A internação (e posterior morte)
de Tancredo Neves às portas de sua posse como presidente do Brasil, marcando o
fim do governo militar, foi alvo de muitas especulações e teorias
conspiratórias ao longo dos anos. Alguns dizem que ele não estava doente, que tinha
sido alvejado, outros dizem que ele já estava morto. Enfim, toda sorte de
teoria da conspiração existe ao redor da morte do nosso quase-presidente que
foi substituído pelo seu vice, José Sarney. O
Paciente: O Caso Tancredo Neves, baseado no livro homônimo de Luis Mir,
visa entender o que aconteceu nos bastidores do caso e os fatores que levaram à
morte de Tacredo Neves (Othon Bastos).
A trama funciona como uma mistura
entre as séries The West Wing e House, combinando a intriga dos
bastidores do poder com um mistério médico. É um formato que tinha tudo para
dar errado considerando que já entramos no cinema sabendo o final e isso
poderia diluir o suspense, mas felizmente isso não acontece e o filme é hábil
em trabalhar o jogo de intrigas e egos entre as equipes de assessores e
médicos.
A narrativa mostra como as
decisões envolvendo o tratamento de Tancredo foram apressadas para que ele
fosse logo liberado e pudesse tomar posse. Na política, como mostrado pelo
filme, mais interessam a interpretação que se tem sobre os fatos do que os
fatos em si e todas as decisões são tomadas com a percepção pública em primeiro
lugar e o bem-estar do paciente em segundo.
O filme acerta em não endeusar a
figura de Tancredo, evitando pintá-lo como uma espécie de mártir da
redemocratização. Ao invés disso, faz dele uma figura relativamente ambígua, um
misto de alguém com um desejo sincero de servir a pátria e também altamente
egocêntrico. Othon Bastos transita com naturalidade entre essas duas facetas de
Tancredo, apresentando sua recusa inicial em ouvir seus médicos como fruto de
um temor que os militares desistam de passar o governo a um civil e também por
não querer abrir mão de seu grande momento sob os holofotes.
Do mesmo modo, acompanhamos a
guerra de egos entre os médicos conforme o estado do protagonista se agrava e
ninguém consegue definir as causas exatas do problema, ampliando as tensões
entre eles. As disputas pelo diagnóstico se tornam um embate midiático entre
eles, constantemente contradizendo um ao outro e contribuindo para que a
população tenha a impressão de que há algo errado ou que algo está sendo
escondido deles.
A narrativa, no entanto, tenta
equilibrar muitos recortes e temáticas simultaneamente, desde o despreparo dos
hospitais brasileiros, passando pelos embates políticos e pelos dramas pessoais
dos muitos personagens. Com isso, muita coisa acaba sendo tratada de maneira
superficial e diálogos expositivos, nos quais os personagens dizem como estão
se sentindo ao invés de espaço para que eles mostrem isso, acabam sendo
continuamente usados como um atalho dramatúrgico visto o tempo reduzido que a
trama tem para tratar de tanta coisa. Talvez se fosse uma minissérie a
narrativa tivesse mais tempo para trabalhar melhor as motivações e conflitos de
cada um, tal como aconteceu em O Povo Contra O.J Simpson, mas do jeito que está soa apressado.
Apesar de passar rápido por
muitos eventos e ideias, O Paciente: O
Caso Tancredo Neves é um interessante retrato sobre um período da história
brasileira do qual muito foi especulado.
Nota: 6/10
Trailer
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