terça-feira, 23 de outubro de 2018

Crítica – Podres de Ricos




A última vez que Hollywood produziu um filme estrelado por elenco asiático e com um diretor asiático foi em O Clube da Felicidade e da Sorte (1993) e só agora, vinte e cinco anos depois (mostrando como é um grupo subrepresentado), volta a fazer outro neste divertido Podres de Ricos. A questão da representatividade acaba dando personalidade ao que, de outro modo, seria algo relativamente derivativo.

A trama acompanha o casal Rachel (Constance Wu) e Nick (Henry Golding, que recentemente esteve em Um Pequeno Favor). O casal está a caminho de Singapura para o casamento de um amigo de Nick, que é nativo do local. Durante a viagem, Rachel descobre que a família de Nick é podre de rica e uma das mais tradicionais da elite asiática. Assim, apesar de também ser chinesa, Rachel enfrenta certa rejeição da sogra, Eleanor (Michelle Yeoh), que não a considera boa o bastante para Nick.

É uma comédia romântica com aquela estrutura bem típica de “conto de fada”, com uma mocinha levada a um mundo de luxo, mas sendo rejeitada pela família do amado por conta da origem humilde. O resultado disso poderia ser uma entediante coleção de clichês, mas o elenco é tão carismático e esse universo e ultra riqueza é tão bem construído que é difícil não se encantar.


Boa parte do encantamento vem do carisma do elenco. Golding e Wu são convincentes na sintonia entre Rachel e Nick, além de ser fácil de se identificar com a situação de Rachel em tentar impressionar a família do amado. O casal protagonista ainda é auxiliado por um divertido elenco coadjuvante, em especial Awkwafina (que foi muito mal aproveitada em Oito Mulheres e um Segredo) como Peik Lin, a excêntrica melhor amiga de Rachel. Sim, ela é a típica “melhor amiga engraçadinha” de comédias românticas que sempre tem uma resposta mordaz na ponta da língua, mas a personagem tão espontaneamente doida que é difícil não se deixar levar por ela.

O filme acerta também em dar uma motivação crível para Eleanor, alguém que enfrentou muitos preconceitos na vida e se tornou endurecida por essas experiências. Deste modo, ela menos uma megera sem escrúpulos e mais uma pessoa que abriu mão dos sentimentos e deixou que um pragmatismo extremo guiasse sua vida.

Os cenários e figurinos transmitem bem a sensação de estarmos em um universo de riqueza inimaginável, com amplas mansões e coberturas de arranha-céus decoradas como uma festa de ano novo e roupas que parecem saídas de um desfile de moda. Tudo isso dando a impressão de que estamos diante de algo completamente divorciado do nosso mundo e estivéssemos entrando em outra realidade.

O começo do filme tenta levantar questões sobre identidade nacional e identidade cultural a partir do arco narrativo de Rachel. Apesar de ser filha de chineses e falar o idioma, ela cresceu nos Estados Unidos, tendo o país como sua referência de nacionalidade. Assim, ela está simultaneamente em dois mundos e nenhum deles, sendo considerada uma imigrante asiática nos EUA e uma estadunidense na China, uma estrangeira onde quer que vá.

Tudo isso poderia render uma discussão consistente sobre pertencimento, mas o filme prefere passar por isso superficialmente. A quinta temporada de Bojack Horseman, por exemplo, tratou isso com mais propriedade no episódio centrado em Diane (o segundo da temporada). Ao invés disso, Podres de Ricos prefere investir mais no conto de fada e na ideia de uma “plebeia” tentando entrar em uma aristocracia.

Desta maneira, Podres de Ricos é uma comédia romântica bem simpática e divertida, ainda que passe superficialmente pelas questões que inicialmente tenta tratar.

Nota: 7/10

Trailer

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