terça-feira, 27 de novembro de 2018

Crítica – Supa Modo


Análise Crítica – Supa Modo


Review – Supa Modo
O longa-metragem queniano Supa Modo começa com duas crianças estão assistindo a um exagerado filme de artes marciais oriental. O filme termina e as duas saem empolgadas, conversando sobre quem seria melhor, se Jet Li, Jackie Chan ou Bruce Lee. É uma conversa trivial, mas que ajuda a entender o tom do filme, já que logo depois da cena descobrimos que a garota, Jo (Stycie Waweru), está com câncer terminal e como só tem dois meses de vida, a família tirá-la do hospital para que ela passe os últimos dias em casa.

A escolha de mostrar Jo como uma criança como qualquer outra ao invés de já iniciar nos comunicando de sua grave doença ajuda que não a vejamos como uma coitada ou uma vítima, mas como uma garota cheia de vida e energia. Retornando à casa e sem perspectiva de melhora, a irmã de Jo, Mwix (Nyawara Ndambia), decide aproveitar o tempo que a irmã tem restando para fazê-la viver o sonho de ser uma super-heroína.

Poderia ser um dramalhão choroso, com todos lamentando o destino infeliz da criança, mas por mais que exista um componente de tragédia (e de fato existam momentos que façam chorar), Supa Modo é um filme que trata sobre a força dos sonhos, sobre a necessidade de termos ideais que nos inspirem e também sobre o fascínio do ato de fazer cinema. Como a história é contada quase toda do ponto de vista de Jo, alheia à sua condição terminal, a trama tem um clima mais lúdico, mais ingênuo, algo similar ao que aconteceu no recente Projeto Flórida (2018), que também acompanhava uma criança alheia à situação precária em que se encontrava.

As cenas em que os habitantes da vila atuam como se Jo realmente tivesse poderes divertem não apenas pelo absurdo da situação, mas pela honestidade ingênua com a qual são filmados, lembrando na importância da ludicidade, do faz de conta e como a imaginação é poderosa como ferramenta lúdica. Encanta pela maneira como nos mostra a preservação da inocência infantil da menina.

Além disso, a trama também é uma celebração ao ato de fazer cinema. Em um determinado momento da trama a vila inteira se organiza para realizar um filme idealizado por Jo. Nesse sentido, Supa Modo reafirma a função inspiradora da arte, como ela serve para inspirar e mobilizar as pessoas, servindo como veículo para dar voz e empoderar até mesmo aqueles que muitas vezes não são ouvidos ou representados por produções mainstream,

A ideia de realizar um filme de super-herói no interior do Quênia também serve para retratar o país como parte de uma cultura global, que afeta e é afetado pela produção cultural, longe de ser esse lugar ermo no qual só existem histórias de sofrimento a serem contadas.

Desta maneira, Supa Modo é um encantador lembrete da força dos sonhos, do encantamento da infância e da potência expressiva da arte audiovisual.

Nota: 9/10

Esse texto faz parte de nossa cobertura da Mostra de Cinemas Africanos em Salvador

Trailer


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