segunda-feira, 15 de outubro de 2018

Crítica – O Primeiro Homem


Análise Crítica – O Primeiro Homem


Review – O Primeiro HomemO diretor Damian Chazelle tem um claro interesse por pessoas que tentam fazer algo extraordinário e quais os custos disso. Em Whiplash: Em Busca daPerfeição (2015) ele mostrava como a busca por excelência impele a ultrapassar limites ao ponto de se tornar algo doentio, em La La Land: Cantando Estações (2017) explorou como é preciso abrir mão de certas coisas para alcançar nossos sonhos e em O Primeiro Homem ele examina como mesmo alguém que não tinha grandes ambições fez algo que marcou a história.

O filme conta a história real de Neil Armstrong (Ryan Gosling), astronauta que foi o primeiro homem a pousar na Lua. Armstrong decide se juntar ao programa espacial depois da morte da filha pequena, imaginando que a mudança de cidade ofereceria um novo começo para ele e para a esposa, Janet (Claire Foy).

O grande acerto do filme é evitar endeusar seu protagonista, transformando-o num herói da humanidade da nação. Ao invés disso faz de Armstrong um sujeito que nunca ambicionou ser um ícone, que nunca teve pretensão de chefiar uma missão à lua, era apenas alguém que queria fazer seu trabalho de uma maneira correta e prover para sua família. É essa banalidade que o torna incrível, alguém que é bom no que faz, mas que não menospreza a vida ao seu redor. Ryan Gosling transmite isso em sua performance taciturna, sempre contida, mesmo quando emocionalmente abalado a exemplo da cena em que discute com Buzz Aldrin (Corey Stoll) sobre a  morte de um colega.


Claro, muito dessa dedicação ao trabalho é fruto de sua introspecção emocional e sua recusa em lidar emocionalmente com a morte da filha. Essa conduta de internalizar os sentimentos fica evidente na cena em que ele enrola o tempo arrumando a bagagem para não precisar dizer aos filhos que irá na missão à lua e corre o risco de não voltar. É como se o ato de botar os sentimentos para fora fosse fazer todos os medos dele se concretizarem.

O filme também é eficiente em mostrar a solidão e o vazio do espaço, recorrendo a planos com pouca luz nas cenas em que eles estão em órbita e ressaltando pequenos ruídos como o ranger do metal ou o tilintar dos botões para denotar o silêncio. Não é nada exatamente novo em termos de construção audiovisual considerando que boa parte desses recursos já tinha sido usado em filmes desde 2001: Uma Odisseia no Espaço (1968) a Gravidade (2013), mas é competente o suficiente para nos deixar imersos nas sensações experimentadas pelos personagens

A natureza sublime de flutuar no espaço é marcada pelo uso da música Lunar Rhapsody e mesmo a música original, composta por Justin Hurwitz, constrói um clima “de outro planeta” pelo constante uso de sintetizadores e do teremim (que era muito usado em filmes antigos de extraterrestres). É curioso que mesmo recorrendo a instrumentos que são comumente tidos como clichês antiquados (a exemplo do teremim) a música de Hurwitz não chega a soar velha ou datada.

A estrutura da trama, no entanto, é bastante repetitiva, mostrando os muitos testes e exercícios feitos pelos personagens para chegar à Lua. Eu entendo que, de algum modo, Chazelle quis que sentíssemos o tédio e repetição constante do trabalho do protagonista, mas é possível fazer isso sem necessariamente deixar sua audiência entediada. Alguns momentos, inclusive, parecem se estender mais que o necessário a exemplo da missão com o Gemini 8. Com quase duas horas e meia de duração, o sentimento é que poderia ter uns vinte minutos a menos. A narrativa ocasionalmente tenta ponderar sobre os custos financeiros e humanos da empreitada à Lua, mas aborda isso de maneira tão superficial que não tem nada consistente a dizer sobre a questão.

O olhar introspectivo sobre a vida de Armstrong, assim como o trabalho de Ryan Gosling, é o que fazem O Primeiro Homem valer a pena, já que ele é prejudicado por problemas de ritmo e uma estrutura repetitiva.

Nota: 6/10

Trailer


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