Famoso por seu trabalho como cartunista, mas tendo também
atuado como escritor, dramaturgo e até diretor de cinema, Henfil é uma figura
importante para a história política e cultural brasileira cuja trajetória
precisa ser examinada e conhecida. O documentário Henfil faz exatamente isso e é bem sucedido em evitar as armadilhas
comuns deste tipo de filme.
A trama é contada a partir da pesquisa de estudantes de
animação que pesquisam a vida e obra de Henfil para fazer um curta animado
sobre seus mais famosos personagens. A partir disso o público vai conhecendo o
cartunista a partir da pesquisa realizada pelos animadores. Com isso, o filme
se afasta dessa estrutura tradicional de apenas intercalar entrevistas e
imagens de arquivo, colocando o público para acompanhar a experiência de
aprendizado da equipe de animação, o manuseio que eles fazem das artes de
Henfil e as visitas de outros cartunistas, como Ziraldo e Jaguar, que vão ao
estúdio comentar sobre a obra do biografado.
Claro, ainda estão presentes as entrevistas estáticas e
imagens de arquivo, mas tudo é organizado sob o enquadramento dessa pesquisa
dos animadores cuja intenção não é apenas conhecer os eventos da vida de
Henfil, mas a gênese do seu gesto criativo. Entender porque ele produzia
charges e cartuns sobre determinados temas e também qual a razão dele fazê-las
do jeito que fazia, as suas escolhas estéticas, o tipo do traço e outros
elementos.
Nesse sentido, o documentário é bastante consistente em
mostrar as interseções entre vida e obra para nos explicar como uma coisa
impactou a outra, como determinados eventos motivaram seus desenhos mais
icônicos e elementos persistentes em sua vida, como os problemas de saúde
decorrentes de sua hemofilia, provavelmente motivaram os traços inquietos de
seus desenhos.
A narrativa também busca entender a intenção de Henfil sobre
seu trabalho e seu pensamento a respeito do ato de fazer comédia. Resgatando
imagens de arquivo, vemos como Henfil pensava no humor como uma ferramenta
crítica, usando a reversão de expectativa que é típica da comédia para mostrar
o que há por trás do discurso dos poderosos, revelando sua natureza parva e
rebaixando-os ao ridículo que de fato são para melhor critica-los.
Ao examinar a visão do cartunista sobre o humor, o filme
também relembra de sua importância para a história política do Brasil, tanto
sua postura constantemente crítica da ditadura militar quanto o papel central
que ele teve durante a campanha das Diretas Já, inclusive tendo cunhado o
termo. O documentário ainda analisa a obra de Henfil sobre o que ele chamava de
“síndrome de cucaracha” do brasileiro
(a versão dele sobre a famosa síndrome de vira-lata) considerando a contradição
de nossa população idolatrar tudo que vem dos Estados Unidos enquanto lá somos
considerados uma população a ser colonizada, algo que lamentavelmente encontra
eco com o momento político atual e o sujeito que hoje ocupa a Casa Branca.
Ao focar na pesquisa dos
animadores sobre a obra do famoso cartunista, o documentário Henfil produz uma reflexão consistente
sobre a trajetória do sujeito biografado e do que impelia seu processo
criativo.
Nota: 8/10
Trailer
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