O Protetor (2014) podia ser um filme relativamente derivativo, mas ao
menos exibia um certo grau de autoconsciência e conseguia construir um bom
suspense a partir da tensa disputa entre o protagonista Robert McCall (Denzel
Washington) e o gângster Teddy (Marton Csokas). Esta continuação, no entanto,
não consegue manter o mesmo nível de tensão original, resultado em um produto
bastante inferior.
A narrativa começa com McCall
trabalhando como motorista enquanto continua a ajudar pessoas em seus momentos
de folga. Seu cotidiano é interrompido quando Susan (Melissa Leo), sua antiga
amiga de seu tempo na CIA, se envolve em uma conspiração internacional e McCall
decide encontrar os responsáveis a qualquer custo, inclusive recorrendo a seu
antigo parceiro, Dave (Pedro Pascal).
Se o anterior tinha uma história
relativamente simples de McCall tentando corrigir injustiças que acontecem nas
ruas, essa continuação tenta algo mais ambicioso ao tentar tecer uma trama
envolvendo uma vasta conspiração internacional, mas a questão é que essa
premissa maior se choca com o conceito do personagem, de um herói errante que
ajuda pessoas comuns com a criminalidade das grandes cidades. O primeiro filme
reconhecia como seu protagonista reproduzia um arquétipo antigo da ficção e,
talvez por isso, atemporal.
Aqui, no entanto, esse olhar
reflexivo não existe, ainda que ele ocasionalmente continue insistindo em
algumas referências literárias, como a constante presença de Em Busca do Tempo Perdido de Proust,
para tentar costurar algumas ideias sobre memória e sobrevivência, mas tudo é
desconjuntado demais para formar um todo coeso. A trama demora de engrenar e
boa parte da primeira hora é dedicada a mostrar McCall ajudando algumas pessoas
aleatórias que tem pouco ou nenhum impacto no restante do filme, como a dona da
livraria ou a garota abusada por um grupo de jovens. Mesmo o idoso em busca da
irmã não tem muita conexão com restante do filme além da superficial questão do
tempo e memória. Esse arco narrativo podia inclusive ser cortado integralmente
do filme que nem nada prejudicaria o entendimento ou andamento de sua trama
principal.
Com tantas digressões, a
narrativa acaba soando dispersa, sem foco e, com isso, sem o suspense e a
tensão que marcaram o filme anterior. Essa falta de suspense deriva também da
ausência de um antagonista que seja tão ardiloso e ameaçador quanto o do
primeiro filme. Não só a trama demora demais para apresentar o vilão, como a
revelação é bastante previsível e mesmo depois de já termos um inimigo definido ele se mostra facilmente superado por McCall, caindo facilmente na
armadilha do protagonista ao clímax. Se antes tínhamos um antagonista tão esperto como o
herói, o desta continuação nunca soa como um oponente à altura.
Com isso, parte das cenas de
ação, em especial toda a sequência final, carecem de impacto, já que nunca
sentimos que McCall está realmente em perigo ou desvantagem. Um dos poucos
embates que se salva é luta à bordo de um carro em movimento na qual o protagonista
precisa dirigir e lutar ao mesmo tempo. Denzel Washington traz a mesma
intensidade e carisma do filme anterior, mas ele sozinho não consegue carregar
uma trama tão desinteressante.
Tendo gostado do primeiro filme,
só tenho a lamentar que O Protetor 2 seja
uma continuação tão inferior, falhando em acrescentar qualquer coisa aos seus
personagens ou mesmo em repetir o que o anterior fez tão bem.
Nota: 4/10
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