quarta-feira, 12 de setembro de 2018

Crítica - O Predador


Análise Crítica - O Predador


Review - O Predador
Apesar de existir há mais de 30 anos e ao longo de seis filmes (contando este e os dois Alien vs Predador), a franquia Predador nunca conseguiu produzir nada que superasse o primeiro filme estrelado por Arnold Schwarzenegger. Pois este O Predador, dirigido por Shane Black (que atuou no primeiro filme como o militar Hawkins), tenta devolver a franquia a sua glória oitentista.

A trama começa quando o atirador de elite Quinn Mackenzie (Boyd Holbrook) tem uma missão interrompida por uma espaçonave trazendo um Predador. Ele consegue escapar com parte do equipamento da criatura e, sabendo que o governo tentará encobrir tudo, envia a tecnologia alienígena para uma caixa postal em seu nome. A encomenda, no entanto, acaba sendo entregue na casa dele e seu filho autista, Rory (Jacob Tremblay), que ativa o equipamento, atraindo a atenção das criaturas. Agora Quinn precisa correr até o filho e chegar até ele antes dos alienígenas e dos agentes governamentais liderados por Traeger (Sterling K. Brown), que estão dispostos a tudo para manter toda a questão oculta.

Desde o início é possível perceber que o filme investe seus personagens da mesma postura excessiva de machão dos filmes de ação oitentistas, com direito a constantes frases de efeito nos diálogos. O texto tenta contornar a pura celebração desse modelo antiquado (e talvez anacrônico) de masculinidade ao tornar o esquadrão de Quinn um bando de ex-militares mentalmente instáveis. Parece haver aí um comentário subjacente sobre como essa exaltação à macheza e ao militarismo produz pessoas pouco saudáveis, mas, ao mesmo tempo, as tentativas do filme em extrair humor dos problemas mentais desses personagens nem sempre funciona. Estresse Pós-Traumático ou Síndrome de Tourette são condições severas que afligem muita gente e tratar tudo isso como um mero veículo para riso soa mais constrangedor do que efetivamente engraçado.

Em muitos momentos o humor funciona, principalmente os que envolvem o sarcasmo cínico de Quinn, cujo misto de senso de humor e heroísmo insano me remeteram ao Riggs de Máquina Mortífera (que também é uma criação de Shane Black), mas em outros o filme perde o tempo das piadas, como na cena em que a bióloga Casey (Olivia Munn) acorda no quarto de Quinn e sua tropa, alongando certas situações mais do que o necessário. Há também a questão do gosto duvidoso de alguns diálogos de humor, além das já citadas situações envolvendo transtornos mentais, existem outros momentos igualmente incômodos como quando alguém compara o visual do Predador ao da atriz Whoopi Goldberg, o que soa vagamente racista.

Outra questão é que muitos personagens são subaproveitados, como o Traeger vivido por Sterling K. Brown. O ator é ótimo no arquétipo de “cara malvadão do governo”, criando um antagonista tão alegremente amoral que dá gosto de odiar, mas a trama o elimina de maneira tão rápida e anticlimática que faz toda a construção de conflito e tensão entre ele e Quinn soar como perda de tempo. Outros, como militar interpretado por Alfie Allen (o Theon de Game of Thrones), entram e saem da trama sem nunca justificar sua presença. Por outro lado, Holbrook e o ator mirim Jacob Tremblay exibem um afeto bem sincero um pelo outro e essa dinâmica crível entre pai e filho ajuda a nos deixar envolvidos na jornada de Quinn.

Falando em tempo perdido, ritmo também é algo com o qual o filme tem dificuldade em lidar, principalmente em seu terço final quando o excesso de reviravoltas alonga o conflito mais do que o necessário. O confronto final poderia acontecer todo a partir do momento em que o Superpredador resolve caçar os personagens na floresta, mas a narrativa insiste em alongar esse clímax com uma reviravolta que não faz muito sentido quando a criatura sequestra um dos personagens. Digo que não faz sentido porque em dado momento o alienígena se refere ao seu alvo como um “verdadeiro guerreiro” sendo que o dito personagem nunca tinha agido como um guerreiro até então. Se a fala se referisse ao alvo como um “espécime superior” ou “presa valiosa” a revelação posterior faria sentido, mas do jeito que está parece um expediente forçado para enfiar uma surpresa quando não precisava haver uma.

Na verdade, toda a ideia que o garoto Rory teria alguma superioridade por conta de seu intelecto é contradita pela própria narrativa que constantemente faz seus personagens superarem os alienígenas com armas e força bruta ao invés da esperteza e dos ardis usados por Schwarzenegger para derrotar o Predador no filme original. Dito isso, as cenas de ação de fato entregam o espetáculo de sangue e tripas que se espera de um filme como esse, principalmente no início quando vemos um Predador matando dezenas de pessoas em uma base do governo. Próximo ao final, porém, a ação sofre com uma montagem excessivamente picotada e uma computação gráfica relativamente inferior aos efeitos vistos no começo.

Desta forma, O Predador nunca consegue cumprir a promessa de fazer algo tão bom quanto o filme original, mas é uma aventura moderadamente divertida por conta da ação sangrenta e personagens carismáticos, ainda que o humor nem sempre funcione e o terço final sofra com problemas de ritmo. Ao longo de sua carreira Shane Black se mostrou mais do que capaz em atualizar conteúdos que pareciam antiquados na contemporaneidade, ele mostrou isso ao modernizar as tramas detetivescas da década de 40 a la Raymond Chandler em Beijos e Tiros (2005) e as tramas policiais setentistas em Dois Caras Legais (2016), mas aqui ele entrega algo que não consegue equilibrar esse senso de nostalgia com um frescor de modernidade.


Nota: 5/10


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