quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

Crítica – Bumblebee


Análise Crítica – Bumblebee


Review -  Bumblebee
Depois de ir piorando progressivamente a cada um de seus cinco filmes e chegando ao fundo do poço no péssimo Transformers: O Ùltimo Cavaleiro (2017), que inclusive rendeu abaixo do esperado, deixando evidente que a franquia precisava se reinventar se quisesse continuar relevante. Este Bumblebee acaba sendo o exato respiro criativo que o universo precisava, tanto em termos narrativos quanto em termos estéticos, já que o diretor Michael Bay, responsável por todos os filmes dos Transformers até então, sai para dar lugar a Travis Knight (que comandou a animação Kubo e as Cordas Mágicas) e a troca traz uma notável diferença.

A trama se passa na década de oitenta e é centrada na garota Charlie (Hailee Steinfeld). Prestes a completar dezoito anos, ela quer ganhar um carro de aniversário, mas sua família não tem condições. Tudo muda quando ela acha um Fusca amarelo em um ferro-velho e decide consertá-lo, descobrindo que o veículo era um Transformer danificado que tinha caído na Terra tempos atrás. Assim, a jovem começa a construir uma amizade com Bumblebee (voz de Dylan O’Brien) ao mesmo tempo em que ambos ficam na mira da perigosa Decepticon Shatter (voz de Angela Bassett), que está em busca de Bumblebee para obter a localização dos demais Autobots.

Fica no meio do caminho entre ser um prelúdio dos filmes anteriores e um completo reboot. Digo isso porque ele reconhece alguns elementos estabelecidos na mitologia dos filmes, como a existência de uma agência secreta do governo chamada Setor 7 ou a eventual mudança da forma veicular de Bumblebee para um Camaro, mas ignora outros, como o fato de que pela cronologia estabelecida o Setor 7 deveria estar de posse do corpo congelado de Megatron e o encontro com Shatter não seria o primeiro do grupo. Desta forma, a narrativa fica em um confuso e incômodo meio termo no qual não fica muito evidente se o filme intenta fazer uma ponte com os anteriores ou recomeçar tudo do zero.

Apesar de confuso em termos da mitologia do universo fílmico, a trama funciona pelo cuidado na construção da amizade entre o robô e a garota. A relação entre os dois acaba sendo para Charlie uma maneira de se reconectar a algo ou alguém depois da morte do pai e tentar seguir em frente com a vida. Hailee Steinfeld é ótima em transmitir esse senso de inadequação e isolamento da garota, que sente que o mundo saiu do eixo com a perda do pai e assim ela torna crível o vínculo forjado entre a protagonista e Bumblebee.

Ajuda também que o design do robô e os efeitos especiais o tornem bastante expressivo, sendo fácil compreender o que o personagem quer comunicar mesmo sem ele falar. Diferente do que acontecia nos outros filmes, há uma preocupação clara em desenvolver de maneira sincera a relação da garota com o robô e em virtude disso eu me vi verdadeiramente investido nos dois, algo que não acontecia quando Michael Bay estava à frente das câmeras.

Na verdade, a amizade entre Charlie e Bumblebee é tão encantadora que o coadjuvante/parceiro/interesse amoroso Memo (Jorge Lenderborg Jr) acaba soando deslocado do resto, não tendo nada de relevante a fazer no desenvolvimento da trama ou no arco dramático da protagonista. Ele poderia ter sido eliminado completamente da história que não faria diferença alguma. John Cena, por sua vez, confere intensidade ao antagonista Burns, sendo beneficiado por um roteiro que lhe dá uma motivação compreensível e evita que ele descambe para uma caricatura.

A ambientação oitentista ajuda a dar um clima similar a filmes de aventura feitos nesse período (ET de Steven Spielberg imediatamente vem à memória), mas por vezes o filme se vale da nostalgia apenas para gerar um humor raso baseado em um memorialismo vazio que apenas aponta elementos da cultura pop do período sem ter nada a dizer sobre eles. Sim, algumas referências acabam sendo importantes para o desenvolvimento do personagem, mas parte da nostalgia acaba servindo meramente de muleta afetiva, tal como aconteceu no superestimado Jogador NúmeroUm.

Já que falei anteriormente em design, os visuais dos Transformers agora estão mais alinhados com a aparência deles nos antigos desenhos animados. A mudança também ajuda a conferir personalidade a eles, já que exceto por Optimus e Bumblebee todos os demais pareciam enormes pilhas de sucata, muitas vezes sendo incompreensível a mudança da forma robótica para a forma veicular. As cenas de ação são beneficiadas pelo abandono a câmera trêmula e montagem epilética empregada por Michael Bay e agora se valem de planos um pouco mais longos e estáveis que trabalham em favor da ação ao invés de contra ela.

Livre dos vícios e cacoetes estilísticos de Michael Bay, assim como das inchadas tramas dos filmes anteriores, Bumblebee acerta ao focar na amizade entre seus protagonistas e em um clima de aventura mais despretensioso.


Nota: 7/10

Trailer

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