A primeira temporada de Punho de Ferro foi de longe a pior das
séries da Marvel na Netflix, decepcionando tanto em termos de narrativa quanto
na ação. Essa segunda temporada até consegue melhorar muitos problemas da
anterior, conseguindo ser minimamente assistível, mas ainda é a mais fraca das
produções da Casa de Ideias para a Netflix.
A temporada começa com Danny
(Finn Jones), cumprindo a promessa que fez para Matt Murdock (Charlie Cox) no
final de Os Defensores de manter a
cidade segura na ausência do Demolidor. Danny também faz isso para buscar um
novo propósito para si agora que sua missão de destruir o Tentáculo foi
concluída. Novas ameaças surgem no horizonte quando Joy Meachum (Jessica
Stroup) se alia a Davos (Sacha Dawan) para se vingarem de Danny, recorrendo
também à mercenária Mary Walker (Alice Eve).
A primeira coisa em que é possível
detectar uma melhora é no tratamento a Danny. Se no ano de estreia ele era um
moleque mimado insuportável que queria tudo do jeito dele e choramingava quando
não conseguia o que queria, agora ele é um sujeito mais humilde, preocupado em
construir uma vida ao lado de Colleen (Jessica Henwick), manter a cidade segura
e promover a paz entre as facções das Tríades de Chinatown para evitar um
confronto. É definitivamente uma melhora, tornando-o um personagem mais fácil
de simpatizar e dando a ele conflitos que o humanizam, mas tal qual a primeira
temporada ele ainda soa como alguém menos interessante que outros personagens.
Colleen, por exemplo, continua a
ser mais interessante. Assim como Danny, ela também lida com as consequências
dos eventos de Os Defensores e o fato
de ter matado Bakuto para proteger Misty (Simone Missick) e Claire (Rosario
Dawson). Ao longo da temporada ela lida com o sentimento de culpa por ter
precisado matar e questiona seu próprio papel de vigilante. Sua jornada para
superar esses problemas, voltar a ensinar artes marciais e entender seu
potencial como heroína. Colleen também desenvolve uma ótima química com Misty e
as cenas das duas juntas sempre rendem momentos divertidos conforme Misty reage
incrédula à natureza mística dos problemas que encontram.
Os irmãos Meachum, por outro
lado, continuam tão aborrecidos quanto eram na temporada anterior. Esse segundo
ano joga fora boa parte da sonolenta intriga corporativa da estreia da série,
mas Joy e Ward (Tom Pelphrey) permanecem insistindo nessas disputas de poder
que nunca rendem uma intriga ou suspense que façam valer o tempo gasto com
eles. Isoladamente os personagens também não envolvem, com o arco de Ward e sua
luta com vícios não tendo nada a oferecer que nenhuma outra trama sobre viciados
já tenha contado. Já a vingança de Joy contra Ward e Danny sempre soa desmedida
e forçada, já que a motivação dela consiste basicamente do rancor por Ward ter
escondido que Harold (David Wenham) estava vivo e por Danny ter matado Harold,
sendo que a própria Joy admite que o pai era um megalomaníaco ganancioso que
precisava ser detido, o que faz toda sua motivação soar inconsistente e
contraditória.
Desinteressante também é Davos
como antagonista. As divergências entre ele e Danny sobre a tarefa do Punho de
Ferro poderiam render um embate ideológico tão rico quando as cenas entre o
Demolidor e o Justiceiro (Jon Bernthal) na segunda temporada de Demolidor, mas Davos é construído de
maneira tão exagerada e maniqueísta que ele se torna um fanático histérico ao
invés de um antagonista com pontos de vista válidos. Como ele passa a maior
parte do tempo assassinando gângsteres e bandidos de quinta, também não há uma
grande sensação de urgência em detê-lo, impedindo que ele soe como uma grande
ameaça ao bairro ou à cidade, algo que só acontece por volta do penúltimo
episódio quando ele começa a matar civis inocentes. Não ajuda que os embates
entre ele e Danny consistam basicamente de longas discussões sobre quem merecia
mais o poder do Punho de Ferro, fazendo-os parecer dois moleques birrentos
brigando por um brinquedo.
Ainda bem que a Mary de Alice Eve
acaba sendo uma antagonista muito mais interessante. Violenta e imprevisível, a
assassina vivida por Eve nos deixa tensos sempre que está em cena por ser
difícil prever o que ela pode fazer e assim tememos por cada ação sua. A atriz
também é eficiente em nos comunicar sobre as diferentes personalidades de Mary
apenas mudando seu tom de voz e linguagem corporal, realmente dando a impressão
de serem pessoas diferentes.
As lutas e cenas de ação são
muito melhores do que a primeira temporada. Sem usar mais as câmeras tremidas e
montagem excessivamente picotada, os combates apresentam mais fluidez e coesão,
com as coreografias de luta conseguindo evidenciar a habilidade e força dos
lutadores. Não há nada tão memorável quanto a luta no corredor na primeira
temporada de Demolidor ou o Frank
Castle enfrentando um pavilhão inteiro de presos violentos, mas a melhora de Punho de Ferro nesse quesito é um passo
na direção certa. A temporada é um pouco mais curta que o restante do “padrão
Netflix/Marvel” de 13 episódios, contendo apenas 10, mas mesmo assim exibe
problemas de ritmo, com alguns episódios existindo praticamente só para adiar
os conflitos, como o caso do oitavo.
A segunda temporada de Punho de Ferro mostra uma melhora em
relação a anterior, mas a série continua a mais fraca da parceria entre a
Marvel e Netflix por conta de seus personagens desinteressantes e ritmo
irregular.
Nota: 6/10
Obs: Há uma cena adicional após os créditos do último episódio.
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