Miami Connection é daqueles filmes que é tão ruim, tão sem sentido
que acaba se tornando divertido de assistir. Se houvesse um mínimo de qualidade
seria algo genérico, esquecível e sem personalidade, mas é a ruindade que o
torna memorável.
A trama foca nos integrantes da
banda Dragon Sound, que são liderados por Mark (Y.K Kim) e praticam Tae-Kwon-Do
nas horas vagas. Um dos integrantes da banda, John (Vincent Hirsch), se envolve
com Jane (Kathy Collier), a irmã de Jeff (William Ergle), líder de uma gangue
de motoqueiros que trabalha junto com uma gangue de ninjas para traficar
cocaína na cidade. Jeff decide que a banda é uma ameaça e resolve eliminá-los.
Se vocês leram o parágrafo acima
com atenção, perceberão que há um salto lógico enorme na sequência de eventos.
Qual a razão de Jeff considerar a banda uma ameaça ao tráfico? Eles são só uma
banda que canta sobre amizade e acreditar nos próprios sonhos, nada do que eles
fazem representa uma ameaça para os negócios ou para Jane (na verdade, o fato
de Jeff ser um traficante tem mais potencial para por Jane em risco do que a
banda). Ah, você exclama, mas será que não é pelo risco da irmã contar para
eles sobre as atividades de Jeff? Bem, não, porque a Jane deixa claro em seus
diálogos que não sabe no que o irmão está envolvido, apenas que são coisas
sombrias. Então qual o motivo de Jeff querer tanto eliminar a banda? Bem, não
há um além da necessidade disso acontecer para mover a trama para frente.
Maniac, escrita por Patrick Sommervile (um dos roteiristas de The Leftovers) e dirigida por Cary
Fukunaga (que dirigiu a primeira temporada de True Detective), é uma minissérie estranha. Digo isso não só pela
premissa e estrutura narrativa, mas também pelo modo como ela embarca em
digressões longuíssimas que às vezes perdem de vista os temas principais da
trama. Nesse sentido, sua pulsão em ser esquisita é simultaneamente sua melhor
qualidade e seu pior problema e imagino que, em virtude disso, será um daqueles
produtos com reações extremadas, que você ou ama ou detesta.
A história se passa em um futuro
próximo. Annie (Emma Stone) tem problemas em lidar com um trauma do passado e
está viciada em uma droga experimental e consegue um meio de entrar em um teste
clínico para tentar obter mais da droga. Owen (Jonah Hill) é um jovem
esquizofrênico e filho mais novo de uma rica família. Seu pai pediu para que
ele testemunhe e minta em favor do irmão mais velho, Jed (Billy Magnussen),
acusado de assédio. Owen sabe que o irmão é culpado e quer fugir para não
precisar testemunhar, mas para conseguir dinheiro acaba indo parar no mesmo
teste clínico que Annie.
Crimes em Happytime começa como uma versão adulta de Uma Cilada Para Roger Rabbit (1988),
trocando desenhos animados por fantoches e colocando-os em situações não
apropriadas para o público infantil, usando palavrões, drogas e sexo. O
resultado, porém, acaba mais próximo de algo como Bright (2017), que não tem muito a dizer sobre o próprio universo
ou metáforas sociais que tenta traçar.
A narrativa acompanha o fantoche
Phillips (voz de Bill Baretta), um ex-policial que agora trabalha como detetive
particular. Um dia Phillips testemunha o assassinato de um famoso fantoche que
era parte do elenco de uma série de sucesso nos anos 90 e a polícia o pede para
ajudar na investigação ao lado de sua antiga parceira, a detetive Connie
Edwards (Melissa McCarthy).
O universo criado pela trama
concebe os fantoches como cidadãos de segunda classe, sempre subestimados por
serem pequenos e fofos, tratados como inferiores e incapazes. Poderia render
alguma metáfora social sobre preconceito, mas, tal como Bright, não vai além do lugar comum de falar sobre como o ser
humano tem dificuldade de lidar com o que é diferente. O desenvolvimento desses
temas também se perde pelo fato do caso investigado serem uma simples trama de
vingança, não servindo para reverberar as metáforas sobre sociedade e
preconceito que o texto inicialmente tenta emplacar.
