A Voz do Silêncio é um daqueles filmes que constroem um grande
mosaico de personagens, transitando entre diferentes histórias que
eventualmente se conectam de alguma maneira. Me lembrou bastante o excelente Magnólia (1999), de Paul Thomas
Anderson, não só pela sua estrutura de mosaico, como também pela temática de
pessoas solitárias em busca de afeto ou alguma conexão e pelo eventual uso de
uma ocorrência cósmica/fantástica/sobrenatural para arrematar todas essas
histórias. No filme de Anderson é uma chuva de sapos retirada do Velho
Testamento, aqui é um eclipse lunar que deixa a Lua vermelha.
Como acontece em muitas tramas
que saltam constantemente entre múltiplos personagens e narrativas, o resultado
aqui é irregular e nem todas as histórias envolvem como deveriam. A mais
eficiente é a que envolve uma mulher solitária em seu apartamento, interpretada
por Marieta Severo, falando sobre o filho que está viajando pelo mundo. É uma
das tramas que o filme dá mais tempo de tela e talvez seja por isso que ela
envolva mais que as demais, além, claro do trabalho de Marieta Severo como uma
senhora que parece cada vez mais deslocada da própria realidade e anestesiada
pela televisão.
Outras, por outro lado, tem
dificuldade em envolver por conta do pouco tempo que tem para desenvolver as
motivações complicadas de seus personagens ou não dão muitos motivos para o
público se conectar a eles. Um exemplo é o empresário interpretado por Nicola
Siri. Apesar da questão do endividamento ser algo com o qual qualquer um
consiga se relacionar, o fato dele constantemente ofender e maltratar seus
funcionários não nos dá muitos motivos para torcer por ele.
Uma situação semelhante ocorre
com o advogado cuja esposa está em estado grave no hospital. Apesar do drama
familiar solicitar nossa empatia, acabamos sentindo repulsa pelo personagem ao
vê-lo assediar praticamente todas as mulheres com quem tem contato. Claro, a
obsessão do personagem por sexo certamente está conectada com a carência
afetiva e física dele, como se ele estivesse buscando algo para tentar
compensar a falta da esposa, mas como o tempo dele em cena é relativamente
curto, boa parte dessa complexidade é perdida.
Quase todo filmado em closes, essa escolha deixa
constantemente os personagens sozinhos em quadro, ressaltando o isolamento
dessas pessoas. O design sonoro
preenche as tomadas com sons distantes de ruas em constante movimento,
denotando a imensa e incansável metrópole que existe para além dessas pessoas,
mas que de nada serve para aplacar a solidão delas. A música muitas vezes é
usada como o elemento conectivo entre as tramas, com uma canção iniciando em
uma cena e “vazando” para a seguinte já com outro personagem. Se há qualquer
dúvida sobre o tema do filme, elas são explicitadas pelo uso da música “Não Existe Amor em SP” de Criolo, que
serve como uma espécie de hino temático para o longa.
Apesar de trazer boas ideias, a
exploração sobre a solidão e o desamor em uma grande metrópole feita em A Voz do Silêncio acaba perdendo força
ao se diluir em um número muito grande de tramas que não tem tempo para serem
plenamente desenvolvidas.
Nota: 5/10
Trailer
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