Os irmãos Coen já dirigiram
filmes em muitos gêneros diferentes e até já realizaram obras difíceis de
subscrever a um único gênero como o caso de Fargo
(1996). Agora, com este A Balada de
Buster Scruggs eles se aventuram no western
em um “filme de antologia” que nada mais é que uma série de curtas montados
juntos. Sim, eles são unidos pela ambientação no velho oeste e também pelo tema
da morte irônica e inesperada, com os destinos dos personagens sofrendo
inesperadas reversões, mas ainda assim, são desconectados um do outro o
suficiente para poderem ter sido lançados em episódios no formato de minissérie
ao invés de colados juntos em um filme.
Como a maioria dos filmes que
conta múltiplas histórias, A Balada de
Buster Scruggs é irregular. Isso se dá tanto por conta de algumas tramas
funcionarem bem melhor que outras como pelas mudanças bruscas de tom ou pelo
fato da duração de algumas histórias ser muito maior do que as outras dando a
impressão que de se estende mais do que deveria. É um pouco difícil saltar do
humor excêntrico dos dois primeiros curtas, protagonizados por Tim Blake Nelson
e James Franco respectivamente, para a melancolia da história encabeçada por
Liam Neeson envolvendo um jovem sem pernas e sem braços.
O segmento encabeçado por Zoe
Kazan, por outro lado, parece se estender mais do que deveria, principalmente porque
a essa altura já esperamos pelas reviravoltas inesperadas e eventuais mortes. A
última história traz um grupo de personagens dentro de uma carruagem e tem um
quê meio fantasioso ou sobrenatural que faz o esquete remeter a algo vindo da
série Além da Imaginação.
O tecido conectivo a tudo isso
são temas caros à filmografia dos Coen, como a inevitabilidade do destino ou as
ironias da vida. São personagens que se colocam em situações que não
compreendem plenamente e que para as quais não estão devidamente preparados,
cujas ações levam a consequências inesperadas que eles não sabem lidar criando
uma imensa bola de neve (ou feno, nesse caso) de estupidez e incompetência.
Nesse sentido, poderia funcionar
como uma espécie de síntese do cinema dos Coen, mas, ainda assim, não diria que
é um bom ponto de entrada para os neófitos no corpus de trabalho dos diretores, já que tudo isso está razoavelmente
diluído, sendo necessário um contato prévio com a obra deles para entender os
princípios que governam as escolhas por trás das muitas histórias narradas
aqui. Não há nada que da dupla de realizadores já não tenha trabalhado melhor
em filmes como Ajuste Final (1990), Fargo (1996), Queime Depois de Ler (2008), Um
Homem Sério (2009) ou Bravura
Indômita (2013).
Ainda assim, é belissimamente
filmado, com planos abertos que ressaltam o esplendor das matas, a aridez do
deserto e a imensidão dos espaços. O último segmento apresenta um trabalho
bastante atencioso de iluminação conforme a luz da carruagem se altera
vagarosamente para mostrar o pôr-do-sol e a chegada da noite. O elenco confere
ajuda a dar carisma aos pitorescos personagens criados pelos Coen, em especial
Tim Blake Nelson como Buster Scruggs e o músico Tom Waits como um excêntrico
garimpeiro.
Mesmo que irregular, A Balada de Buster Scruggs é uma
excêntrica antologia de western que
reverbera muito dos elementos típicos dos irmãos Coen.
Nota: 7/10
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