Um Pequeno Favor é uma mistura estranha de suspense ao estilo Garota Exemplar (2014) e uma comédia
sobre o tédio e o lado sombrio da classe média suburbana dos Estados Unidos.
Parecem elementos que, em tese, seriam conflitantes demais para funcionar em
conjunto, mas o diretor Paul Feig, de Missão
Madrinha de Casamento (2011) e Caça-Fantasmas
(2016) consegue fazer funcionar essa combinação inusitada.
A trama é centrada em Stephanie
(Anna Kendrick), uma mãe viúva que cria o filho sozinha e tem como o único
passatempo seu vlog sobre a vida de
mãe. Um dia ela conhece Emily (Blake Lively), a mãe de um dos colegas de escola
de seu filho. Executiva em uma empresa de moda, Emily é praticamente o inverso
da certinha Stephanie, mas as duas acabam ficando amigas e trocam segredos. Um
dia, Emily desaparece misteriosamente e Stephanie resolve descobrir o que
aconteceu com a amiga.
Dizer mais sobre o que acontece
seria estragar a experiência, mas a partir desse momento na narrativa, o que
começou com um tom bastante cômico começa a ganhar contornos sombrios. Se os
primeiros minutos constroem comédia em cima da personalidade energética,
ingênua e aparentemente certinha de Stephanie, aos poucos vai se tornando um
suspense mais tradicional, ainda que não abra mão do humor, como na cena em que
Stephanie conversa com um policial na casa de Emily.
Não consigo encontrar outra
maneira de começar a falar de Popstar:
Sem Parar, Sem Limites além de dizer que é o melhor falso documentário
sobre música desde This is Spinal Tap
(1984). Assim como o filme de 84 dirigido por Rob Reiner, esta narrativa
comandada pelo grupo The Lonely Island (cujo principal integrante é o Andy
Samberg de Brooklyn Nine Nine)entende perfeitamente o cenário da
música, seus absurdos e seu jogo de vaidades.
A trama acompanha o músico Conner
(Andy Samberg), que parte para a carreira solo depois de fazer sucesso em uma boy band que formava com amigos de
infância. Seu primeiro disco foi um mega sucesso e ele está prestes a lançar um
segundo, mas o resultado sai abaixo do esperado. Tudo é contado com uma
estrutura e modo de filmar que são bem típicos de documentários sobre músicos,
com direito a imagens de arquivo que reproduzem o visual de VHS velho e
entrevistas com músicos famosos interpretando a si mesmos como Mariah Carey, 50
Cent e Ringo Starr.
É uma história de ascensão, queda
e reparação bem típica deste tipo de narrativa biográfica (ficcional ou
documental), mas contada com um senso irônico sobre todo esse universo musical.
O filme mostra como os bastidores do pop, empresários e os próprios músicos
estão mais interessados em se manter na mídia do que na música que produzem e o
desespero por manter a relevância os leva a criar situações polêmicas para
atrair a atenção midiática, como quando Conner vai ao banheiro na casa de Anne
Frank.
Fui assistir Buscando... achando que seria mais um desses filmes que usa o
formato de ser contado pela tela de um computador para disfarçar uma narrativa
inócua, personagens desinteressantes e produção tosca tal qual Amizade Desfeita (2015). O que
encontrei, no entanto, foi um competente suspense que tem muito a dizer sobre
nosso comportamento online.
A narrativa segue David (John
Cho), um pai viúvo que se distanciou da filha, Margot (Michelle La) depois da
morte da esposa. Quando Margot desaparece misteriosamente, David resolve checar
o computador da filha para buscar informações que possam ajudar na investigação
policial liderada pela detetive Vick (Debra Messing). Aos poucos, David vai
descobrindo que sabia muito pouco sobre a vida da filha.
