A rica Nora (Drica Moraes)
organiza um jantar em sua casa para comemorar os dez anos de casamento de seus
amigos Mauro (Rodrigo Bolzan) e Bia (Mariana Lima). Assim que Plínio (Caco
Ciocler), marido de Nora, chega em casa bêbado, fica evidente que alguma ruim
está acontecendo tanto com o casal de anfitriões quanto o casal de
aniversariantes. Conforme a noite avança e os demais convidados vão chegando,
descobrimos que Mauro está para ser preso depois de ter publicado uma carta
aberta desafiando o então presidente Fernando Collor. No entanto, parece que
Nora não reuniu todos ali para se solidarizarem com o amigo.
A premissa é levemente baseada no
incidente envolvendo o jornalista Otavio Frias Filho, que em 1991 publicou uma
carta aberta contra Collor que o levou a ser processado pelo então presidente. O Banquete, no entanto, não faz nada com
essa ambientação “de época” ou com o momento histórico/político no qual sua
trama se passa. Essa história poderia ser situada em qualquer época e Mauro
poderia estar prestes a ser preso por qualquer crime que não faria a menor
diferença. Assim, o pano de fundo histórico soa despropositado e vazio, afinal
não há sentido em fazer questão de situar sua narrativa em um momento tão
específico da história sem ter nada a dizer sobre esse recorte temporal.
Apesar do contexto histórico ter
pouca importância, a primeira metade é eficiente em criar um clima de tensão
entre os convidados, sutilmente dando indicativos dos segredos obscuros que cada
um carrega, criando um senso geral de desconforto à medida que esses
personagens tentam manter a compostura e evitar que suas condutas escusas sejam
descobertas. Parte desse desconforto vem da maneira como o filme é enquadrado e
filmado, com planos longos e poucos cortes que dilatam o tempo das falas e das
reações desconcertadas dos personagens, nos deixando absorver cada segundo da
tensão que aos poucos vai se construindo.
Drica Moraes faz de Nora alguém
que guarda uma certa dose sadismo sob sua fachada de boa anfitriã e com o
passar do tempo cada frase sua soa igualmente casual e carregada de malícia. O
restante do elenco também vai adotando uma postura passivo-agressiva conforme a
noite avança e os desvios morais uns dos outros começam a ficar expostos.
Alguns personagens, no entanto, acabam sendo pouco aproveitados como o
fleumático garçom Ted (Chay Suede), que imaginei estar ali para funcionar como
o olhar de um “sujeito comum” diante daquela burguesia erodida, mas o
personagem não tem muito a fazer além de um flerte com o repórter Lucky
(Gustavo Machado). Do mesmo modo, Bruna Linzmeyer também não tem muito material
com o que trabalhar e sua personagem está presente quase que só para reagir aos
desajustes dos demais.
Apesar de estruturalmente parecer
similar a O Anjo Exterminador (1962),
de Luis Buñuel, o problema é que toda a tensão que vai se construindo acaba
indo para lugar nenhum quando a crise dos personagens atinge o ápice no momento
em que Mauro fala abertamente que irá ser preso. Isso porque apesar de chegar
ao seu ponto culminante, o filme insiste em não acabar e se alonga por mais
meia hora, andando em círculos e repetindo os mesmos conflitos que já tinha
deixado evidente antes. Desta maneira, quando o longa realmente resolve
encerrar e coloca Nora para botar para fora toda a sua infelicidade, ela acaba
soando óbvia (já tínhamos deduzido isso há muito) e tem seu impacto diluído
pelos vai-e-vem desnecessários.
Se tivesse sido mais conciso, O Banquete poderia ser um impactante estudo de personagem sobre a
falência moral de uma elite que teme perder seus privilégios, mas do jeito que está acaba sendo cansativo, redundante e
desperdiça o contexto político de sua trama.
Nota: 5/10
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