Filme mais recente da parceria do
diretor Peter Berg e do ator Mark Wahlberg, que juntos fizeram O Grande Herói (2015), Horizonte Profundo (2016) e O Dia do Atentado (2017), este 22 Milhas se pretende a uma mistura
entre Sicario (2015) e Operação Invasão (2011). O problema é
que 22 Milhas não tem o apuro visual
do primeiro nem as cenas de ação do segundo.
A trama acompanha um grupo
paramilitar liderado por James Silva (Mark Wahlberg). Em uma missão para a CIA,
Silva precisa localizar material radioativo roubado para impedir que ele seja
vendido a terroristas. Uma pista surge quando Li Noor (Iko Uwais), um oficial
de um país asiático, afirma ter a localização do material, mas pede para ser
retirado de seu país antes de entregar os dados para a equipe de Silva. Assim,
os protagonistas precisam levar Li até o aeroporto, protegendo-o das pessoas
que o consideram um traidor.
Já nos primeiros minutos fica
evidente a câmera chacoalhante e montagem ultra fragmentada, cortando a cada
dois segundos, que tornam 22 Milhas
insuportável de assistir. Incapaz de estabelecer qualquer senso de coesão
espacial ou temporal, o filme sequer consegue deixar claro os eventos de sua
simplória narrativa e precisa constantemente alternar as cenas com flashfowards de Silva testemunhando em
uma audiência nas quais ele basicamente explica em longos diálogos o que acabou
de acontecer.
Talvez isso tenha sido feito por
ciência da imensa bagunça dramatúrgica do filme ou talvez esteja presente só
para inflar a minutagem e dar o tempo de um longa metragem, considerando que
sem os flashfowards ele seria ainda
menor que seus curtos noventa minutos. Em outra cena, lá pela metade da
projeção, o filme interrompe tudo que está acontecendo para nos mostrar o
figurão da CIA interpretado por John Malkovich explicando tudo que aconteceu
até então para equipe. Ou o filme acha o que público é incapaz de entender algo
tão simples ou sabe da própria incompetência de sua montagem excessiva e câmera
trépida em comunicar sua narrativa que enfia essas cenas expositivas pouco
orgânicas o tempo todo para tentar resolver o problema. A trama ainda tenta
surpreender com uma reviravolta nos últimos minutos, mas ela é bastante
previsível.
Não ter trama ou ter uma muito
confusa nem é o maior problema. Afinal, esse é o tipo de filme que não vamos
assistir pela história e sim pelo espetáculo da ação. Tudo que 22 Milhas precisava entregar eram
personagens carismáticos e uma pancadaria empolgante, mas fracassa até nisso.
O texto diz que Silva é um
sujeito extremamente brilhante, mas nunca cria situações em que ele se mostre
como esse gênio tático ou grande estrategista, ao invés disso, a “inteligência”
do personagem é apresentada em longos diálogos nos quais ele cita eventos
históricos e curiosidades culturais que parecem puxadas direto da Wikipedia
como se isso fosse sinônimo de capacidade mental.
Não ajuda que a interpretação de
Wahlberg confunda intensidade com excesso, fazendo o personagem estar sempre
com olhos arregalados e berrando suas (longas) falas o mais alto e rápido
possível. O resultado é que Silva mais parece um drogado histérico patético ao
invés de um militar genial e seus duradouros berros rapidamente cansam os
ouvidos e dão vontade de deixar a sala de cinema. É, de longe, um dos piores
trabalhos da carreira do ator e olha que ele fez dois Transformers.
O resto da equipe não é lá muito
interessante nem tem qualquer desenvolvimento. Alice (Lauren Cohan) está numa
batalha judicial pela custódia da filha, mas aparentemente tem dificuldades por
falar palavrões o tempo todo. O resto dos personagens sequer tem um mínimo
traço discernível além de rosnar e falar palavrões o tempo todo, soando mais
como a ideia de um pré-adolescente de 11 anos de como sujeitos durões se comportam
do que indivíduos plenamente realizados.
Se o texto e a direção ao menos
fossem autoconscientes da natureza exagerada de seus personagens (como faz a
franquia Velozes e Furiosos), talvez
fosse possível extrair alguma diversão, mas o filme cai na besteira de achar
que essas caricaturas toscas se prestam a um drama sério. O único personagem
com um mínimo de carisma é o Li de Uwais, que acerta ao injetar no delator uma
aura de mistério e ambiguidade que nos deixa incertos quanto aos seus planos e
intenções.
Já a ação traz a mesma câmera
trépida e montagem feita para provocar epilepsia que é completamente incapaz de
mostrar quem está aonde, fazendo o quê e em relação a quem. Não conseguindo dar
qualquer senso de tempo ou espaço para ação, apresentando tudo como fragmentos
desconexos e quase incompreensíveis. De nada adianta construir essas cenas com
extrema violência gráfica se o filme não permite que o público veja essa
violência, cortando a cada segundo. Ė um desperdício de tempo e dinheiro querer
que vejamos as consequências brutais de cada embate e ainda assim mal nos
mostrar essas consequências. Do mesmo modo, de nada adianta escalar lutadores
hábeis como Iko Uwais (quem viu os dois Operação
Invasão sabe do que ele é capaz) ou Ronda Rousey e não dar a eles o tempo e
o espaço para explorar as competências marciais deles, prendendo-os em cenas
tão picotadas que poderiam ser feitas por qualquer um, desperdiçando e
desrespeitando os talentos de ambos.
22 Milhas é quase uma obra de verve shakespeariana, no sentido que
é uma história cheia de som e fúria, contada por um idiota e que não significa
nada. Um ataque brutal aos sentidos do espectador que mais parece uma coleção
do material bruto filmado, ou um primeiro corte, do que uma obra finalizada e
montada com uma intenção clara do que desejava passar.
Nota: 2/10
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