quarta-feira, 21 de novembro de 2018

Crítica – A Voz do Silêncio


Análise Crítica – A Voz do Silêncio


Review – A Voz do Silêncio
A Voz do Silêncio é um daqueles filmes que constroem um grande mosaico de personagens, transitando entre diferentes histórias que eventualmente se conectam de alguma maneira. Me lembrou bastante o excelente Magnólia (1999), de Paul Thomas Anderson, não só pela sua estrutura de mosaico, como também pela temática de pessoas solitárias em busca de afeto ou alguma conexão e pelo eventual uso de uma ocorrência cósmica/fantástica/sobrenatural para arrematar todas essas histórias. No filme de Anderson é uma chuva de sapos retirada do Velho Testamento, aqui é um eclipse lunar que deixa a Lua vermelha.

Como acontece em muitas tramas que saltam constantemente entre múltiplos personagens e narrativas, o resultado aqui é irregular e nem todas as histórias envolvem como deveriam. A mais eficiente é a que envolve uma mulher solitária em seu apartamento, interpretada por Marieta Severo, falando sobre o filho que está viajando pelo mundo. É uma das tramas que o filme dá mais tempo de tela e talvez seja por isso que ela envolva mais que as demais, além, claro do trabalho de Marieta Severo como uma senhora que parece cada vez mais deslocada da própria realidade e anestesiada pela televisão.

Outras, por outro lado, tem dificuldade em envolver por conta do pouco tempo que tem para desenvolver as motivações complicadas de seus personagens ou não dão muitos motivos para o público se conectar a eles. Um exemplo é o empresário interpretado por Nicola Siri. Apesar da questão do endividamento ser algo com o qual qualquer um consiga se relacionar, o fato dele constantemente ofender e maltratar seus funcionários não nos dá muitos motivos para torcer por ele.

Uma situação semelhante ocorre com o advogado cuja esposa está em estado grave no hospital. Apesar do drama familiar solicitar nossa empatia, acabamos sentindo repulsa pelo personagem ao vê-lo assediar praticamente todas as mulheres com quem tem contato. Claro, a obsessão do personagem por sexo certamente está conectada com a carência afetiva e física dele, como se ele estivesse buscando algo para tentar compensar a falta da esposa, mas como o tempo dele em cena é relativamente curto, boa parte dessa complexidade é perdida.

Quase todo filmado em closes, essa escolha deixa constantemente os personagens sozinhos em quadro, ressaltando o isolamento dessas pessoas. O design sonoro preenche as tomadas com sons distantes de ruas em constante movimento, denotando a imensa e incansável metrópole que existe para além dessas pessoas, mas que de nada serve para aplacar a solidão delas. A música muitas vezes é usada como o elemento conectivo entre as tramas, com uma canção iniciando em uma cena e “vazando” para a seguinte já com outro personagem. Se há qualquer dúvida sobre o tema do filme, elas são explicitadas pelo uso da música “Não Existe Amor em SP” de Criolo, que serve como uma espécie de hino temático para o longa.

Apesar de trazer boas ideias, a exploração sobre a solidão e o desamor em uma grande metrópole feita em A Voz do Silêncio acaba perdendo força ao se diluir em um número muito grande de tramas que não tem tempo para serem plenamente desenvolvidas.

Nota: 5/10


Trailer

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