quarta-feira, 3 de outubro de 2018

Crítica – Venom


Resenha Crítica – Venom


Análise Crítica – Venom
Em um dado momento de Venom, o personagem-título se refere a uma de suas vítimas como “um cocô ao vento”. A frase serve como um resumo do próprio filme (e imagino que eu não serei o primeiro nem o último a fazer esse paralelo): um produto ruim, vagando a esmo sem saber o que fazer com seus personagens ou aonde quer levá-los.

A trama é centrada em Eddie Brock (Tom Hardy), um repórter investigativo que comete que lhe custa seu emprego e sua relação com a noiva, Anne Weying (Michelle Williams). Com a reputação arruinada, ele continua a investigar a misteriosa Fundação Vida, presidida pelo bilionário Carlton Drake (Riz Ahmed), e ao invadir o laboratório da instituição Brock é infectado por um dos simbiontes que Drake guardava no local. Agora Brock precisa lidar com o parasita e descobrir o propósito de Drake com as criaturas.

Venom passa a sensação de algo feito antes do atual boom de filmes de super-heróis, tratando tudo como uma mera desculpa para cenas de ação cheias de computação gráfica e frases de efeito que deveriam ser engraçadinhas, mas muitas vezes são vergonhosas. A narrativa em si é uma bagunça de inconsistências, personagens mal desenvolvidos e motivações vagamente explicadas.

Em uma das primeiras cenas do filme, vemos a espaçonave transportando os simbiontes cair na Malásia, com uma das criaturas escapando da contenção e tomando o corpo de uma velhinha. Um letreiro informa que seis meses se passaram e então vemos a velhinha em um aeroporto, rumo a São Francisco onde estão as demais criaturas. Qual a razão do simbionte demorar meses para ir atrás do resto da sua espécie? O que ele ficou fazendo esse tempo todo? Ficou fingindo ser uma velhinha normal e avó de alguém? A trama é repleta desses momentos de situações desajeitadas e mal concebidas.

Eddie Brock é apresentado a nós como um ótimo jornalista investigativo, mas na primeira entrevista que o vemos fazer ele enche Carlton Drake de acusações de comportamento antiético que ele não tem como provar. Ora, emboscar um bilionário poderoso durante uma entrevista com acusações sem provas é a completa antítese de um bom jornalismo investigativo (não só te abre a um processo como alerta o investigado, que certamente sumirá com qualquer evidência que o incrimine) e até um calouro de faculdade de comunicação sabe isso. Assim, quando Brock é obviamente arruinado por Drake, o protagonista soa menos como um “loser” coitado que não consegue se dar bem e mais como um idiota recebendo o que merece.

O ator Tom Hardy, no entanto, tem carisma o suficiente para evitar que Brock se torne um sujeito aborrecido e a performance corporal dele é precisa em criar a impressão de que Eddie é alguém sem controle do próprio corpo, como uma marionete controlada por dentro. Do mesmo modo, o roteiro acerta ao não reduzir a Anne de Michelle Williams a um mero interesse romântico, fazendo-a uma participante ativa da ação.

Por outro lado, o vilão interpretado por Riz Ahmed (ótimo na minissérie The Night Of) é mais um megalomaníaco genérico com um plano vago e é uma pena ver Ahmed desperdiçado em algo tão desprovido de personalidade. A relação de Eddie com o simbionte Venom é outro aspecto problemático. No início é dito que é preciso compatibilidade entre criatura e hospedeiro para a simbiose dar certo, mas isso nunca é claramente definido e quando Brock pergunta para a criatura porque se manter com ele, a criatura simplesmente diz que, assim como Brock ele era um perdedor em seu planeta natal, o que soa estranhamente fofo e vulnerável para um monstro devorador de pessoas. A motivação de Venom para essencialmente se tornar um traidor de sua raça também é porcamente desenvolvida, resumida ao fato dele dizer que passou a gostar da Terra e de Eddie.

Outro problema relativo ao simbionte é que o filme não sabe exatamente como abordar a natureza da relação entre ele e Eddie. Em alguns momentos é uma dinâmica estilo O Médico e o Monstro, mas em outros há um viés quase cômico, com Venom interrompendo as falas de Brock com tiradas sarcásticas que quase sempre não funcionam. O diretor Ruben Fleischer tinha se mostrado capaz de equilibrar drama e horror em Zumbilândia (2009), mas aqui a mistura simplesmente não funciona. É difícil temê-lo pelo monstro que é por ele estar sempre fazendo gracinhas e é difícil achar graça quando lembramos que ele é um parasita comedor de gente.

Aliás, mesmo a ideia de Venom como um monstro devorador de pessoas é difícil de ser vislumbrada já que o filme faz um considerável esforço para ocultar a violência, com planos estilo “piscou, perdeu” dele devorando cabeças ou situando tudo fora de quadro. É uma abordagem esquizofrênica que quer simultaneamente nos mostrar o quanto ele é brutal e não mostrar nada para garantir uma classificação indicativa mais baixa. As cenas de ação estão constantemente cobertas por escuridão ou fumaça, para melhor disfarçar a qualidade irregular da computação gráfica e a luta final entre Venom e Riot é uma completa bagunça por conta da similaridade visual das duas criaturas, tornando difícil discernir quem é quem ou o que diabos está acontecendo.

Venom é um produto datado, mais parecendo um blockbuster de quinze ou vinte anos atrás do que algo contemporâneo, prejudicado por uma narrativa cheia de problemas, um antagonista inane e um tom inconsistente.

Nota: 4/10

Obs: O filme tem uma cena adicional no meio dos créditos e outra no final.

Trailer

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