A primeira temporada da série documental Making a Murderer pegou todo mundo de
surpresa e se tornou uma sensação ao contar a história de Steven Avery, um
homem condenado por estupro que passou dezoito anos na prisão até que novas
evidências provaram sua inocência. Tempos depois ele é preso novamente sob uma
acusação de assassinato cuja obtenção de provas foi bastante suspeita. A
narrativa sobre um homem injustiçado envolvida em mistério e a possibilidade de
uma grande conspiração policial atraiu a atenção de muita gente, tornando a
série um sucesso e inclusive gerando consequências reais, com petições para
libertar Avery e movimentos a favor dele.
A série também foi alvo de críticas por sua parcialidade,
ficando do lado de Avery e da hipótese de sua inocência o tempo todo, e por
conta disso teria supostamente ignorado as evidências mais fortes que provavam
a culpa dele, focando a narrativa da série nas provas mais questionáveis. Essa
segunda temporada tenta responder a essas críticas ao mesmo tempo que acompanha
os novos desenvolvimentos nos casos de Steven e de seu sobrinho, Brendan, mas a
verdade é que não há muito material para justificar essa nova leva de dez
episódios.
A parte mais interessante da nova temporada diz respeito à
nova advogada de Steven, Kathleen Zellner. Especialista em reverter
condenações, a advogada revisa tanto as provas mostradas na primeira temporada
quantos as que não foram exibidas, mostrando que até aquelas deixadas de fora
do ano de estreia da série são altamente questionáveis. O exame das provas é
bem detalhado e cria um argumento convincente de que algo está errado com o
caso de Steven. O exame das provas também mostra como esse segundo ano teve um
orçamento maior, com uso de drones e tomadas aéreas para reconstituir o trajeto
dos personagens, além de gráficos e outros elementos visuais.
Há também um episódio mais focado no promotor responsável
pela segunda condenação de Avery, provavelmente feito para mitigar as críticas
de parcialidade. Ao final de cada episódio também há uma cartela com uma longa
lista de pessoas que não quiseram falar para o documentário. O intuito,
imagino, deve ser evidenciar que a falta de outras vozes além do lado de Avery
não é por falta de esforço da produção da docussérie.
O restante dos elementos da temporada, por outro lado, não
tem muita novidade a oferecer. A despeito de uma vitória inicial, o processo de
apelação envolvendo Brendan é marcado por sucessivas derrotas e todo o arco do
personagem poderia ser resumido em apenas um episódio, já que a boa parte da
temporada é passada com os advogados dele fazendo os mesmos argumentos
repetidamente.
Do mesmo modo, como não há muito de novo no processo de
reversão da condenação de Steven, há uma quantidade enorme de tempo dos
episódios que é gasta mostrando o cotidiano da família dele e as dificuldades
que eles enfrentam. Essas cenas pesam a mão no sentimentalismo e tentam apelar
para a emoção de modo a angariar simpatia por Steven, o que soa exagerado e
desnecessário considerando a quantidade de argumentos consistentes (e de cunho
jurídico) que a série tem para questionar a condenação de Steven.
Boa parte dessas cenas também soa forçada, já que muitos dos
problemas enfrentados pela família, como o problema de joelho da mãe de Steven,
não tem relação alguma com o fato dele estar preso, mais parecendo que estão
ali apenas para encher o tempo dos episódios e fazer o material render mais uma
temporada. Teria sido melhor diminuir a minutagem dos episódios, fazer menos
episódios ou até esperar mais um pouco para lançar mais uma temporada, Esta
segunda temporada de Making a Murderer
não demonstra ter material suficiente para justificar seus dez episódios de
quase uma hora de duração nem tem nada de muito novo em termos do
desenvolvimento das histórias de seus protagonistas.
Nota: 5/10
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