Uma mulher e duas crianças caminham vendadas em meio a uma
floresta tomada por um nevoeiro. A mulher alerta as crianças para não tirarem
as vendas, pois se verem as criaturas invisíveis que tomaram nosso mundo,
correm o risco de morrer. No papel a premissa de Bird Box parece risível, mas funciona melhor na prática. A questão é que a
trama se pretende a um exame da erosão da sociedade diante de um ambiente
apocalíptico e também a uma metáfora sobre a maternidade e faz as duas coisas
apenas superficialmente.
Malorie (Sandra Bullock) está grávida e tem dúvidas se
conseguirá amar e criar vínculo com a criança que irá nascer. Em meio a esses
questionamentos, o mundo é tomado por um surto de insanidade, com pessoas
enlouquecendo e se matando aparentemente sem razão alguma. Não demora a
descobrirem que a razão de tudo isso são criaturas que, quando vistas, levam a
pessoa à loucura. A trama alterna duas temporalidades, o presente no qual
Malorie viaja com duas crianças através de um rio e o passado, com ela ainda
grávida refugiada em uma casa com outros sobreviventes.
A trama presente é bem mais interessante que a do passado,
já que esses flashbacks não tem muito
a apresentar além de uma coleção de lugares comuns de cenários
pós-apocalípticos. Como é habitual nesse tipo de história, os flashbacks mostram como os próprios
humanos podem ser mais perigosos que qualquer criatura, algo que filmes como O Nevoeiro (2007) já fizeram bem melhor,
e como o ser humano recorre à barbárie na ausência de leis ou regras.
Não ajuda também que o grupo de sobreviventes seja povoado
por personagens unidimensionais que refletem arquétipos tradicionais desse tipo
de história, do sujeito de bom coração, passando pelo babaca egoísta e à pessoa
ingênua que comete um erro fatal, já vimos todos esses personagens inúmeras
vezes. O elenco ajuda a dar alguma humanidade a esses tipos cansados, em
especial Trevante Rhodes (de Moonlight
e o recente O Predador) ou Lil Rel
Howery (de Corra!), mas alguns
outros, como John Malkovich, acabam caindo no caricatural.
Enquanto isso, a trama do presente é hábil em criar um clima
de isolamento e perigo constante com seu trio de personagens literalmente
viajando às cegas. Sandra Bullock é bastante eficiente ao evocar o desespero e
temor de Malorie em tentar conduzir sozinha e sem enxergar aquelas duas
crianças e a trama consegue criar boas situações de tensão envolvendo os três
personagens, em especial o clímax quando eles se separam em uma floresta. Não é
nada que já não tenhamos visto em outros filmes do gênero, como o recente Um Lugar Silencioso, mas é eficiente o
bastante para envolver. Na verdade, seria até possível dizer que este filme é
uma espécie de mistura entre Um LugarSilencioso e Fim dos Tempos (2008)
do M. Night Shyamalan.
Como mencionei antes, a viajem de Malorie com as duas
crianças pode ser entendida como uma metáfora para a maternidade e a jornada de
aceitação da personagem do seu papel como mãe. Ela precisa cegamente se
conectar a essas crianças e precisa fazer o seu melhor para mantê-las seguras e
preparadas para os desafios que encontrarão sem ter qualquer certeza de que
está fazendo a coisa certa ou de que as duas crianças irão obedecê-la.
Bird Box acaba
preso demais a convenções de histórias pós-apocalípticas, mas oferece momentos
de suspense suficientes para fazer a experiência ser minimamente aproveitável.
Nota: 6/10
Trailer
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