Não imaginei que a Disney faria outro filme com a babá Mary
Poppins, afinal é notório que a escritora P.L Travers não gostou do que Walt
Disney fez com sua personagem no filme de 1964 estrelado por Julie Andrews, uma
história que também já foi contada nos cinemas em Walt nos Bastidores de Mary Poppins (2013), ainda que o filme
alivie um pouco as animosidades entre Travers e Disney. A questão é que o
estúdio conseguiu fazer um acordo com o espólio da escritora e assim chegamos a
este O Retorno de Mary Poppins.
Na trama, as crianças Banks do primeiro filme já estão
adultas. Michael (Bem Winshaw) é um pai viúvo de três crianças e está prestes a
perder a casa, enquanto Jane (Emily Mortimer) é uma líder sindical que tenta
organizar os trabalhadores durante o período de crise econômica. Assim, Mary
Poppins (Emily Blunt) mais uma vez aparece na vida dos Banks, dessa vez sendo
auxiliada por Jack (Lin-Manuel Miranda) um trabalhador que cuida das lamparinas
das ruas.
É praticamente a mesma trama do original, com Poppins
aparecendo para auxiliar a família Banks em um momento no qual o patriarca
adulto está sobrecarregado com suas responsabilidades e as crianças precisam
aprender a lidar com esses problemas. A babá então ensina o adulto a se
reconectar com sua criança interior ao mesmo tempo em que ensina as crianças a
lidar com as dificuldades e responsabilidades através de situações fantásticas
e números musicais.
Claro, o filme mantém esse senso de fantasia e ludicidade a
partir das “viagens” que as crianças fazem com Mary Poppins por lugares
coloridos e visualmente impressionantes, nos quais a babá lhes ensina lições
importantes como não julgar as pessoas pela aparência, o valor em ver as coisas sob perspectivas diferentes ou a lidar com o luto
pela perda da mãe. Tal como no primeiro filme, existem algumas cenas em que os
personagens humanos interagem com animais animados e o filme preserva a
estética de animação feita à mão do filme original. O segmento em que eles
viajam por uma tigela de porcelana impressiona pelo visual colorido, pela
maneira como os figurinos dos atores se transformam para remeter a roupas de
desenho animado e também pela atenção aos efeitos sonoros, já que os passos dos
personagens de fato soam como se eles estivessem pisando sobre uma superfície
de porcelana.
Emily Blunt evita imitar o que Julie Andrews fez como
Poppins e dá sua própria versão da personagem, trazendo uma altivez semelhante,
mas um pouco mais de rigidez e vaidade à babá, curiosamente aproximando mais a
personagem de sua contraparte literária. Já Lin-Manuel Miranda enche Jack de
charme e energia, ainda que seu sotaque britânico seja quase tão exagerado
quanto o de Dick Van Dyke como Bert no filme original.
O que falta em “britanicidade” a Miranda é compensado por
ele nos números musicais, já que as melhores canções pertencem a ele, seja o
número que ele divide com Mary dentro do universo animado, seja a canção em que
ele fala sobre a iluminação da cidade. Blunt, por sua vez, é responsável pela
emotiva canção sobre superar perdas e alguns outros números bem carismáticos,
ainda que nenhuma canção grude na cabeça como as do original (e, convenhamos,
seria difícil superar algo como Supercalifragilisticexpialidocious).
Bem Winshaw e Emily Mortimer têm bastante química e unidade
como os irmãos Banks adultos, mas Jane Banks acaba sendo posta em escanteio
pelo roteiro, se limitando a uma subtrama romântica com Jack. Toda a construção
dela como líder sindical, por outro lado, acaba não tendo impacto algum na
narrativa e a personagem poderia ter qualquer outra ocupação que não faria
muita diferença.
No fim, O Retorno de
Mary Poppins não consegue superar ou se aproximar do impacto do original (e
dificilmente teria como), mas apresenta uma aventura musical com charme,
senso de espetáculo e lições importantes sobre responsabilidade, família e
preservar a criança interior.
Nota: 6/10
Trailer
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