O começo conta toda a vida de
Margot desde a infância usando quase que exclusivamente meios visuais, com
vídeos, e-mails e postagens em redes sociais para narrar a relação da garota
com o pai. O filme mostra como os computadores se tornaram praticamente
extensões das nossas mentes, servindo de repositórios da nossa memória (com
fotos e vídeos), do nosso cotidiano (através das agendas), círculos de
convivência (através de redes sociais) ou dos nossos pensamentos,
principalmente pelo modo como os personagens digitam algo e depois apagam,
denotando a hesitação e incerteza deles. O interessante é que o filme concebe
esse panóptico do mundo digital como uma espécie de paradoxo: apesar de todos
poderem ver e ser vistos por todo mundo, ninguém realmente olha um para o
outro.
Filme mais recente da parceria do
diretor Peter Berg e do ator Mark Wahlberg, que juntos fizeram O Grande Herói (2015), Horizonte Profundo(2016) e O Dia do Atentado (2017), este 22 Milhas se pretende a uma mistura
entre Sicario (2015) e Operação Invasão (2011). O problema é
que 22 Milhas não tem o apuro visual
do primeiro nem as cenas de ação do segundo.
A trama acompanha um grupo
paramilitar liderado por James Silva (Mark Wahlberg). Em uma missão para a CIA,
Silva precisa localizar material radioativo roubado para impedir que ele seja
vendido a terroristas. Uma pista surge quando Li Noor (Iko Uwais), um oficial
de um país asiático, afirma ter a localização do material, mas pede para ser
retirado de seu país antes de entregar os dados para a equipe de Silva. Assim,
os protagonistas precisam levar Li até o aeroporto, protegendo-o das pessoas
que o consideram um traidor.
Já nos primeiros minutos fica
evidente a câmera chacoalhante e montagem ultra fragmentada, cortando a cada
dois segundos, que tornam 22 Milhas
insuportável de assistir. Incapaz de estabelecer qualquer senso de coesão
espacial ou temporal, o filme sequer consegue deixar claro os eventos de sua
simplória narrativa e precisa constantemente alternar as cenas com flashfowards de Silva testemunhando em
uma audiência nas quais ele basicamente explica em longos diálogos o que acabou
de acontecer.
A cerimônia de entrega do Emmy, premiação máxima da televisão dos Estados Unidos, aconteceu ontem, 17 de setembro. A cerimônia sagrou Game of Thrones como melhor série de drama, enquanto que The Marvelous Mrs. Maisel venceu como melhor série de comédia. No campo das minisséries, o vencedor foi American Crime Story: The Assassination of Gianni Versace, que também faturou o prêmio de melhor ator para Darren Criss. A série Westworld venceu na categoria de melhor atriz coadjuvante com Thadie Newton, que interpreta a Maeve, enquanto que o ator Matthew Rhys finalmente foi reconhecido por seu trabalho na série The Americans. Confiram abaixo a lista completa de indicados com os vencedores em negrito.
A quarta temporada de BoJack Horsemanse tornou marcante ao
explorar o traumático passado familiar do protagonista e no impacto negativo de
relação dele com os pais. Esta quinta temporada, por sua vez, ganha força ao
explorar como a conduta destrutiva de BoJack afeta todos ao redor dele e como
até aqui a maioria dos personagens foi permissivo com as ações do protagonista.
A narrativa da temporada é
centrada na nova série estrelada por BoJack (Will Arnett) na qual ele
interpreta um policial durão, traumatizado e abusivo. Durante as gravações BoJack
se envolve com Gina (Stephanie Beatriz, a Rosa de Brooklyn Nine Nine), sua co-estrela na série dentro da série. Diane
(Alison Brie) participa como roteirista, Princess Carolyn (Amy Sedaris) é uma
das produtoras e inexplicavelmente Todd (Aaron Paul) se torna um dos executivos
da empresa de streaming responsável
pela série protagonizada por BoJack. Assim, a trama consegue unir todos os
personagens em um mesmo espaço, evitando a natureza fragmentada da temporada
anterior.
