terça-feira, 18 de setembro de 2018

Crítica - 22 Milhas

Análise Crítica - 22 Milhas


Review - 22 Milhas
Filme mais recente da parceria do diretor Peter Berg e do ator Mark Wahlberg, que juntos fizeram O Grande Herói (2015), Horizonte Profundo (2016) e O Dia do Atentado (2017), este 22 Milhas se pretende a uma mistura entre Sicario (2015) e Operação Invasão (2011). O problema é que 22 Milhas não tem o apuro visual do primeiro nem as cenas de ação do segundo.

A trama acompanha um grupo paramilitar liderado por James Silva (Mark Wahlberg). Em uma missão para a CIA, Silva precisa localizar material radioativo roubado para impedir que ele seja vendido a terroristas. Uma pista surge quando Li Noor (Iko Uwais), um oficial de um país asiático, afirma ter a localização do material, mas pede para ser retirado de seu país antes de entregar os dados para a equipe de Silva. Assim, os protagonistas precisam levar Li até o aeroporto, protegendo-o das pessoas que o consideram um traidor.

Já nos primeiros minutos fica evidente a câmera chacoalhante e montagem ultra fragmentada, cortando a cada dois segundos, que tornam 22 Milhas insuportável de assistir. Incapaz de estabelecer qualquer senso de coesão espacial ou temporal, o filme sequer consegue deixar claro os eventos de sua simplória narrativa e precisa constantemente alternar as cenas com flashfowards de Silva testemunhando em uma audiência nas quais ele basicamente explica em longos diálogos o que acabou de acontecer.


Talvez isso tenha sido feito por ciência da imensa bagunça dramatúrgica do filme ou talvez esteja presente só para inflar a minutagem e dar o tempo de um longa metragem, considerando que sem os flashfowards ele seria ainda menor que seus curtos noventa minutos. Em outra cena, lá pela metade da projeção, o filme interrompe tudo que está acontecendo para nos mostrar o figurão da CIA interpretado por John Malkovich explicando tudo que aconteceu até então para equipe. Ou o filme acha o que público é incapaz de entender algo tão simples ou sabe da própria incompetência de sua montagem excessiva e câmera trépida em comunicar sua narrativa que enfia essas cenas expositivas pouco orgânicas o tempo todo para tentar resolver o problema. A trama ainda tenta surpreender com uma reviravolta nos últimos minutos, mas ela é bastante previsível.

Não ter trama ou ter uma muito confusa nem é o maior problema. Afinal, esse é o tipo de filme que não vamos assistir pela história e sim pelo espetáculo da ação. Tudo que 22 Milhas precisava entregar eram personagens carismáticos e uma pancadaria empolgante, mas fracassa até nisso.

O texto diz que Silva é um sujeito extremamente brilhante, mas nunca cria situações em que ele se mostre como esse gênio tático ou grande estrategista, ao invés disso, a “inteligência” do personagem é apresentada em longos diálogos nos quais ele cita eventos históricos e curiosidades culturais que parecem puxadas direto da Wikipedia como se isso fosse sinônimo de capacidade mental.

Não ajuda que a interpretação de Wahlberg confunda intensidade com excesso, fazendo o personagem estar sempre com olhos arregalados e berrando suas (longas) falas o mais alto e rápido possível. O resultado é que Silva mais parece um drogado histérico patético ao invés de um militar genial e seus duradouros berros rapidamente cansam os ouvidos e dão vontade de deixar a sala de cinema. É, de longe, um dos piores trabalhos da carreira do ator e olha que ele fez dois Transformers.

O resto da equipe não é lá muito interessante nem tem qualquer desenvolvimento. Alice (Lauren Cohan) está numa batalha judicial pela custódia da filha, mas aparentemente tem dificuldades por falar palavrões o tempo todo. O resto dos personagens sequer tem um mínimo traço discernível além de rosnar e falar palavrões o tempo todo, soando mais como a ideia de um pré-adolescente de 11 anos de como sujeitos durões se comportam do que indivíduos plenamente realizados.

Se o texto e a direção ao menos fossem autoconscientes da natureza exagerada de seus personagens (como faz a franquia Velozes e Furiosos), talvez fosse possível extrair alguma diversão, mas o filme cai na besteira de achar que essas caricaturas toscas se prestam a um drama sério. O único personagem com um mínimo de carisma é o Li de Uwais, que acerta ao injetar no delator uma aura de mistério e ambiguidade que nos deixa incertos quanto aos seus planos e intenções.

Já a ação traz a mesma câmera trépida e montagem feita para provocar epilepsia que é completamente incapaz de mostrar quem está aonde, fazendo o quê e em relação a quem. Não conseguindo dar qualquer senso de tempo ou espaço para ação, apresentando tudo como fragmentos desconexos e quase incompreensíveis. De nada adianta construir essas cenas com extrema violência gráfica se o filme não permite que o público veja essa violência, cortando a cada segundo. Ė um desperdício de tempo e dinheiro querer que vejamos as consequências brutais de cada embate e ainda assim mal nos mostrar essas consequências. Do mesmo modo, de nada adianta escalar lutadores hábeis como Iko Uwais (quem viu os dois Operação Invasão sabe do que ele é capaz) ou Ronda Rousey e não dar a eles o tempo e o espaço para explorar as competências marciais deles, prendendo-os em cenas tão picotadas que poderiam ser feitas por qualquer um, desperdiçando e desrespeitando os talentos de ambos.

22 Milhas é quase uma obra de verve shakespeariana, no sentido que é uma história cheia de som e fúria, contada por um idiota e que não significa nada. Um ataque brutal aos sentidos do espectador que mais parece uma coleção do material bruto filmado, ou um primeiro corte, do que uma obra finalizada e montada com uma intenção clara do que desejava passar.

Nota: 2/10

Trailer

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