segunda-feira, 10 de setembro de 2018

Crítica – O Banquete


Análise Crítica – O Banquete


Review – O Banquete
A rica Nora (Drica Moraes) organiza um jantar em sua casa para comemorar os dez anos de casamento de seus amigos Mauro (Rodrigo Bolzan) e Bia (Mariana Lima). Assim que Plínio (Caco Ciocler), marido de Nora, chega em casa bêbado, fica evidente que alguma ruim está acontecendo tanto com o casal de anfitriões quanto o casal de aniversariantes. Conforme a noite avança e os demais convidados vão chegando, descobrimos que Mauro está para ser preso depois de ter publicado uma carta aberta desafiando o então presidente Fernando Collor. No entanto, parece que Nora não reuniu todos ali para se solidarizarem com o amigo.

A premissa é levemente baseada no incidente envolvendo o jornalista Otavio Frias Filho, que em 1991 publicou uma carta aberta contra Collor que o levou a ser processado pelo então presidente. O Banquete, no entanto, não faz nada com essa ambientação “de época” ou com o momento histórico/político no qual sua trama se passa. Essa história poderia ser situada em qualquer época e Mauro poderia estar prestes a ser preso por qualquer crime que não faria a menor diferença. Assim, o pano de fundo histórico soa despropositado e vazio, afinal não há sentido em fazer questão de situar sua narrativa em um momento tão específico da história sem ter nada a dizer sobre esse recorte temporal.

Apesar do contexto histórico ter pouca importância, a primeira metade é eficiente em criar um clima de tensão entre os convidados, sutilmente dando indicativos dos segredos obscuros que cada um carrega, criando um senso geral de desconforto à medida que esses personagens tentam manter a compostura e evitar que suas condutas escusas sejam descobertas. Parte desse desconforto vem da maneira como o filme é enquadrado e filmado, com planos longos e poucos cortes que dilatam o tempo das falas e das reações desconcertadas dos personagens, nos deixando absorver cada segundo da tensão que aos poucos vai se construindo.

Drica Moraes faz de Nora alguém que guarda uma certa dose sadismo sob sua fachada de boa anfitriã e com o passar do tempo cada frase sua soa igualmente casual e carregada de malícia. O restante do elenco também vai adotando uma postura passivo-agressiva conforme a noite avança e os desvios morais uns dos outros começam a ficar expostos. Alguns personagens, no entanto, acabam sendo pouco aproveitados como o fleumático garçom Ted (Chay Suede), que imaginei estar ali para funcionar como o olhar de um “sujeito comum” diante daquela burguesia erodida, mas o personagem não tem muito a fazer além de um flerte com o repórter Lucky (Gustavo Machado). Do mesmo modo, Bruna Linzmeyer também não tem muito material com o que trabalhar e sua personagem está presente quase que só para reagir aos desajustes dos demais.

Apesar de estruturalmente parecer similar a O Anjo Exterminador (1962), de Luis Buñuel, o problema é que toda a tensão que vai se construindo acaba indo para lugar nenhum quando a crise dos personagens atinge o ápice no momento em que Mauro fala abertamente que irá ser preso. Isso porque apesar de chegar ao seu ponto culminante, o filme insiste em não acabar e se alonga por mais meia hora, andando em círculos e repetindo os mesmos conflitos que já tinha deixado evidente antes. Desta maneira, quando o longa realmente resolve encerrar e coloca Nora para botar para fora toda a sua infelicidade, ela acaba soando óbvia (já tínhamos deduzido isso há muito) e tem seu impacto diluído pelos vai-e-vem desnecessários.

Se tivesse sido mais conciso, O Banquete poderia ser um impactante estudo de personagem sobre a falência moral de uma elite que teme perder seus privilégios, mas do jeito que está acaba sendo cansativo, redundante e desperdiça o contexto político de sua trama.


Nota: 5/10


Trailer

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