Um filme baseado em um meme com quase dez anos de idade não me
soa como algo atrativo. Talvez se este Slender
Man: Pesadelo Sem Rosto, baseado na criatura criada por Eric Knudsen em
2009 em fóruns de internet, tivesse sido lançado próximo à época que o meme estava no auge ele pudesse
despertar interesse. Feito hoje, quando o meme
já inspirou tragédias reais como a retratada no documentário Cuidado com o Slenderman (2016) na qual
duas garotas tentaram matar uma amiga para oferecê-la em sacrifício para a
criatura, parece mais uma tentativa de requentar algo cujo tempo sob os
holofotes já passou e talvez não devesse retornar.
A trama acompanha um grupo de
amigas que ouve falar sobre o mito do Slender Man, uma criatura que
supostamente faz crianças desaparecerem, e decidem procurar informações a
respeito dele na internet. As garotas assistem um vídeo e logo depois começam a
ser assombradas por sonhos nos quais o Slender Man tenta capturá-las em uma
floresta. Assim, elas precisam desvendar o mistério da criatura antes de ser
tarde demais.
Filmes de monstro normalmente
tentam estabelecer uma mitologia ao redor da criatura protagonista, criando a
impressão de que existe toda uma subcultura a seu respeito. Normalmente filmes
desse tipo já começam mostrando pessoas conversando a respeito do monstro e ele
fazendo sua primeira vítima. Este filme, no entanto, não apresenta essa
construção, iniciando a trama com mais um dia normal das protagonistas na
escola sem qualquer sugestão de que há algum tipo de ameaça pairando sobre
elas. Desta forma, como não houve construção prévia a respeito dos rumores que
circulam sobre o Slender Man, o momento em que uma das personagens pergunta às
amigas se elas já ouviram falar na criatura soa gratuito e inorgânico,
acontecendo apenas porque precisa acontecer para mover a trama para frente.
O pouco tempo dedicado à
mitologia do monstro resulta em uma ameaça vaga, cujo método ou extensão dos
poderes nunca é bem definido, criando a incômoda impressão de que “vale
qualquer coisa” e a qualquer momento a trama pode simplesmente inventar uma
nova habilidade para a criatura, diluindo a tensão ao invés de amplificá-la. Sim,
eu sei que explicar demais a natureza de um monstro pode tornar tudo previsível
demais, mas uma quantidade mínima de informação é necessária para que ao menos
compreendamos de onde os ataques virão para que saibamos quando temer. Corrente do Mal (2014) é um ótimo
exemplo de filme que explica o modus operandi
do monstro e ainda assim o mantém cercado de mistério. Do jeito que é
apresentado no filme, o Slender Man é tão vago que não chega a desenvolver uma
personalidade própria, sendo uma mistura sem graça da Samara da franquia O Chamado com o Freddy dos filmes A Hora do Pesadelo.
A narrativa também faz pouco
esforço para usar a natureza viral do personagem para produzir qualquer tipo de
reflexão sobre nossa conduta na internet ou como o compartilhamento de
conteúdos sensacionalistas na internet muitas vezes produz consequências
severas fora do mundo virtual. Ao não aproveitar tudo que o Slender Man tinha
de específico, talvez por temer não ser de bom gosto dada a tragédia real
envolvendo o personagem, o filme se torna um terror derivativo com um
bicho-papão genérico.
Não ajuda que as personagens do
filme sejam desprovidas de qualquer traço discernível ou arco dramático. Elas
não passam por nenhuma transformação, aprendizado ou não tem nenhuma motivação
exceto sobreviver. A cidade na qual toda a trama se passa soa igualmente sem
personalidade, já que o fato de jovens estarem desaparecendo ou enlouquecendo
não parece ter impacto nenhum sobre o cotidiano da pequena e pacata cidade (que
nunca é nomeada), diferente, por exemplo, de Pânico (1996) ou It: A Coisa (2017)
no qual as mortes deixavam as pequenas cidades em estado de alerta.
Apesar de genérico,
ocasionalmente o filme consegue criar imagens macabras o bastante para criar
uma atmosfera de tensão a exemplo da perseguição na biblioteca envolvendo Wren
(Joey King, de A Barraca do Beijo) ou
boa parte das cenas na floresta. A música contribui para a criação dessa
atmosfera, sendo sinistra sem soar intrusiva demais. A fotografia, por outro
lado, pesa a mão no uso de sombras, constantemente colocando as personagens
caminhando por ruas sem nenhuma iluminação, andando por suas casas à noite sem
sequer tentar encontrar um interruptor e até mesmo corredores de hospitais são
extremamente mal iluminados, criando a impressão de que ninguém ali paga a
conta de luz e não de ambientes soturnos.
Slender Man: Pesadelo Sem Rosto não consegue fazer nada digno de
nota com seu controverso personagem/meme,
falhando em ser o “terror digital” que prometia, entregando um produto
derivativo e sem personalidade.
Nota: 5/10
Trailer
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