quarta-feira, 7 de novembro de 2018

Crítica – Millennium: A Garota na Teia de Aranha


Análise Crítica – Millennium: A Garota na Teia de Aranha


Review – Millennium: A Garota na Teia de Aranha
Eu li toda a trilogia Millennium escrita por Stieg Larsson e também vi os filmes baseados na trilogia, tanto os três filmes suecos quanto a adaptação hollywoodiana do primeiro livro. Quando um quarto livro, A Garota na Teia de Aranha, foi anunciado em 2013, no entanto, não tive interesse em conferir, já que a nova história não seria feito pelo criador da trilogia (Larsson morreu em 2004), nem seria baseada em qualquer material ou rascunho deixado por ele, seria algo inédito feito por um novo escritor.

A escolha por recomeçar a franquia nos cinemas a partir deste quarto livro faz sentido de um ponto de vista estratégico. O segundo e o terceiro livro são praticamente uma narrativa única, então seria arriscado começar pelo segundo e deixar a história inacabada caso não fizesse sucesso (ou colocar muito dinheiro para fazer dois filmes de uma vez). O primeiro livro já tinha sido feito duas vezes, então sobrava o quarto livro, que poderia ser trabalhado para oferecer um ponto de entrada aos não iniciados, ao mesmo tempo que traria aos cinemas uma história que os fãs ainda não tinham visto em tela grande. Parecia ser o melhor dos dois mundos, mas o resultado final de Millennium: A Garota Na Teia de Aranha é algo que não parece capaz de satisfazer nenhum dos dois grupos.

Na trama, Lisbeth (Claire Foy) é contratada por um cientista sueco, Frans Balder (Stephen Merchant), para recuperar um perigoso software feito por ele que caiu nas mãos do governo dos Estados Unidos. Ao recuperar o programa, Lisbeth fica na mira de uma misteriosa organização criminosa. Acuada, ela pede ajuda do jornalista Mikael Blomqvist (Sverrir Gudnason) para investigar a nova ameaça.

Se em outros filmes (ou nos próprios livros) o foco era compreender Lisbeth, sua relação com o mundo e com Mikael, aqui o que mais importa é a ação e o suspense (mais até do que o trabalho investigativo), praticamente transformando Lisbeth em uma super-heroína ou em uma espiã ao estilo Jason Bourne. O diretor Fede Alvarez, responsável pelo bacana O Homem nas Trevas (2016), é competente em orquestrar perseguições e cenas de ação cheias de tensão, como a invasão ao abrigo de Balder ou o segmento em que Lisbeth resgata o agente Needham (Lakeith Stanfield) no aeroporto. A qualidade da ação é o que torna a fita minimamente satisfatória, já que todo o resto é bastante raso.

Claire Foy tem uma presença forte em cena como Lisbeth, mas o texto não lhe dá muito que fazer para explorar a complexidade da personagem, sendo esta possivelmente a versão mais superficial da famosa hacker. O mesmo pode ser dito Sverrir Gudnason (que viveu o tenista Bjorn Borg em Borg vs. McEnroe), cujo Mikael acaba sendo meramente um veículo para diálogos expositivos e explanações sobre a trama. Vicky Krieps, que roubou a cena de Daniel Day-Lewis em Trama Fantasma (2018), é desperdiçada como Erika, a editora de Mikael.

Subtramas são inseridas e depois completamente abandonadas sem qualquer repercussão. No início Mikael se mostra preocupado com o fato de ter precisado vender a revista e que o novo dono talvez tente controlar seu trabalho, mas isso é completamente esquecido posteriormente e as dificuldades do jornalista na redação de sua revista não tem qualquer importância.

Existem também algumas decisões estranhas em relação a este novo universo. Este deveria um novo começo, sem relação com as demais histórias, mas nesta trama não só Lisbeth e Mikael já se conhecem como também fica subentendido que os eventos da trilogia original de livros já aconteceram. Claro, tudo é vago o suficiente para deixar espaço para que as tais “investigações anteriores” de Mikael e Lisbeth não tenham qualquer relação com as histórias já conhecidas. De todo modo, os personagens referenciam tanto o passado em comum deles para justificar suas condutas que não sei até que ponto um neófito nesse universo será capaz de compreender plenamente quem são aquelas pessoas ou a importância delas.

É uma decisão criativa estranhíssima exigir que o espectador tenha algum conhecimento prévio desses personagens sendo que este deveria ser um “novo começo” para Lisbeth nos cinemas. Ao mesmo tempo, o texto desenvolve tão pouco seus personagens, quase não se debruçando sobre os elementos que tornam essas histórias tão singulares, que não sei se fãs de longa data irão se empolgar com essa versão diluída de personagens tão celebrados. Durante boa parte da projeção fiquei me indagando para quem esse filme foi feito. Afinal, ele não é exatamente amigável a novatos e é raso demais para os fãs, ficando em um morno meio-termo que provavelmente não deixará ninguém plenamente satisfeito.

Millennium: A Garota Na Teia de Aranha oferece boas cenas de ação, mas deixa de lado a personalidade singular de seus personagens, se contentando em ser um suspense genérico.


Nota: 5/10


Trailer

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