A última vez que Hollywood
produziu um filme estrelado por elenco asiático e com um diretor asiático foi
em O Clube da Felicidade e da Sorte
(1993) e só agora, vinte e cinco anos depois (mostrando como é um grupo subrepresentado), volta a fazer outro neste
divertido Podres de Ricos. A questão da representatividade acaba dando personalidade ao que, de outro modo, seria algo relativamente derivativo.
A trama acompanha o casal Rachel
(Constance Wu) e Nick (Henry Golding, que recentemente esteve em Um Pequeno Favor). O casal está a
caminho de Singapura para o casamento de um amigo de Nick, que é nativo do
local. Durante a viagem, Rachel descobre que a família de Nick é podre de rica
e uma das mais tradicionais da elite asiática. Assim, apesar de também ser
chinesa, Rachel enfrenta certa rejeição da sogra, Eleanor (Michelle Yeoh), que
não a considera boa o bastante para Nick.
É uma comédia romântica com
aquela estrutura bem típica de “conto de fada”, com uma mocinha levada a um
mundo de luxo, mas sendo rejeitada pela família do amado por conta da origem
humilde. O resultado disso poderia ser uma entediante coleção de clichês, mas o
elenco é tão carismático e esse universo e ultra riqueza é tão bem construído
que é difícil não se encantar.
Boa parte do encantamento vem do
carisma do elenco. Golding e Wu são convincentes na sintonia entre Rachel e
Nick, além de ser fácil de se identificar com a situação de Rachel em tentar
impressionar a família do amado. O casal protagonista ainda é auxiliado por um
divertido elenco coadjuvante, em especial Awkwafina (que foi muito mal
aproveitada em Oito Mulheres e um Segredo)
como Peik Lin, a excêntrica melhor amiga de Rachel. Sim, ela é a típica “melhor
amiga engraçadinha” de comédias românticas que sempre tem uma resposta mordaz
na ponta da língua, mas a personagem tão espontaneamente doida que é difícil
não se deixar levar por ela.
O filme acerta também em dar uma
motivação crível para Eleanor, alguém que enfrentou muitos preconceitos na vida
e se tornou endurecida por essas experiências. Deste modo, ela menos uma megera
sem escrúpulos e mais uma pessoa que abriu mão dos sentimentos e deixou que um
pragmatismo extremo guiasse sua vida.
Os cenários e figurinos
transmitem bem a sensação de estarmos em um universo de riqueza inimaginável,
com amplas mansões e coberturas de arranha-céus decoradas como uma festa de ano
novo e roupas que parecem saídas de um desfile de moda. Tudo isso dando a
impressão de que estamos diante de algo completamente divorciado do nosso mundo
e estivéssemos entrando em outra realidade.
O começo do filme tenta levantar
questões sobre identidade nacional e identidade cultural a partir do arco
narrativo de Rachel. Apesar de ser filha de chineses e falar o idioma, ela
cresceu nos Estados Unidos, tendo o país como sua referência de nacionalidade.
Assim, ela está simultaneamente em dois mundos e nenhum deles, sendo
considerada uma imigrante asiática nos EUA e uma estadunidense na China, uma
estrangeira onde quer que vá.
Tudo isso poderia render uma
discussão consistente sobre pertencimento, mas o filme prefere passar por isso
superficialmente. A quinta temporada de Bojack Horseman, por exemplo, tratou isso com mais propriedade no episódio
centrado em Diane (o segundo da temporada). Ao invés disso, Podres de Ricos prefere investir mais no
conto de fada e na ideia de uma “plebeia” tentando entrar em uma aristocracia.
Desta maneira, Podres de Ricos é uma comédia romântica
bem simpática e divertida, ainda que passe superficialmente pelas questões que
inicialmente tenta tratar.
Nota: 7/10
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