – Escobar: A Traição
Quando escrevi sobre Feito na América (2017), falei como Hollywood vinha continuadamente investindo em histórias sobre o traficante Pablo Escobar, de Conexão Escobar (2016) a Escobar: Paraíso Perdido (2014), passando pela série Narcos. Este Escobar: A Traição é mais um filme dessa leva e só serve para provar a saturação do mercado com tramas sobre o famoso (ou infame) chefão do tráfico colombiano.

A trama pretende ser focada no caso que Pablo Escobar (Javier Bardem) teve com a jornalista Virginia Vallejo (Penélope Cruz) durante o auge do poderio de seu reinado como traficante. Eu digo “pretende” porque essa história nunca é realmente contada ou examinada, esses dois personagens mal interagem ou dialogam ao longo das duas horas de projeção e o texto parece claramente mais interessado na ascensão e queda de Escobar no tráfico do que em entender a complicada relação que havia entre os dois, o que os movia ou os atraía.

A verdade é que o caso entre os dois é uma mera nota de rodapé na história de Escobar (que era casado na época) e ao tentar transformar em central algo que era pouco importante na trajetória no narcotraficante o filme apenas evidencia a própria irrelevância. Talvez funcionasse se Virgínia fosse colocada em primeiro plano e Escobar fosse um personagem secundário, mas do jeito que está, com Escobar tendo o maior tempo de cena, a narrativa me fez perguntar o tempo todo durante a projeção “porque esse filme existe?”.

Eu faço essa pergunta pelo motivo da trama não ter nada a dizer sobre seus dois protagonistas. A ideia de abordar um ângulo até então pouco explorado nos esforços biográficos que se debruçam sobre a figura de Escobar deveria aprofundar algum aspecto até então pouco visto do sujeito. Ao invés disso a trama é uma história de “ascensão e queda” bastante banal e que não mostra nada que a série Narcos já não tenha mostrado, por exemplo. Claro, Javier Bardem traz sua habitual intensidade ao personagem e a violência explícita choca, mas não afasta a sensação de déjà vu. Bardem, inclusive, é prejudicado pelas próteses feitas para engordá-lo artificialmente, sua barriga falsa é bem esquisita e a maquiagem em seu rosto na segunda hora de projeção o deixa parecendo o Edgar do filme MiB: Homens de Preto (1997).

Penelópe Cruz tem muito pouco a fazer com o pequeno espaço que Vallejo ocupa na trama. Considerando que ela não estava presente na maioria dos eventos que sua voz narra em off, sua presença como narradora é dispensável. Quando está fisicamente em cena, o texto não nos dá muito para nos importarmos com ela. O roteiro a faz parecer uma mulher fútil, que aceitou ser colocada em uma posição de cumplicidade simplesmente pelos presentes caros e benesses que recebia do traficante. Assim, quando ela eventualmente perde tudo a personagem soa menos como mais uma vítima do mal que é Escobar e mais uma hipócrita recebendo o que merece. A relação com Vallejo tem tão pouco impacto na trajetória de Escobar que é difícil não se perguntar qual a razão do filme dedicar atenção a ela.

Não chegando nem perto de cumprir a promessa de explorar um aspecto pouco visto de seu protagonista, Escobar: A Traição soa mais como um engodo que tenta nos tapear a consumir uma história que já foi contada inúmeras vezes antes.


Nota: 4/10


Trailer

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