segunda-feira, 22 de outubro de 2018

Crítica- Halloween

Análise Crítica- Halloween


Review - HalloweenO diretor David Gordon Green se tornou famoso por seu trabalho em comédias como Segurando as Pontas (2008) e Sua Alteza (2011), mas nos últimos anos migrou para o drama com o bacana Joe (2013) e o recente O Que Te Faz Mais Forte. Agora ele entra no reino do terror com este Halloween, uma continuação do seminal terror de 1978 dirigido por John Carpenter. Tal como outros realizadores vindos da comédia, caso de Jordan Peele em Corra! (2017) ou John Krasinski em Um Lugar Silencioso (2018), os resultados obtidos por Green são surpreendentemente satisfatórios.

A trama ignora todas as outras continuações e considera apenas o original de 1978 em sua linha do tempo. O assassino Michael Myers está preso há décadas, mas ninguém conseguiu penetrar na sua mente para compreendê-lo. Enquanto isso Laurie Strode (Jamie Lee Curtis), a única sobrevivente de seu ataque em 1978, se tornou uma mulher solitária e paranoica, vivendo isolada em uma casa de campo, sempre se preparando para o retorno de Michael.


Green parece ter entendido muito bem o que tornou o filme de Carpenter tão memorável, tanto em termos estilísticos quanto narrativos, embora nunca tente fazer uma mera emulação do modo de filmar de Carpenter. Sua câmera cria quadros amplos nos quais o que acontece ao fundo ou nos cantos é tão (ou mais) importante do que aquilo que está ao centro. Seu terror não pula na nossa cara, vai aos poucos sendo insinuado em reflexos no canto de uma janela, figuras se movimentando ao fundo ou silhuetas se movendo na escuridão. O não visto, o desconhecido são a matéria prima com a qual a tensão é construída.

Falando em desconhecido, a trama é inteligente em entender a dimensão simbólica na qual o assassino Michael Myers opera. Ele não é um indivíduo, ele é “o mal”, ele é uma força da natureza, o bicho-papão, o monstro que sai à caça no Dia das Bruxas (ou Halloween em inglês). Uma representação física da violência urbana que tanto nos assusta e não conseguimos compreender. O que ele faz é mais importante do que quem ele é e é por isso que praticamente não vemos seu rosto. Ele é a violência que se espalha pelas cidades e isso fica evidente já em uma das primeiras cenas do filme quando os presos do manicômio ficam agitados e agressivos quando um repórter exibe a famosa máscara do assassino. É como se ele contaminasse todos ao seu redor.

Essa mácula da violência é vista também em Laurie. Ela mora em uma casa cheia de sistemas de segurança e armas de fogo, mas apesar de tudo isso ela não se sente segura. Toda sua preparação, todo seu treinamento não lhe trouxeram paz alguma, pelo contrário, ela só se tornou mentalmente instável, alienando a filha, Karen (Judy Greer), e neta, Allyson (Andi Matichack), de sua convivência.

Claro, por um instante parece que a preparação de Laurie valeu à pena com seus ardis sendo eficientes em manterem Michael longe, mas ao mesmo tempo, o filme sinaliza como a personagem foi de vítima a algoz. Isso é construído a partir de reconstruções do filme original, mas com o posicionamento invertido. Se antes era Michael que abria os armários à procura de Laurie, agora é ela quem o procura. Se antes Michael era jogado da varanda e desaparecia quando procuravam o corpo, agora é Laurie quem faz isso. Se há alguma dúvida de que não há salvação, melhora ou catarse na violência, o plano que encerra o filme, com uma personagem segurando a mesma faca usada por Michaels, deixa evidente que a violência apenas gera mais violência.

Depois de décadas de continuações decepcionantes e uma complicada mitologia que só diluía sua força, Halloween retorna ao básico para produzir uma reflexão tensa e sangrenta sobre a natureza da violência.


Nota: 8/10

Trailer

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