A escolha de contar a produção de
uma série dentro da série serve como veículo para comentar sobre o momento da
produção televisiva dos EUA e a nova “era de ouro” na qual ela se encontra (ou Peak TV como dizem os veículos de lá),
cheia de séries sombrias e pessimistas protagonizada por homens anti-heróis de
comportamento questionável. Com isso, a quinta temporada zoa essa tendência
televisiva de tratar tudo que é sisudo, violento e sexualizado como um sinônimo
de conteúdo maduro, complexo ou de qualidade. Flip (Rami Malek), o showrunner da série dentro série, fica a
todo momento dizendo coisas do tipo “a escuridão é uma metáfora para
escuridão”, construindo um olhar irônico sobre como essa tendência da televisão
virou um padrão repetido no piloto automático.
Fazia tempo que os personagens da
Marvel não recebiam um jogo digno de seu potencial, mas felizmente o exclusivo
para Playstation 4 Spider-Man chega
para mudar isso e faz pelo Amigão da Vizinhança o que os games da série Arkham
fizeram pelo Batman.
Na trama, Peter Parker já é o
Homem-Aranha há oito anos. Ele está separado de Mary Jane e agora trabalha como
um cientista. Sua vida tanto parece estar entrando nos eixos, principalmente
quando surge a oportunidade de prender Wilson Fisk, o Rei do Crime, e trazer um
pouco de paz para a cidade de Nova Iorque. A prisão de Fisk, no entanto, acaba
dando início a uma disputa de gangues por controle da cidade e o surgimento de
novos vilões que irão testar ao limite as habilidades de Peter.
A primeira coisa a se notar é
como jogo da desenvolvedora Insomniac, responsável pela franquia Ratchet & Clank, acerta a sensação de ser o Homem-Aranha. Se balançar entre os prédios
usando as teias é quase como uma veloz dança aérea conforme a física realista
do movimento pendular muda sua velocidade e altura do salto dependendo do
momento em que você solta a teia. A câmera se aproxima e se afasta do
personagem para dar essa sensação de ganho de velocidade e conforme progredimos
no jogo, adquirimos novas ferramentas para explorar Nova Iorque ainda mais
rápido.
Não estava muito empolgado para
conferir Hotel Artemis. O material de
divulgação vendia algo incomodamente similar ao universo do primeiro e segundo John Wick, com um hotel que servia de
base para supercriminosos, fornecendo cuidados médicos e um porto seguro a
eles. O resultado final acaba sendo menos derivativo do que eu esperava, mas
ainda assim não aproveita muito do universo que cria.
A trama se passa em um futuro
próximo tomado por instabilidade política e social, girando em torno do titular
Hotel Artemis, que é gerenciado pela Enfermeira (Jodie Foster). O hotel serve
como esconderijo para criminosos que precisam em cuidados médicos e a narrativa
mostra uma noite na qual o estabelecimento fica cheio em virtude de protestos e
crimes acontecendo em Los Angeles. Com muitos criminosos confinados no diminuto
espaço, as tensões parecem crescer entre eles.
O cenário futurista e distópico
impede que o cenário soe como um plágio descarado do Hotel Continental de John Wick e o diretor Drew Pearce
consegue imprimir uma personalidade e estética própria ao local que o distancia
de uma mera cópia, ainda que parta de uma premissa similar. O principal
problema, no entanto, é que todo universo criado no filme, em especial sua
ambientação distópica, acaba fazendo pouca diferença na história. Tudo poderia
se passar nos dias atuais sem muita perda.
Outra questão é que a trama se
move muito rápido e dá pouco tempo para que essa ambientação ou os personagens
que nela vivem sejam plenamente desenvolvidos. Muitos personagens parecem
existir ou agir meramente para mover a trama para frente, como Morgan (Jenny
Slate), além de muita coisa acontecer por puro acaso ou necessidade do roteiro.
Apesar dos personagens serem
unidimensionais, atores como Sterling K. Brown, Charlie Day e Sofia Boutella
conseguem dar a eles carisma o suficiente para que eles não se tornem
aborrecidos. Outros atores, por outro lado, acabam tendo pouco espaço para
fazer qualquer coisa marcante como é o caso de Zachary Quinto e Jeff Goldblum.
Na verdade, toda a tensão que o filme parece estar construindo entre os
diferentes personagens nunca se concretiza plenamente.
