sexta-feira, 5 de outubro de 2018

Crítica – Felicidade Por um Fio


Análise Crítica – Felicidade Por um Fio


Review – Felicidade Por um FioAssim como aconteceu com o recente Sexy Por Acidente, este Felicidade Por um Fio parte de uma premissa bem intencionada e tem uma mensagem importante a passar, mas se perde no meio do caminho ao aderir desnecessariamente a uma série de lugares-comuns da comédia romântica.

Violet (Sanaa Lathan) é uma mulher negra que foi ensinada desde pequena que deveria alisar os cabelos e ter vergonha do aspecto natural de suas madeixas. Mesmo adulta, ela é obcecada em manter os fios sob controle e seu namorado, Clint (Ricky Whittle, o Shadow Moon de Deuses Americanos), nunca a viu sem estar alisada. Violet está certa que sua vida está no rumo certo, sendo bem-sucedida em seu trabalho como publicitária e feliz em sua relação, mas quando Clint se recusa a pedi-la em casamento, Violet começa a repensar a vida e a relação com sua aparência.

A narrativa é inicialmente competente em mostrar os extremos em que Violet vai para manter seus cabelos e como muito disso não só vem de sua criação, como também de toda a indústria publicitária da qual ela faz parte e reproduz um padrão eurocêntrico que concebe cabelos lisos como a norma e cabelos crespos como “cabelo ruim”. Há também uma discussão sobre como o olhar da publicidade objetifica a mulher e que isso vem do fato de ser um mundo predominantemente masculino, no qual são os homens que decidem o que as mulheres devem querer ou qual aparência feminina deve ser vendida como a mais desejável.

O problema é que uma vez que Violet corta os cabelos, o filme entra numa trama mais tradicional sobre a pessoa viciada em trabalho que redescobre os prazeres da vida e que há mais do que sucesso profissional e projetar uma imagem de perfeição. É um feel good movie bem típico que já foi feito tanto com personagens masculinos, como Jerry Maguire: A Grande Virada (1996) ou Um Bom Ano (2006), e também com muitas personagens femininas a exemplo de Sob o Sol da Toscana (2003) ou Comer, Rezar, Amar (2010).

Assim, o que deveria ser uma contundente reflexão sobre como a sociedade cria padrões de beleza excludentes e as consequências que isso implica para as pessoas que não se encaixam, se torna algo quadrado e previsível. Fica evidente desde os primeiros minutos que Clint não é tudo aquilo que Violet pensa que ele é, que Will (Lyriq Bent) é um pretendente melhor, assim como o fato de que ela inevitavelmente irá perceber que seu trabalho como publicitária a torna cúmplice desse modelo excludente e objetificante. O filme é tão preocupado em fazer seu público se sentir bem, que sua reflexão sobre negritude e autoestima nunca coloca o dedo na ferida social do racismo, já que confrontar esses temas em toda a sua complexidade e seriedade comprometeria o clima de “narrativa edificante”.

É uma pena, já que Sanaa Lathan é ótima em evocar o sentimento de que Violet é alguém que sente presa sendo alguém que não é e toda a sua pretensa perfeição é uma máscara para sua falta de autoestima e auto aceitação. O modo como ela contrapõe o comportamento neurótico inicial da personagem com o senso de libertação de quando ela dança sozinha em seu apartamento nos deixa envolvidos com seu percurso dramático mesmo quando o texto em si é extremamente previsível.

Felicidade Por um Fio vale pelas ideias que transmite acerca dos modelos de beleza de nossa sociedade, conferindo personalidade a um material que, de outro modo, seria bastante convencional.

Nota: 6/10


Trailer

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