Um homem viaja até uma remota
ilha na costa britânica em busca de uma mulher desaparecida. Chegando lá,
descobre que o local é sede de um estranho culto religioso e precisa desvendar
o que está acontecendo ali. Essa é a premissa de O Homem de Palha (1973), mas também se aplica a este Apóstolo do diretor Gareth Evans
(responsável pelos dois Operação Invasão),
que mistura O Homem de Palha (cujo
remake de 2006, O Sacrifício,
estrelado por Nicolas Cage, se tornou uma fábrica de memes), A Bruxa (2016), Silêncio (2018) e Silent Hill.
O resultado, no entanto, é maior
que a soma de suas partes, formando um todo coeso que se sustenta por conta
própria tecendo uma trama sinistra sobre fé, natureza e a relação do homem com
o divino. A narrativa se passa em 1905, com Thomas (Dan Stevens) viajando até a
ilha para encontrar a irmã, que foi sequestrada pelo culto liderado pelo
Profeta Malcolm (Michael Sheen). Aos poucos, Thomas descobre que o culto vai
além do radicalismo religioso e realiza sacrifícios humanos, precisando correr
contra o tempo para salvar a irmã.
Dizer mais seria estragar a
experiência, mas o que começava como um mero culto de fundamentalistas
religiosos se torna ainda mais sinistro quando o filme entra com os dois pés no
terreno do sobrenatural lá pela metade da projeção. Tudo acaba funcionando como
uma metáfora para o ímpeto destrutivo do homem e como suas tentativas de
controlar o divino (ou a natureza) apenas promovem derramamento de sangue e
destruição.
Gareth Evans já tinha se mostrado
um ótimo diretor de cenas de ação nos dois Operação
Invasão, mas aqui se mostra competente também no manejo do suspense. Além
de criar imagens verdadeiramente perturbadoras (explicar quais e como seria dar
spoilers), ele vai aos poucos
insinuando os mistérios que essa comunidade religiosa esconde, criando uma
tensão subjacente que nos faz desconfiar de tudo que acontece ali.
É uma progressão relativamente
lenta, mas que faz valer o tempo de desenvolvimento quando descobrimos a
verdade sobre o culto e também quando tudo explode em uma violência sanguinária
que põe para fora toda a insanidade que estava sendo contida até então. Dan
Stevens já tinha mostrado na série Legion
seu talento para interpretar uma pessoa mentalmente instável e aqui ele volta a
transmitir a mesma energia insana que vai aos poucos se convertendo em fúria
conforme ele descobre o que está acontecendo naquele lugar, tendo que se
arrastar por um túnel de sangue e fezes para se manter vivo. Se eu citei O Homem de Palha e O Sacrifício como referência, poderia dizer que Stevens tenta fazer
algo similar ao que Nicolas Cage faz em O
Sacrifício, mas sem descambar para o caricatural tal como Cage fez.
Seria fácil transformar o profeta
interpretado por Michael Sheen em um vilão maniqueísta, mas o texto evita isso
ao dar a ele plena consciência do que está fazendo, bem como um senso de
moralidade quanto à exploração daquele lugar. Se outros parecem não se importar
com as consequências do que fazem e querem explorar o que o culto conseguiu capturar
a qualquer custo, Malcolm põe em questão se os benefícios compensam o preço a
ser pago.
Assim, Apóstolo é um suspense sinistro e perturbador que nos faz pensar
sobre a relação do ser humano com a religião, a natureza e o divino.
Nota: 7/10
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