sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

Crítica – Henfil


Análise Crítica – Henfil


Review – Henfil
Famoso por seu trabalho como cartunista, mas tendo também atuado como escritor, dramaturgo e até diretor de cinema, Henfil é uma figura importante para a história política e cultural brasileira cuja trajetória precisa ser examinada e conhecida. O documentário Henfil faz exatamente isso e é bem sucedido em evitar as armadilhas comuns deste tipo de filme.

A trama é contada a partir da pesquisa de estudantes de animação que pesquisam a vida e obra de Henfil para fazer um curta animado sobre seus mais famosos personagens. A partir disso o público vai conhecendo o cartunista a partir da pesquisa realizada pelos animadores. Com isso, o filme se afasta dessa estrutura tradicional de apenas intercalar entrevistas e imagens de arquivo, colocando o público para acompanhar a experiência de aprendizado da equipe de animação, o manuseio que eles fazem das artes de Henfil e as visitas de outros cartunistas, como Ziraldo e Jaguar, que vão ao estúdio comentar sobre a obra do biografado.

Claro, ainda estão presentes as entrevistas estáticas e imagens de arquivo, mas tudo é organizado sob o enquadramento dessa pesquisa dos animadores cuja intenção não é apenas conhecer os eventos da vida de Henfil, mas a gênese do seu gesto criativo. Entender porque ele produzia charges e cartuns sobre determinados temas e também qual a razão dele fazê-las do jeito que fazia, as suas escolhas estéticas, o tipo do traço e outros elementos.

Nesse sentido, o documentário é bastante consistente em mostrar as interseções entre vida e obra para nos explicar como uma coisa impactou a outra, como determinados eventos motivaram seus desenhos mais icônicos e elementos persistentes em sua vida, como os problemas de saúde decorrentes de sua hemofilia, provavelmente motivaram os traços inquietos de seus desenhos.

A narrativa também busca entender a intenção de Henfil sobre seu trabalho e seu pensamento a respeito do ato de fazer comédia. Resgatando imagens de arquivo, vemos como Henfil pensava no humor como uma ferramenta crítica, usando a reversão de expectativa que é típica da comédia para mostrar o que há por trás do discurso dos poderosos, revelando sua natureza parva e rebaixando-os ao ridículo que de fato são para melhor critica-los.

Ao examinar a visão do cartunista sobre o humor, o filme também relembra de sua importância para a história política do Brasil, tanto sua postura constantemente crítica da ditadura militar quanto o papel central que ele teve durante a campanha das Diretas Já, inclusive tendo cunhado o termo. O documentário ainda analisa a obra de Henfil sobre o que ele chamava de “síndrome de cucaracha” do brasileiro (a versão dele sobre a famosa síndrome de vira-lata) considerando a contradição de nossa população idolatrar tudo que vem dos Estados Unidos enquanto lá somos considerados uma população a ser colonizada, algo que lamentavelmente encontra eco com o momento político atual e o sujeito que hoje ocupa a Casa Branca.

Ao focar na pesquisa dos animadores sobre a obra do famoso cartunista, o documentário Henfil produz uma reflexão consistente sobre a trajetória do sujeito biografado e do que impelia seu processo criativo.

Nota: 8/10

Trailer


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