A jornada de Mogli:
Entre Dois Mundos para chegar a ser exibido ao público não foi fácil. O
projeto, dirigido pelo ator Andy Serkis, foi anunciado pela Warner quase que ao
mesmo tempo em que a Disney divulgava um remake
com atores da animação Mogli: O Menino
Lobo. Os dois filmes estavam marcados para estrear no mesmo ano, mas a
Warner preferiu adiar sua versão a competir com a encarnação mais famosa da
Disney. Um ano passou e nada de Mogli:
Entre Dois Mundos estrear até que em 2018, quase dois anos depois da data
marcada para sua estreia, foi anunciado que a Netflix comprou o filme da Warner
e o distribuiria mundialmente em seu serviço de streaming.
Dada a demora em levar o filme ao público e a eventual
desova dele na Netflix pelo estúdio, a impressão é que a Warner estava querendo
se livrar de um potencial fracasso financeiro e diminuir suas perdas com filme,
tal qual a Paramount fez ao largar o péssimo The Cloverfield Paradox (2018) no colo da Netflix. A impressão se confirma
ao assistir o filme, pois embora ele não seja uma bomba insuportável de
assistir, tem poucos atributos para realmente envolver o público, sendo uma
experiência apática.
A trama é a mesma que todo mundo já conhece: a família de
Mogli (Rohan Chand) é morta pelo cruel tigre Shere Khan (Benedict Cumberbatch),
mas o garoto sobrevive. Mogli cresce na selva, criado por lobos e sendo
tutelado pela pantera Bagheera (Christian Bale) e pelo urso Baloo (Andy
Serkis). Conforme Mogli cresce, mais difícil fica protegê-lo de Shere Khan e
Bagheera acha melhor que ele vá viver entre os humanos.
Andy Serkis tenta trazer um olhar mais maduro e um pouco
mais sombrio para a já conhecida história, mostrando Mogli com várias
cicatrizes em virtude de seus embates com Shere Khan. A despeito das intenções
de Serkis, no entanto, a narrativa revisita as mesmas batidas de todas as
outras versões ao falar sobre a necessidade do homem saber conviver com a
natureza ou sobre Mogli ser uma cria de dois mundos (e nesse sentido, o
personagem quase vira um Tarzan genérico), podendo comandar tanto homens quanto
animais. E, desta maneira, o prometido novo olhar nunca se concretiza e o filme
não tem nada a dizer que já não tenha sido dito por muitas outras versões.
Apesar do esforço em explorar o senso de deslocamento de
Mogli frente a animais e humanos, mas o garoto Rohan Chand muitas vezes não dá
conta de construir a complexidade de emoções que o texto requer do personagem,
fazendo todo o esforço do texto ficar raso. Do mesmo modo, a maneira como
Serkis filma visa mostrar a selva como um espaço cheio de esplendor e perigo,
mas os efeitos especiais irregulares prejudicam essa construção visual.
Quando eles funcionam, como no momento em Mogli encontra um
enorme elefante com uma presa quebrada e coberta de musgo, conseguimos embarcar
no encantamento e temor que o filme quer nos deixar imersos. Por outro lado, em
muitas tomadas os efeitos especiais sequer parecem estar plenamente finalizados
ou renderizados, deixando claro que Mogli está sozinho em um chroma key vazio e quebrando a imersão.
Isso fica evidente, por exemplo nas reuniões da alcateia de lobos, cuja
paisagem ao fundo soa claramente artificial. A impressão é que o estúdio
desistiu do filme no meio da pós-produção ao perceber que não teria como lucrar
em cima dele e resolveu passá-lo adiante mesmo com muitas tomadas toscas de
efeitos especiais.
Mogli: Entre Dois
Mundos falha em acrescentar novos elementos a uma história conhecida e, apesar da paixão que Andy Serkis demonstra pelo material, o resultado é algo
emocionalmente inane.
Nota: 5/10
Trailer
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