Crimes em Happytime começa como uma versão adulta de Uma Cilada Para Roger Rabbit (1988),
trocando desenhos animados por fantoches e colocando-os em situações não
apropriadas para o público infantil, usando palavrões, drogas e sexo. O
resultado, porém, acaba mais próximo de algo como Bright (2017), que não tem muito a dizer sobre o próprio universo
ou metáforas sociais que tenta traçar.
A narrativa acompanha o fantoche
Phillips (voz de Bill Baretta), um ex-policial que agora trabalha como detetive
particular. Um dia Phillips testemunha o assassinato de um famoso fantoche que
era parte do elenco de uma série de sucesso nos anos 90 e a polícia o pede para
ajudar na investigação ao lado de sua antiga parceira, a detetive Connie
Edwards (Melissa McCarthy).
O universo criado pela trama
concebe os fantoches como cidadãos de segunda classe, sempre subestimados por
serem pequenos e fofos, tratados como inferiores e incapazes. Poderia render
alguma metáfora social sobre preconceito, mas, tal como Bright, não vai além do lugar comum de falar sobre como o ser
humano tem dificuldade de lidar com o que é diferente. O desenvolvimento desses
temas também se perde pelo fato do caso investigado serem uma simples trama de
vingança, não servindo para reverberar as metáforas sobre sociedade e
preconceito que o texto inicialmente tenta emplacar.
Seria possível também entender a
construção desse universo como um comentário sobre o quanto o uso de fantoches
é subestimado pelo cinema e televisão, sempre tratando-os como um elemento que
não pode pertencer a outro domínio que não o da produção infantil e o filme tenta
mostrar que fantoches podem ser usados em praticamente qualquer tipo de
narrativa e não há nada de inerentemente infantil nesses bonecos. Mesmo olhando
por esse lado, o diretor Brian Henson, filho do criador dos Muppets, Jim
Henson, tem pouco a dizer sobre a possibilidade do uso de fantoches que Matt
Stone e Trey Parker (criadores de South Park) já não tenham dito no hilário Team
America: Detonando o Mundo (2004) há mais de dez anos atrás.
Boa parte das piadas gira em
torno de colocar os fantoches para fazerem coisas pouco apropriadas e isso
rende alguns momentos divertidos pela criatividade em tentar imaginar como
funcionaria um mundo em que bonecos são reais. Um exemplo é a cena de sexo
protagonizada por Phillips que nos mostra o que acontece quando um fantoche
ejacula. Por outro lado, durante boa parte do tempo o filme parece crer que
basta vermos um fantoche falando palavrão ou usando drogas para rirmos e isso
fica cansativo bem rápido. As repetidas piadas envolvendo a conduta
masculinizada de Connie também cansam e rapidamente se tornam entediantes. No
fim das contas, é uma daquelas comédias em que as melhores piadas estão no
trailer.
Não ajuda que o arco narrativo de
Phillips seja o lugar comum do policial traumatizado por um erro do passado,
além dele e Connie serem a típica dupla de personalidades opostas que está em
constante atrito. Ao invés de tentar subverter esses clichês, o filme
simplesmente adere a eles confiando que o fato desse tipo de história estar
sendo protagonizada por fantoches é o suficiente para oferecer algo diferente a
esses lugares-comuns velhos.
Crimes em Happytime poderia ter sido uma ótima sátira social e de filmes policiais, mas se contenta em ficar na superfície desses temas, preferindo investir em um humor repetitivo e adesão desnecessária a clichês.
Nota: 4/10
Trailer
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