quarta-feira, 31 de outubro de 2018

Lixo Extraordinário – A Guerra das Comidas


Análise Crítica – A Guerra das Comidas


Review - Foodfight!
Eu já assisti muitos filmes incrivelmente ruins nessa coluna, mas nenhum foi tão difícil de assistir quanto este A Guerra das Comidas, que muitas vezes aparece em listas de piores animações de todos os tempos. O filme teve uma produção conturbada e levou quase treze anos até ficar pronto.

A produção


O projeto começou em 1999, uma época em que longas animados com personagens tridimensionais ainda estavam dando seus primeiros passos (Toy Story saiu em 1995), visando um lançamento em 2003. O lançamento foi adiado quando os HDs contendo o material foram supostamente roubados no que o diretor Lawrence Kasanoff chamou de ato de “espionagem industrial”. Sério, o diretor alega que o sumiço do material foi um crime perpetrado por concorrentes (que ele nunca nomeou). Porque alguém roubaria uma pequena produtora e não Pixar, por exemplo, está além da minha compreensão.

Apesar da desculpa estilo “o cachorro comeu meu dever de casa”, a produção reiniciou os trabalhos em 2004, mudando o estilo da animação de uma abordagem mais cartunesca para algo mais centrado em captura de movimento. Uma nova data de lançamento foi estabelecida, mirando em 2005, mas nada do filme ficar pronto. Foi então feito um acordo para distribuir o filme com lançamento em 2007, que não aconteceu.

A distribuidora Lionsgate e os investidores começaram a ficar inquietos diante dos sucessivos atrasos e ativaram uma cláusula do contrato que forçava a seguradora da produção, a Fireman’s Fund, a interferir e completar o filme o mais rápido e barato possível. Assim, diante dessa sucessão de inaptidões, A Guerra das Comidas foi finalmente lançado em 2012 e o produto final deixa evidente que se trata de algo mal acabado e porcamente feito.

O filme


A pobreza da produção já se mostra sem pudores na tosca cartela de títulos que parece algo animado no Power Point. A partir daí acompanhamos uma das animações mais visualmente horrendas que meus olhos já tiveram o desprazer de serem expostos. Tudo parece mais uma pré renderização inicial ao invés de um produto plenamente acabado. Texturas pobres e simplórias, movimentação dura e artificial dos personagens, motores gráficos incapazes de produzir uma física coerente (como na cena em que uma personagem faz “embaixadinhas” com uma melancia e fruta não parece ter peso nenhum), e cheio de bugs visuais como o capô de carro que atravessa um poste logo no início ou o fato de que muitos alimentos arremessados na tal guerra de comidas do título simplesmente desaparecem ao tocarem no chão.

A trama se passa em um supermercado no qual, ao serem apagadas as luzes, os mascotes dos produtos vendidos saem para divertir. O cão Dex (voz de Charlie Sheen) é um detetive que está apaixonado por Sunshine (Hillary Duff), mascote de uma marca de passas. Quando Sunshine desaparece misteriosamente, Dex decide investigar e aos poucos fica no rastro da sinistra Marca X, que está tentando dominar o mercado.

A primeira coisa que chama a atenção é a falta de coesão do universo. Quando as luzes do supermercado se apagam, as prateleiras automaticamente se transformam em prédios e o lugar vira uma grande cidade com ruas e carros. Como isso funciona exatamente? As imagens reproduzem a imaginação dos personagens? Se sim, como é que eles vão parar no supermercado “normal” (como os humanos o veem) durante o dia? O mais bizarro é que essa mudança brusca não parece afetar nem um pouco os personagens ou tem qualquer repercussão na trama.

A trama, por sinal, é uma coleção de cenas inconsequentes embaladas por um mistério óbvio e um humor baseado em trocadilhos que deveriam ser de duplo sentido, mas são tão sem nexo que mal conseguem ter um primeiro sentido, quem dirá um segundo. O conflito se resolve facilmente, com Dex se infiltrando no prédio da Marca X (como? Não sei, ele simplesmente aparece lá) e destruindo um pilar com uma corda. Além do texto ruim, há a presença constante de mascotes de marcas de produtos reais, o que torna o filme uma espécie de desculpa cínica para fazer publicidade para crianças tal qual o péssimo Emoji: O Filme (2017).

Assim, por mais que a má qualidade visual possa ser creditada nos problemas de bastidores, não dá para relevar a completa inaptidão do roteiro em sequer contar uma história minimamente coerente. Além dos problemas visuais, o filme apresenta também problemas de áudio, com a qualidade do som da dublagem variando muito dentro de uma mesma cena de um mesmo personagem. Uma fala soa cristalina, mas logo depois o mesmo personagem soa como se o dublador estivesse a um metro de distância do microfone.

Incompetente em todos os níveis, assistir A Guerra das Comidas é uma experiência tão sofrida que é capaz de causar dor e mal estar físico em qualquer um desavisado o bastante para se submeter a essa atrocidade.

Trailer

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