Os Homens São de Marte
e é Pra Lá Que Eu Vou (2014) era uma comédia morna, excessivamente colada
nos clichês do gênero, mas obteve sucesso suficiente para render uma
continuação neste Minha Vida em Marte,
que apresenta uma trama difusa e que perde de vista sua protagonista.
O casamento entre Fernanda (Mônica Martelli) e Tom (Marcos
Palmeira) esfriou. Eles mal conversam, mal transam e só dialogam para falar
sobre a filha. A falta de interação entre os dois leva Fernanda a conversar com
o amigo Aníbal (Paulo Gustavo) e repensar a relação.
Assistindo o filme, a impressão é que Paulo Gustavo entrou
armado no set e tomou toda a produção
de refém, já que seu personagem, que deveria ser o típico melhor amigo
engraçadinho, acaba tendo mais espaço e mais falas do que a própria
protagonista do filme. Não importa qual o teor da conversa ou quão dramática,
Aníbal sempre tem longos comentários venenosos a fazer sobre o que quer que
esteja ao seu redor, mesmo que não faça nenhum sentido que aquilo fosse dito na
situação, como nos momentos em que ele faz comentários maldosos para as
clientes de sua empresa de eventos, o que é mais grosseiro do que engraçado.
Mais que isso, muitas cenas consistem de Fernanda e Aníbal
caminhando por algum espaço, como um sex shop ou uma galeria, enquanto Aníbal
faz piada com tudo que está ao seu redor. Todas essas cenas pecam pela falta de
timing, deixando os diálogos
improvisados correrem soltos mesmo quando a piada já foi compreendida e se
esgotou, mas os atores, especialmente Gustavo, continuam tentando render a
piada e cansam pela repetição, algo que já tinha acontecido com o ator em Minha Mãe é Uma Peça 2 (2016). Com isso
a trama fica difusa, perdida no meio de um monte de cenas que parecem esquetes
soltos e sem muito propósito. Em geral dizer que um ator rouba a cena é um elogio,
mas nesse caso acaba sendo um problema, prejudicando o andamento da trama e
sacrificando o arco da protagonista.
Em um dado momento da narrativa, Fernanda e Aníbal decidem
ir para Nova Iorque, mas a viagem consiste de um monte de cenas externas dos dois
andando pelas ruas e conversando sobre os letreiros das ruas e outras
banalidades que fazem pouco para avançar a trama.
Sim, existem alguns momentos verdadeiramente engraçados,
como a cena em que Aníbal mostra a Fernanda as piores fotos da relação dela com
o marido. A cena em que Fernanda e Tom vão a uma pousada para tentarem se
reconectar faz rir ao desconstruir alguns clichês de filmes de romance,
mostrando que sexo na banheira na verdade é desconfortável e pouco prático ou
que ninguém consegue transar logo depois de uma refeição completa e algumas
taças de vinho. Ainda assim, é muito pouco para compensar as quase duas horas
de projeção.
O arco de Fernanda também não é lá muito interessante, por
conta das situações óbvias que constrói ao redor dela. O início do filme tenta
criar uma incerteza se ela deve ou não se divorciar do marido, mas o
comportamento de Tom é tão exageradamente desinteressado, inconveniente,
machista e sem consideração com a companheira, tomando inclusive decisões
significativas (como alterar os chuveiros ou dar um animal de estimação para a
filha) sem sequer conversar com a esposa que não há qualquer dúvida que ela irá
deixá-lo.
Em outra cena, ela e Aníbal chegam a um restaurante e veem
Tom com uma nova namorada. Imediatamente imaginamos que Fernanda tentará sair
de fininho, mas acabará fazendo alguma trapalhada que chama a atenção do ex,
obrigando-a a falar com ele e é exatamente o que acontece. Como não surpresa,
não há inversão ou subversão de expectativas, o que deveria ser engraçado se
torna um mero exercício de paciência.
Não ajuda que a protagonista resuma sua vida pós-separação a
tentar deixar de ser solteira novamente, como se ela não pudesse viver sem um
relacionamento. Sim, ela eventualmente chega a uma epifania de que não precisa
estar com um homem para se sentir bem, mas é um desenvolvimento que nunca soa
merecido, já que a trama não chega a construir nada que motive essa mudança de
perspectiva, ela simplesmente tem essa revelação e pronto.
Do mesmo modo, é curioso que durante essa epifania a
protagonista mencione a importância de sua amizade com Aníbal, mas em nenhum
momento mencione a filha, que desaparece por completo do filme por volta da
metade da projeção. Logo quando anuncia a separação Fernanda chega a ter um
diálogo em que diz estar preocupada em como a filha irá reagir, mas o filme
nunca se importa em mostrar isso e essa fala da personagem não tem qualquer
repercussão na trama. As constantes narrações de Fernanda soam redundantes na
maioria das vezes, visto que a personagem apenas diz o que já é possível ver
através das imagens, como o fato dela estar se sentindo triste ou desiludida ou
narrar ações que a estamos vendo executar.
Sem foco, sem timing
e com um arco dramático frouxo que praticamente torna a protagonista uma
coadjuvante da própria história, Minha
Vida em Marte é uma mera repetição de lugares lugares-comuns e piadas
cansativas.
Nota: 4/10
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