terça-feira, 21 de agosto de 2018

Crítica – Slender Man: Pesadelo Sem Rosto


Análise Crítica – Slender Man: Pesadelo Sem Rosto


Review – Slender Man: Pesadelo Sem Rosto
Um filme baseado em um meme com quase dez anos de idade não me soa como algo atrativo. Talvez se este Slender Man: Pesadelo Sem Rosto, baseado na criatura criada por Eric Knudsen em 2009 em fóruns de internet, tivesse sido lançado próximo à época que o meme estava no auge ele pudesse despertar interesse. Feito hoje, quando o meme já inspirou tragédias reais como a retratada no documentário Cuidado com o Slenderman (2016) na qual duas garotas tentaram matar uma amiga para oferecê-la em sacrifício para a criatura, parece mais uma tentativa de requentar algo cujo tempo sob os holofotes já passou e talvez não devesse retornar.

A trama acompanha um grupo de amigas que ouve falar sobre o mito do Slender Man, uma criatura que supostamente faz crianças desaparecerem, e decidem procurar informações a respeito dele na internet. As garotas assistem um vídeo e logo depois começam a ser assombradas por sonhos nos quais o Slender Man tenta capturá-las em uma floresta. Assim, elas precisam desvendar o mistério da criatura antes de ser tarde demais.

Filmes de monstro normalmente tentam estabelecer uma mitologia ao redor da criatura protagonista, criando a impressão de que existe toda uma subcultura a seu respeito. Normalmente filmes desse tipo já começam mostrando pessoas conversando a respeito do monstro e ele fazendo sua primeira vítima. Este filme, no entanto, não apresenta essa construção, iniciando a trama com mais um dia normal das protagonistas na escola sem qualquer sugestão de que há algum tipo de ameaça pairando sobre elas. Desta forma, como não houve construção prévia a respeito dos rumores que circulam sobre o Slender Man, o momento em que uma das personagens pergunta às amigas se elas já ouviram falar na criatura soa gratuito e inorgânico, acontecendo apenas porque precisa acontecer para mover a trama para frente.

O pouco tempo dedicado à mitologia do monstro resulta em uma ameaça vaga, cujo método ou extensão dos poderes nunca é bem definido, criando a incômoda impressão de que “vale qualquer coisa” e a qualquer momento a trama pode simplesmente inventar uma nova habilidade para a criatura, diluindo a tensão ao invés de amplificá-la. Sim, eu sei que explicar demais a natureza de um monstro pode tornar tudo previsível demais, mas uma quantidade mínima de informação é necessária para que ao menos compreendamos de onde os ataques virão para que saibamos quando temer. Corrente do Mal (2014) é um ótimo exemplo de filme que explica o modus operandi do monstro e ainda assim o mantém cercado de mistério. Do jeito que é apresentado no filme, o Slender Man é tão vago que não chega a desenvolver uma personalidade própria, sendo uma mistura sem graça da Samara da franquia O Chamado com o Freddy dos filmes A Hora do Pesadelo.

A narrativa também faz pouco esforço para usar a natureza viral do personagem para produzir qualquer tipo de reflexão sobre nossa conduta na internet ou como o compartilhamento de conteúdos sensacionalistas na internet muitas vezes produz consequências severas fora do mundo virtual. Ao não aproveitar tudo que o Slender Man tinha de específico, talvez por temer não ser de bom gosto dada a tragédia real envolvendo o personagem, o filme se torna um terror derivativo com um bicho-papão genérico.

Não ajuda que as personagens do filme sejam desprovidas de qualquer traço discernível ou arco dramático. Elas não passam por nenhuma transformação, aprendizado ou não tem nenhuma motivação exceto sobreviver. A cidade na qual toda a trama se passa soa igualmente sem personalidade, já que o fato de jovens estarem desaparecendo ou enlouquecendo não parece ter impacto nenhum sobre o cotidiano da pequena e pacata cidade (que nunca é nomeada), diferente, por exemplo, de Pânico (1996) ou It: A Coisa (2017) no qual as mortes deixavam as pequenas cidades em estado de alerta.

Apesar de genérico, ocasionalmente o filme consegue criar imagens macabras o bastante para criar uma atmosfera de tensão a exemplo da perseguição na biblioteca envolvendo Wren (Joey King, de A Barraca do Beijo) ou boa parte das cenas na floresta. A música contribui para a criação dessa atmosfera, sendo sinistra sem soar intrusiva demais. A fotografia, por outro lado, pesa a mão no uso de sombras, constantemente colocando as personagens caminhando por ruas sem nenhuma iluminação, andando por suas casas à noite sem sequer tentar encontrar um interruptor e até mesmo corredores de hospitais são extremamente mal iluminados, criando a impressão de que ninguém ali paga a conta de luz e não de ambientes soturnos.

Slender Man: Pesadelo Sem Rosto não consegue fazer nada digno de nota com seu controverso personagem/meme, falhando em ser o “terror digital” que prometia, entregando um produto derivativo e sem personalidade.

Nota: 5/10

Trailer

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