Quem carrega o filme, porém, é
Jodie Foster. Retornando às telas depois de cinco anos sem trabalhar como
atriz, Foster dá à enfermeira um semblante constantemente cansado. De início
imaginamos que é resultado do desgaste físico e mental de seu trabalho, mas aos
poucos vamos percebendo que seu cansaço é muito mais emocional, fruto de um
trauma do passado. Ela usa também sua linguagem corporal para comunicar muito
da personalidade da personagem, com passos rápidos, mas curtos, denotando a
energia e controle da enfermeira. O filme ainda entrega algumas boas cenas de
ação, em especial a luta no corredor envolvendo a assassina Nice (Sofia
Boutella), que ajudam a evidenciar a natureza brutal e estilizada daquele
universo.
Hotel Artemis acaba sendo menos genérico do que eu imaginava, mas trata
seus personagens e universo de modo muito superficial para realizar seu potencial,
a despeito da ação estilizada e do trabalho de Jodie Foster.
Apesar de existir há mais de 30
anos e ao longo de seis filmes (contando este e os dois Alien vs Predador), a franquia Predador nunca conseguiu produzir
nada que superasse o primeiro filme estrelado por Arnold Schwarzenegger. Pois
este O Predador, dirigido por Shane
Black (que atuou no primeiro filme como o militar Hawkins), tenta devolver a
franquia a sua glória oitentista.
A trama começa quando o atirador
de elite Quinn Mackenzie (Boyd Holbrook) tem uma missão interrompida por uma
espaçonave trazendo um Predador. Ele consegue escapar com parte do equipamento
da criatura e, sabendo que o governo tentará encobrir tudo, envia a tecnologia
alienígena para uma caixa postal em seu nome. A encomenda, no entanto, acaba
sendo entregue na casa dele e seu filho autista, Rory (Jacob Tremblay), que
ativa o equipamento, atraindo a atenção das criaturas. Agora Quinn precisa
correr até o filho e chegar até ele antes dos alienígenas e dos agentes
governamentais liderados por Traeger (Sterling K. Brown), que estão dispostos a
tudo para manter toda a questão oculta.
Desde o início é possível
perceber que o filme investe seus personagens da mesma postura excessiva de
machão dos filmes de ação oitentistas, com direito a constantes frases de
efeito nos diálogos. O texto tenta contornar a pura celebração desse modelo
antiquado (e talvez anacrônico) de masculinidade ao tornar o esquadrão de Quinn
um bando de ex-militares mentalmente instáveis. Parece haver aí um comentário
subjacente sobre como essa exaltação à macheza e ao militarismo produz pessoas
pouco saudáveis, mas, ao mesmo tempo, as tentativas do filme em extrair humor
dos problemas mentais desses personagens nem sempre funciona. Estresse
Pós-Traumático ou Síndrome de Tourette são condições severas que afligem muita
gente e tratar tudo isso como um mero veículo para riso soa mais constrangedor
do que efetivamente engraçado.
A internação (e posterior morte)
de Tancredo Neves às portas de sua posse como presidente do Brasil, marcando o
fim do governo militar, foi alvo de muitas especulações e teorias
conspiratórias ao longo dos anos. Alguns dizem que ele não estava doente, que tinha
sido alvejado, outros dizem que ele já estava morto. Enfim, toda sorte de
teoria da conspiração existe ao redor da morte do nosso quase-presidente que
foi substituído pelo seu vice, José Sarney. O
Paciente: O Caso Tancredo Neves, baseado no livro homônimo de Luis Mir,
visa entender o que aconteceu nos bastidores do caso e os fatores que levaram à
morte de Tacredo Neves (Othon Bastos).
A trama funciona como uma mistura
entre as séries The West Wing e House, combinando a intriga dos
bastidores do poder com um mistério médico. É um formato que tinha tudo para
dar errado considerando que já entramos no cinema sabendo o final e isso
poderia diluir o suspense, mas felizmente isso não acontece e o filme é hábil
em trabalhar o jogo de intrigas e egos entre as equipes de assessores e
médicos.
