Assim como aconteceu com o
recente Sexy Por Acidente, este Felicidade Por um Fio parte de uma
premissa bem intencionada e tem uma mensagem importante a passar, mas se perde
no meio do caminho ao aderir desnecessariamente a uma série de lugares-comuns
da comédia romântica.
Violet (Sanaa Lathan) é uma
mulher negra que foi ensinada desde pequena que deveria alisar os cabelos e ter
vergonha do aspecto natural de suas madeixas. Mesmo adulta, ela é obcecada em
manter os fios sob controle e seu namorado, Clint (Ricky Whittle, o Shadow Moon
de Deuses Americanos), nunca a viu
sem estar alisada. Violet está certa que sua vida está no rumo certo, sendo
bem-sucedida em seu trabalho como publicitária e feliz em sua relação, mas
quando Clint se recusa a pedi-la em casamento, Violet começa a repensar a vida
e a relação com sua aparência.
A narrativa é inicialmente
competente em mostrar os extremos em que Violet vai para manter seus cabelos e
como muito disso não só vem de sua criação, como também de toda a indústria
publicitária da qual ela faz parte e reproduz um padrão eurocêntrico que
concebe cabelos lisos como a norma e cabelos crespos como “cabelo ruim”. Há
também uma discussão sobre como o olhar da publicidade objetifica a mulher e que
isso vem do fato de ser um mundo predominantemente masculino, no qual são os
homens que decidem o que as mulheres devem querer ou qual aparência feminina
deve ser vendida como a mais desejável.
O problema é que uma vez que
Violet corta os cabelos, o filme entra numa trama mais tradicional sobre a
pessoa viciada em trabalho que redescobre os prazeres da vida e que há mais do
que sucesso profissional e projetar uma imagem de perfeição. É um feel good movie bem típico que já foi
feito tanto com personagens masculinos, como Jerry Maguire: A Grande Virada (1996) ou Um Bom Ano (2006), e também com muitas personagens femininas a
exemplo de Sob o Sol da Toscana (2003)
ou Comer, Rezar, Amar (2010).
Assim, o que deveria ser uma
contundente reflexão sobre como a sociedade cria padrões de beleza excludentes
e as consequências que isso implica para as pessoas que não se encaixam, se
torna algo quadrado e previsível. Fica evidente desde os primeiros minutos que
Clint não é tudo aquilo que Violet pensa que ele é, que Will (Lyriq Bent) é um
pretendente melhor, assim como o fato de que ela inevitavelmente irá perceber
que seu trabalho como publicitária a torna cúmplice desse modelo excludente e
objetificante. O filme é tão preocupado em fazer seu público se sentir bem, que
sua reflexão sobre negritude e autoestima nunca coloca o dedo na ferida social
do racismo, já que confrontar esses temas em toda a sua complexidade e
seriedade comprometeria o clima de “narrativa edificante”.
É uma pena, já que Sanaa Lathan é
ótima em evocar o sentimento de que Violet é alguém que sente presa sendo
alguém que não é e toda a sua pretensa perfeição é uma máscara para sua falta
de autoestima e auto aceitação. O modo como ela contrapõe o comportamento
neurótico inicial da personagem com o senso de libertação de quando ela dança
sozinha em seu apartamento nos deixa envolvidos com seu percurso dramático
mesmo quando o texto em si é extremamente previsível.
Felicidade Por um Fio vale pelas ideias que transmite acerca dos
modelos de beleza de nossa sociedade, conferindo personalidade a um material
que, de outro modo, seria bastante convencional.
Nota: 6/10
Trailer
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