quarta-feira, 22 de agosto de 2018

Crítica – Te Peguei!


Análise Crítica – Te Peguei!


Review – Te Peguei!
A comédia começou como um gênero predominantemente físico nos cinemas. Antes do advento sonoro, os filmes circunscritos no gênero faziam graça a partir de situações puramente físicas, com acrobacias, tombos, caretas e outras façanhas. Buster Keaton se tornou famoso pelas proezas físicas que fazia em suas comédias, o elenco de Os Três Patetas é célebre pelo encadeamento coreografado de tapas, socos e esbarrões. Mesmo depois da chegada do som síncrono tivemos comediantes que primavam pela fisicalidade como a corporalidade aparvalhada de Jerry Lewis ou a elasticidade facial de Jim Carrey em anos mais recentes. Eu falo tudo isso para dizer que este Te Peguei! tenta justamente ser uma comédia predominantemente física e é essa entrega ao encadeamento de situações físicas cheias de absurdo e exagero que tornam o filme tão divertido.

Levemente baseado em uma história real, a trama acompanha um grupo de amigos que há mais de trinta anos brinca da mesma partida de pega-pega, disputando a brincadeira todo mês de maio. Hogan (Ed Helms), Bob (Jon Hamm), Chilli (Jake Johnson) e Sable (Hannibal Buress) descobrem que Jerry (Jeremy Renner) irá se casar e deixará a brincadeira. Como Jerry nunca foi pego desde a infância, sendo o campeão invicto do jogo, os amigos decidem encontrar um jeito de finalmente pegá-lo.

Na prática é um filme de uma piada só, com a maioria das gags cômicas girando em torno dos esquemas absurdos dos personagens para tentar pegar Jerry, mas as perseguições são tão criativas e cheias de um senso de absurdo que elas nunca soam repetitivas. É difícil não rir ao ver Hogan disfarçado de velinha correndo atrás de Jerry ou a emboscada que o grupo faz na casa de Jerry. Além da criatividade, as cenas funcionam pela entrega e comprometimento do elenco com a fisicalidade exagerada que se esperaria de um grupo de adultos levando uma brincadeira de pega-pega a sério, Jeremy Renner inclusive quebrou os dois braços durante as gravações. O filme acerta ao evitar transformar seus personagens em meros adultos infantilizados caricaturais, mostrando como a brincadeira manteve a proximidade e a amizade entre eles ao longo de décadas, mesmo quando cada um foi viver em uma cidade diferente e se distanciou.

Há um senso genuíno de amizade entre os membros do elenco e qualquer adulto é capaz de simpatizar com a dificuldade em manter o contato com amigos de infância e estar presente na vida deles depois de adulto. Essa trama sobre amizade ajuda a calcar toda a maluquice que acontece em algum grau de realidade, nos lembrando que esses personagens são pessoas tentando manter de qualquer maneira os laços formados na juventude.

O elo fraco acaba sendo as personagens femininas, que ficam sempre à margem da trama. A exceção é a esposa de Hogan vivida por Isla Fisher com uma intensidade insana enquanto ajuda o marido em seus esquemas aloprados para pegar Jerry. A repórter interpretada por Annabelle Wallis (que esteve no fraco A Múmia) não tem muito a fazer além de servir como veículo para diálogos expositivos, ainda que ocasionalmente consiga arrancar risos com suas reações incrédulas aos extremos que os protagonistas estão dispostos a ir em sua brincadeira. Rashida Jones, por sua vez, é totalmente desperdiçada em uma personagem que não tem nada a fazer além de ser objeto de afeto de Bob e Chilli. Susan (Leslie Bibb), a noiva de Jerry, passa boa parte do filme presa ao clichê da megera castradora e, embora ela seja redimida por uma reviravolta próxima ao fim, a personagem não chega a render muito em termos cômicos.

Falando em reviravoltas, a revelação envolvendo Hogan no final chega de maneira muito súbita e sem a devida preparação ao longo da trama. Não há nenhum indício ao longo do filme do problema do personagem e quando nos é revelado o que está acontecendo com ele, o filme acaba rapidamente. Assim, ela acaba não tendo o impacto emocional ou repercussão que deveria.

Te Peguei! diverte pelo seu comprometimento com o humor físico, criatividade das perseguições e pelo genuíno senso de amizade que constrói entre seus personagens.

Nota: 7/10

Trailer


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