Eu não esperava muita coisa dessa
primeira temporada de Great News.
Pelo material de divulgação parecia uma sitcom
antiquada baseada em uma premissa batida, mas acabei me surpreendendo com o
quanto a série consegue ir além do seu começo aparentemente banal para forjar
uma identidade bem singular.
Na trama, Katie (Briga Heelan)
trabalha como produtora de um telejornal e tenta avançar na carreira. Os
problemas dela começam quando a mãe, Carol (Andrea Martin), resolve cursar uma
faculdade de jornalismo e começa a estagiar na mesma emissora em que Katie
trabalha. Obviamente, a presença de Carol causa muitos constrangimentos a
Katie, já que Carol não consegue separar o pessoal do profissional.
Parece algo saído de uma sitcom de décadas atrás, já que a ideia
do adulto que é envergonhado pelos pais em seu ambiente de trabalho ou na
frente dos amigos foi explorada à exaustão. O episódio piloto faz pouco para
afastar essa impressão de uma comédia feita em linha montagem reciclando um
monte de piadas velhas e é possível que muita gente desista da série por conta
desse começo genérico, mas para quem continuar acompanhando a experiência acaba
valendo à pena.
O restante da temporada, no
entanto, vai além dessa premissa batida e embarca em um senso de humor mais
absurdo bastante similar a Unbreakable
Kimmy Schimdt, que assim como Great
News também é produzida por Tina Fey, conforme explora as diferentes
personalidades que compõem a redação. O resultado disso é uma comédia que
funciona como um misto de 30 Rock (também produzida pela Tina Fey) e
The Newsroom, acompanhando o
cotidiano de trabalho de um conjunto pitoresco de profissionais.
Além do puro humor nonsense, como no episódio envolvendo o
boneco de cera do âncora Chuck (John Michael Higgins) ou quando um repórter de
campo inicia uma rebelião dos ruivos, a série comenta sobre o estado do
jornalismo atual, desesperado por audiência e disposto a qualquer coisa para
chamar atenção. A série também toca em temas como o machismo no ambiente de
trabalho, a dificuldade de pessoas mais velhas conseguirem espaço no mercado
profissional e sobre como pais superprotetores (como Carol) produzem filhos
despreparados para a vida adulta. Se outras comédias recentes enveredam pelo
drama para lidar com temas mais sérios, Great
News faz isso mantendo a leveza e bom humor sem diminuir a força das
ponderações que faz.
A leveza e seu senso de absurdo
funcionam por conta do afiado elenco. Andrea Martin é inicialmente o principal
destaque como Carol e o modo como sua personagem mexe no cotidiano da reação e
reage ao comportamento excêntrico das pessoas lugar, mas aos poucos a série vai
dando espaço ao resto do elenco se desenvolver. De Chuck, um âncora de
telejornal incapaz de se comunicar com as pessoas (o que em si já é bastante
irônico), à apresentadora fútil e obcecada por redes sociais interpretada por
Nicole Richie, passando ao editor de vídeos fanzineiro ou a meteorologista
obcecada pelo fim do mundo, o elenco de coadjuvantes é deliciosamente divertido
e bizarro. A própria Katie, que inicialmente é ofuscada pela mãe, acaba
conseguindo retomar para si o protagonista conforme lida com as próprias
inseguranças e situações bizarras do seu trabalho.
Apesar de demorar para encontrar
sua própria identidade, a primeira temporada de Great News eventualmente entrega uma divertida e excêntrica paródia
do universo do jornalismo.
Nota: 7/10
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