A rica Nora (Drica Moraes)
organiza um jantar em sua casa para comemorar os dez anos de casamento de seus
amigos Mauro (Rodrigo Bolzan) e Bia (Mariana Lima). Assim que Plínio (Caco
Ciocler), marido de Nora, chega em casa bêbado, fica evidente que alguma ruim
está acontecendo tanto com o casal de anfitriões quanto o casal de
aniversariantes. Conforme a noite avança e os demais convidados vão chegando,
descobrimos que Mauro está para ser preso depois de ter publicado uma carta
aberta desafiando o então presidente Fernando Collor. No entanto, parece que
Nora não reuniu todos ali para se solidarizarem com o amigo.
A premissa é levemente baseada no
incidente envolvendo o jornalista Otavio Frias Filho, que em 1991 publicou uma
carta aberta contra Collor que o levou a ser processado pelo então presidente. O Banquete, no entanto, não faz nada com
essa ambientação “de época” ou com o momento histórico/político no qual sua
trama se passa. Essa história poderia ser situada em qualquer época e Mauro
poderia estar prestes a ser preso por qualquer crime que não faria a menor
diferença. Assim, o pano de fundo histórico soa despropositado e vazio, afinal
não há sentido em fazer questão de situar sua narrativa em um momento tão
específico da história sem ter nada a dizer sobre esse recorte temporal.
A primeira temporada de Punho de Ferrofoi de longe a pior das
séries da Marvel na Netflix, decepcionando tanto em termos de narrativa quanto
na ação. Essa segunda temporada até consegue melhorar muitos problemas da
anterior, conseguindo ser minimamente assistível, mas ainda é a mais fraca das
produções da Casa de Ideias para a Netflix.
A temporada começa com Danny
(Finn Jones), cumprindo a promessa que fez para Matt Murdock (Charlie Cox) no
final de Os Defensores de manter a
cidade segura na ausência do Demolidor. Danny também faz isso para buscar um
novo propósito para si agora que sua missão de destruir o Tentáculo foi
concluída. Novas ameaças surgem no horizonte quando Joy Meachum (Jessica
Stroup) se alia a Davos (Sacha Dawan) para se vingarem de Danny, recorrendo
também à mercenária Mary Walker (Alice Eve).
A primeira coisa em que é possível
detectar uma melhora é no tratamento a Danny. Se no ano de estreia ele era um
moleque mimado insuportável que queria tudo do jeito dele e choramingava quando
não conseguia o que queria, agora ele é um sujeito mais humilde, preocupado em
construir uma vida ao lado de Colleen (Jessica Henwick), manter a cidade segura
e promover a paz entre as facções das Tríades de Chinatown para evitar um
confronto. É definitivamente uma melhora, tornando-o um personagem mais fácil
de simpatizar e dando a ele conflitos que o humanizam, mas tal qual a primeira
temporada ele ainda soa como alguém menos interessante que outros personagens.
Quando escrevi sobre a terceira temporada de How to Get Away With Murder
mencionei que a série estava se perdendo em tramas mal concebidas e soluções
desonestas, talvez indicando que seu fôlego criativo estava acabando. Essa
quarta temporada, no entanto, mostra que a série ainda pode render, ainda que
não atinja o alto nível dos dois primeiros anos.
A trama começa com Annalise
(Viola Davis) tentando reconstruir sua vida depois dos eventos da temporada
anterior. Ela demite todos os seus estagiários e funcionários, incluindo a
dedicada Bonnie (Liza Weil), e decide reconstruir sua carreira sozinha. A
decisão deixa Connor (Jack Falahee), Michaela (Aja Naomi King), Asher (Matt
McGorry) e Laurel (Karla Souza) longe dos problemas dela, mas isso não
significa que suas vidas ficarão tranquilas. Como Laurel sabe que foi seu pai o
responsável pela morte de Wes (Alfred Enoch), ela pede ajuda aos colegas para
conseguir provas do crime.
