O diretor Damian Chazelle tem um
claro interesse por pessoas que tentam fazer algo extraordinário e quais os
custos disso. Em Whiplash: Em Busca daPerfeição (2015) ele mostrava como a busca por excelência impele a
ultrapassar limites ao ponto de se tornar algo doentio, em La La Land: Cantando Estações (2017) explorou como é preciso abrir
mão de certas coisas para alcançar nossos sonhos e em O Primeiro Homem ele examina como mesmo alguém que não tinha
grandes ambições fez algo que marcou a história.
O filme conta a história real de
Neil Armstrong (Ryan Gosling), astronauta que foi o primeiro homem a pousar na
Lua. Armstrong decide se juntar ao programa espacial depois da morte da filha
pequena, imaginando que a mudança de cidade ofereceria um novo começo para ele
e para a esposa, Janet (Claire Foy).
O grande acerto do filme é evitar
endeusar seu protagonista, transformando-o num herói da humanidade da nação. Ao
invés disso faz de Armstrong um sujeito que nunca ambicionou ser um ícone, que
nunca teve pretensão de chefiar uma missão à lua, era apenas alguém que queria
fazer seu trabalho de uma maneira correta e prover para sua família. É essa
banalidade que o torna incrível, alguém que é bom no que faz, mas que não
menospreza a vida ao seu redor. Ryan Gosling transmite isso em sua performance
taciturna, sempre contida, mesmo quando emocionalmente abalado a exemplo da
cena em que discute com Buzz Aldrin (Corey Stoll) sobre a morte de um colega.
Claro, muito dessa dedicação ao
trabalho é fruto de sua introspecção emocional e sua recusa em lidar
emocionalmente com a morte da filha. Essa conduta de internalizar os
sentimentos fica evidente na cena em que ele enrola o tempo arrumando a bagagem
para não precisar dizer aos filhos que irá na missão à lua e corre o risco de
não voltar. É como se o ato de botar os sentimentos para fora fosse fazer todos
os medos dele se concretizarem.
O filme também é eficiente em
mostrar a solidão e o vazio do espaço, recorrendo a planos com pouca luz nas
cenas em que eles estão em órbita e ressaltando pequenos ruídos como o ranger
do metal ou o tilintar dos botões para denotar o silêncio. Não é nada
exatamente novo em termos de construção audiovisual considerando que boa parte
desses recursos já tinha sido usado em filmes desde 2001: Uma Odisseia no Espaço (1968) a Gravidade (2013), mas é competente o suficiente para nos deixar
imersos nas sensações experimentadas pelos personagens
A natureza sublime de flutuar no
espaço é marcada pelo uso da música Lunar
Rhapsody e mesmo a música original, composta por Justin Hurwitz, constrói
um clima “de outro planeta” pelo constante uso de sintetizadores e do teremim
(que era muito usado em filmes antigos de extraterrestres). É curioso que mesmo
recorrendo a instrumentos que são comumente tidos como clichês antiquados (a
exemplo do teremim) a música de Hurwitz não chega a soar velha ou datada.
A estrutura da trama, no entanto,
é bastante repetitiva, mostrando os muitos testes e exercícios feitos pelos
personagens para chegar à Lua. Eu entendo que, de algum modo, Chazelle quis que
sentíssemos o tédio e repetição constante do trabalho do protagonista, mas é
possível fazer isso sem necessariamente deixar sua audiência entediada. Alguns
momentos, inclusive, parecem se estender mais que o necessário a exemplo da
missão com o Gemini 8. Com quase duas horas e meia de duração, o sentimento é
que poderia ter uns vinte minutos a menos. A narrativa ocasionalmente tenta
ponderar sobre os custos financeiros e humanos da empreitada à Lua, mas aborda
isso de maneira tão superficial que não tem nada consistente a dizer sobre a
questão.
O olhar introspectivo sobre a
vida de Armstrong, assim como o trabalho de Ryan Gosling, é o que fazem O Primeiro Homem valer a pena, já que
ele é prejudicado por problemas de ritmo e uma estrutura repetitiva.
Nota: 6/10
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