segunda-feira, 24 de setembro de 2018

Crítica – Um Pequeno Favor


Análise Crítica – Um Pequeno Favor


Review – Um Pequeno Favor
Um Pequeno Favor é uma mistura estranha de suspense ao estilo Garota Exemplar (2014) e uma comédia sobre o tédio e o lado sombrio da classe média suburbana dos Estados Unidos. Parecem elementos que, em tese, seriam conflitantes demais para funcionar em conjunto, mas o diretor Paul Feig, de Missão Madrinha de Casamento (2011) e Caça-Fantasmas (2016) consegue fazer funcionar essa combinação inusitada.

A trama é centrada em Stephanie (Anna Kendrick), uma mãe viúva que cria o filho sozinha e tem como o único passatempo seu vlog sobre a vida de mãe. Um dia ela conhece Emily (Blake Lively), a mãe de um dos colegas de escola de seu filho. Executiva em uma empresa de moda, Emily é praticamente o inverso da certinha Stephanie, mas as duas acabam ficando amigas e trocam segredos. Um dia, Emily desaparece misteriosamente e Stephanie resolve descobrir o que aconteceu com a amiga.

Dizer mais sobre o que acontece seria estragar a experiência, mas a partir desse momento na narrativa, o que começou com um tom bastante cômico começa a ganhar contornos sombrios. Se os primeiros minutos constroem comédia em cima da personalidade energética, ingênua e aparentemente certinha de Stephanie, aos poucos vai se tornando um suspense mais tradicional, ainda que não abra mão do humor, como na cena em que Stephanie conversa com um policial na casa de Emily.

Anna Kendrick traz a excentricidade que é costumeira à sua persona cinematográfica, fazendo de Stephanie uma pessoa excessivamente motivada, mas também deslocada das demais por seu ímpeto de constantemente querer se mostrar como “mãe ideal”, usando isso para disfarçar sua solidão e carência. Já Blake Lively consegue injetar uma aura de mistério e ambiguidade em Emily, nos deixando incertos se ela é apenas uma mulher frustrada pela vida banal que leva com o filho e o marido ou se é alguém com uma vida ainda mais sombria.

É graças a essa ambiguidade de Lively que o mistério e a intriga funcionam tão bem. Emily é um enigma, alguém que a cada nos transmite algo diferente e essa sensação de que ela pode ter feito qualquer coisa ou sido qualquer uma em sua vida pregressa ajuda a nos envolver na solução do que realmente aconteceu com ela. O desenvolvimento da trama é, em geral, eficiente ao direcionar nossas suspeitas em várias direções, incluindo Stephanie, manejando com competência o clima de intriga.

Por outro lado, o terço final acaba perdendo um pouco a mão nas reviravoltas, tornando tudo um pouco mirabolante demais e recorrendo a alguns clichês típicos de resoluções desonestas ao inserir alguém que a trama não chegou a exatamente indicar a existência. Algumas situações de suspense e de humor acabam soando pouco orgânicas, como o segmento em que Stephanie é seguida por um homem armado, mas dilui a tensão com uma piada que torna a cena inteira algo sem sentido, pois é difícil crer que alguém perseguiria outra pessoa através da estrada por aquela razão. Afinal, por mais que o filme tenha uma inclinação para o humor, tudo ainda é bastante realista, não entrando no regime de absurdo caricatural de algo como Chumbo Grosso (2007).

De todo modo, Um Pequeno Favor é uma inesperada e bem sucedida mescla de thriller e comédia, ancorado principalmente pelo trabalho de Blake Lively e Anna Kendrick.

Nota: 7/10

Trailer

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