terça-feira, 4 de dezembro de 2018

Crítica – A Balada de Buster Scruggs


Análise Crítica – A Balada de Buster Scruggs


Review – A Balada de Buster Scruggs
Os irmãos Coen já dirigiram filmes em muitos gêneros diferentes e até já realizaram obras difíceis de subscrever a um único gênero como o caso de Fargo (1996). Agora, com este A Balada de Buster Scruggs eles se aventuram no western em um “filme de antologia” que nada mais é que uma série de curtas montados juntos. Sim, eles são unidos pela ambientação no velho oeste e também pelo tema da morte irônica e inesperada, com os destinos dos personagens sofrendo inesperadas reversões, mas ainda assim, são desconectados um do outro o suficiente para poderem ter sido lançados em episódios no formato de minissérie ao invés de colados juntos em um filme.

Como a maioria dos filmes que conta múltiplas histórias, A Balada de Buster Scruggs é irregular. Isso se dá tanto por conta de algumas tramas funcionarem bem melhor que outras como pelas mudanças bruscas de tom ou pelo fato da duração de algumas histórias ser muito maior do que as outras dando a impressão que de se estende mais do que deveria. É um pouco difícil saltar do humor excêntrico dos dois primeiros curtas, protagonizados por Tim Blake Nelson e James Franco respectivamente, para a melancolia da história encabeçada por Liam Neeson envolvendo um jovem sem pernas e sem braços.

O segmento encabeçado por Zoe Kazan, por outro lado, parece se estender mais do que deveria, principalmente porque a essa altura já esperamos pelas reviravoltas inesperadas e eventuais mortes. A última história traz um grupo de personagens dentro de uma carruagem e tem um quê meio fantasioso ou sobrenatural que faz o esquete remeter a algo vindo da série Além da Imaginação.

O tecido conectivo a tudo isso são temas caros à filmografia dos Coen, como a inevitabilidade do destino ou as ironias da vida. São personagens que se colocam em situações que não compreendem plenamente e que para as quais não estão devidamente preparados, cujas ações levam a consequências inesperadas que eles não sabem lidar criando uma imensa bola de neve (ou feno, nesse caso) de estupidez e incompetência.

Nesse sentido, poderia funcionar como uma espécie de síntese do cinema dos Coen, mas, ainda assim, não diria que é um bom ponto de entrada para os neófitos no corpus de trabalho dos diretores, já que tudo isso está razoavelmente diluído, sendo necessário um contato prévio com a obra deles para entender os princípios que governam as escolhas por trás das muitas histórias narradas aqui. Não há nada que da dupla de realizadores já não tenha trabalhado melhor em filmes como Ajuste Final (1990), Fargo (1996), Queime Depois de Ler (2008), Um Homem Sério (2009) ou Bravura Indômita (2013).

Ainda assim, é belissimamente filmado, com planos abertos que ressaltam o esplendor das matas, a aridez do deserto e a imensidão dos espaços. O último segmento apresenta um trabalho bastante atencioso de iluminação conforme a luz da carruagem se altera vagarosamente para mostrar o pôr-do-sol e a chegada da noite. O elenco confere ajuda a dar carisma aos pitorescos personagens criados pelos Coen, em especial Tim Blake Nelson como Buster Scruggs e o músico Tom Waits como um excêntrico garimpeiro.

Mesmo que irregular, A Balada de Buster Scruggs é uma excêntrica antologia de western que reverbera muito dos elementos típicos dos irmãos Coen.

Nota: 7/10


Trailer

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