A mudança na dinâmica dos
personagens já no primeiro episódio ajuda a dar um frescor à narrativa ao
quebrar o molde que vinha sendo duramente seguido até então, funcionando quase
como um leve reboot. A alteração
também permite explorar facetas dos personagens que até então não tinham sido
exploradas, em especial ao tentar entender quem são essas pessoas quando não
estão sob a influência de Annalise. Isso faz os personagens se perguntarem o
que eles querem ser enquanto advogados e lhes dá novos direcionamentos.
É bastante curioso que a mesma
Warner que tem dificuldade para consolidar o universo compartilhado dos heróis
da DC tenha conseguido há alguns anos emplacar seu universo compartilhado de
filmes de terror derivados dos dois Invocação
do Mal. Depois dos dois filmes sobre a boneca Annabelle, agora é a vez de A Freira, protagonizado pela sinistra
aparição de Invocação do Mal 2
(2016).
A narrativa se passa na década de
50 em um misterioso convento no interior da Romênia. Quando uma freira do local
é encontrada morta sob circunstâncias misteriosas, o vaticano envia o padre
Burke (Damian Bichir) e a freira Irene (Taissa Farmiga) para investigar os
fenômenos. Os dois tem a ajuda de Frenchie (Jonas Bloquet), um fazendeiro local
familiarizado com as lendas envolvendo o convento.
O diretor Corin Hardy (do correto A Maldição da Floresta) investe em contrastes
entre luz e sombra para criar sua atmosfera de terror, com a silhueta sombria
da freira demoníaca se movimentando pelos espaços ou se confundindo com o
cenário, explorando a profundidade de campo para criar a impressão que a
criatura pode estar em qualquer lugar. Em alguns momentos, o terror vem da
claustrofobia dos corredores apertados ou espaços diminutos como a cena em que
o padre Burke fica preso no caixão.
Eu não esperava muita coisa dessa
primeira temporada de Great News.
Pelo material de divulgação parecia uma sitcom
antiquada baseada em uma premissa batida, mas acabei me surpreendendo com o
quanto a série consegue ir além do seu começo aparentemente banal para forjar
uma identidade bem singular.
Na trama, Katie (Briga Heelan)
trabalha como produtora de um telejornal e tenta avançar na carreira. Os
problemas dela começam quando a mãe, Carol (Andrea Martin), resolve cursar uma
faculdade de jornalismo e começa a estagiar na mesma emissora em que Katie
trabalha. Obviamente, a presença de Carol causa muitos constrangimentos a
Katie, já que Carol não consegue separar o pessoal do profissional.
Parece algo saído de uma sitcom de décadas atrás, já que a ideia
do adulto que é envergonhado pelos pais em seu ambiente de trabalho ou na
frente dos amigos foi explorada à exaustão. O episódio piloto faz pouco para
afastar essa impressão de uma comédia feita em linha montagem reciclando um
monte de piadas velhas e é possível que muita gente desista da série por conta
desse começo genérico, mas para quem continuar acompanhando a experiência acaba
valendo à pena.
Depois de um competente início, a
segunda temporada de Ozark traz ainda
mais tensão, suspense e dilemas morais para os esquemas criminosos da família
Byrde. Cheguei a pensar que seria mais no mesmo, mas neste segundo ano, os
membros da família enfrentam constantes desafios que os levam ao limite.
A temporada começa no ponto em
que a anterior terminou, com Marty (Jason Bateman) tendo que explicar a morte
de Del (Esai Morales) para o cartel depois que Jacob (Peter Mullan) e Darlene
Snell (Lisa Emery) o matam por puro despeito. Marty se compromete em construir
um cassino em seis meses para poder lavar tanto o dinheiro do cartel quanto o
dos Snell. Aprovar o cassino, no entanto, não será tão fácil quanto parece, já
que além de manipular políticos para passarem as leis necessárias, ele também
precisará lidar com a máfia de Kansas City. Como se esses obstáculos não fossem
o suficiente, Marty continua na mira do agente Petty (Jason Butler Harner),
disposto a tudo para eliminar o cartel. Outra complicação é a saída do pai de
Ruth (Julia Garner) da cadeia, já que ele se torna obcecado em roubar o
dinheiro de Marty.