quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

Crítica - Vice


Análise Crítica - Vice


Review - Vice
Espera-se que uma biografia exiba algum esforço para entender quem foi o sujeito biografado, o que motivou suas ações ou como ele se tornou daquele jeito, o que moldou seu caráter, seus anos formativos. Vice, cinebiografia do ex-vice-presidente Dick Cheney, exibe uma ampla pesquisa sobre os fatos da vida do político e empresário, mas não parece interessado em entendê-lo.

A narrativa acompanha a trajetória política de Cheney (Christian Bale), do seu começo trabalhando com Donald Rumsfeld (Steve Carell) até o momento em que se tornou vice-presidente do governo de George W. Bush (Sam Rockwell), passando a exercer um poder e influência que nunca se viu de um vice.

O filme trabalha para mostrar como Cheney foi diretamente responsável por políticas que afetam os Estados Unidos até hoje, apontando-o como o responsável pela ascensão de figuras cada vez mais reacionárias como o criador da Fox News Roger Ailes ou mesmo do atual governo. Ao longo da projeção vemos como Cheney manipulou e dobrou o sistema político do país para deixá-lo subjugado a interesses corporativos e não ao bem comum, pensando mais no próprio enriquecimento e no de seus parceiros comerciais do que no bem da população.

terça-feira, 29 de janeiro de 2019

Crítica – A Sereia: Lago dos Mortos


Análise Crítica – A Sereia: Lago dos Mortos


Review – A Sereia: Lago dos Mortos
O terror russo A Sereia: Lago dos Mortos mostra que as distribuidoras brasileiras não entendem a razão do público pedir filmes legendados. Imagino que os distribuidores pensam que espectadores que gostam de filmes legendados apreciam ler legendas. Essa é a única explicação para que A Sereia: Lago dos Mortos chegue aqui dublado em inglês com legendas em português ao invés de legendado com o áudio original em russo ou simplesmente dublado em português. Se alguém ainda não entendeu, algumas pessoas preferem legendado para ter acesso ao áudio original, então exibir cópias legendadas com áudio dublado em outro idioma não faz sentido.

A trama acompanha os noivos Roman (Efim Petrunin) e Marina (Viktoriya Agalakova), que estão prestes a casar. Roman ganha do pai uma antiga casa de campo como presente de casamento e ao chegar lá encontra uma sereia no lago aos fundos da propriedade. Vítima da maldição da criatura, ele precisa achar um jeito de quebrar o encanto.

A ideia de um terror calcado na figura da sereia poderia render algo diferente, mas o filme escolhe os caminhos mais convencionais possíveis. A produção ao menos faz algum esforço em criar uma atmosfera sinistra, em especial na sombria e decrépita casa de campo, o problema é que o texto nunca tem nada interessante a dizer ou mostrar sobre esses lugares ou personagens.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

Lixo Extraordinário – O Sacrifício


Resenha  – O Sacrifício


Review  – O SacrifícioEm termos de produção, O Sacrifício é o melhor filme tratado até agora nessa coluna, já que é realmente um filme feito com orçamento profissional, diretor e elenco conhecidos e um relativo esmero na construção de sua atmosfera (A Reconquista até tinha atores conhecidos, mas sua produção era tosquíssima e parecia um seriado da década de 60). Ter uma boa produção, no entanto, não impediu que este filme acabasse sendo muito ruim. Felizmente ele é daquele tipo de filme ruim que constantemente descamba para a comédia involuntária e com isso se torna divertidíssimo de assistir.

O Sacrifício é um remake do clássico cult britânico O Homem de Palha (1973), embora não chegue aos pés do original. A trama é centrada em Edward (Nicolas Cage), um policial que um dia recebe uma carta de Willow (Kate Beahan), uma antiga ex-namorada pedindo ajuda para encontrar a filha perdida. Willow mora em uma isolada ilha na costa do Pacífico e diz que alguém da pequena comunidade deve ter sequestrado a filha dela. Assim, Edward viaja até a ilha e aos poucos percebe os segredos sombrios da pequena comunidade.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

Crítica – Fyre Festival: Fiasco no Caribe


Análise Crítica – Fyre Festival: Fiasco no Caribe


Review – Fyre Festival: Fiasco no Caribe
Em 2017 o Fyre Festival foi vendido como o próximo grande festival de música. Mais que música, o festival seria uma experiência. As pessoas iriam para uma exótica ilha nas Bahamas, uma ilha que teria pertencido ao traficante Pablo Escobar, ficariam em casas de luxo de frente para o mar, conviveriam com celebridades e top models durante a estadia e, claro, assistiriam shows de grandes bandas. A questão é que o público pagante e até mesmo os convidados não receberam nada do que foi prometido.

Dirigido por Chris Smith, responsável pelo ótimo Jim & Andy: The Great Beyond (2017), o documentário faz uma crônica do desastre anunciado que foi a organização do evento. O festival, por sinal, deveria ser apenas uma plataforma para divulgar o aplicativo Fyre, uma espécie de Uber para artistas no qual o usuário poderia contratar diretamente artistas da música para shows privados.

Muito do tempo é usado para nos explicar quem é Billy McFarland, o empresário responsável pelo festival e o aplicativo Fyre. A narrativa nos mostra o histórico de diferentes empreendimentos fraudulentos de McFarland e como ele é mais um estelionatário do que empreendedor. Imagens de arquivo e depoimentos de funcionários que trabalharam com Billy na organização do festival ou na criação do aplicativo descrevem um sujeito que parecia não se importar nem um pouco com os problemas e potenciais riscos ao consumidor que eram comunicados a ele e constantemente mandava os empregados maquiarem esses problemas ao invés de resolvê-los. Em um dado momento um dos funcionários narra que Billy pediu que ele fizesse sexo oral em um oficial da alfândega das Bahamas para poder liberar mercadorias que estavam transportando para o festival.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

Crítica – Green Book: O Guia


Análise Crítica – Green Book: O Guia


Review – Green Book: O GuiaGreen Book: O Guia é o tipo de filme que sempre ganha evidência durante a chamada “temporada de premiações” (como Oscar, Globo de Ouro, etc). Um filme que trata de um problema social complexo de maneira acessível (e por vezes rasa), mas que trabalha para mandar seu público para casa se sentindo bem após a sessão, mesmo confrontado com problemas sociais sérios.

A narrativa é baseada na história real de Tony “Lip” Villalonga (Viggo Mortensen) que, durante a década de 60, passa a trabalhar de motorista para o pianista negro Don Shirley (Mahershala Ali) durante uma turnê pelos estados do extremo sul dos Estados Unidos que ainda mantinham leis de segregação racial.

É basicamente Conduzindo Miss Daisy (1989), mas com a dinâmica étnica invertida e desde os primeiros minutos sabemos que os dois protagonistas forjarão uma grande amizade na qual aprenderão valiosas lições um com o outro. Tony irá aprender a ser menos malandro e mais sensível enquanto que Don vai aprender a ser menos rígido e certinho.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

Crítica - Creed 2


Análise Crítica - Creed 2


Review - Creed 2
Eu não esperava que Creed (2016) fosse tão bom como foi, mas o resultado era bastante digno do legado do universo criado por Sylvester Stallone, apresentando novos e interessantes personagens, além de levar velhos conhecidos por novos caminhos. Creed 2, por sua vez, não tem o mesmo frescor do primeiro, mas ainda assim é um desenvolvimento competente do que foi apresentado no filme anterior.

A narrativa começa com Adonis Creed (Michael B. Jordan) se tornando campeão dos pesos-pesados. Após ganhar atenção da mídia mundial, Adonis é desafiado por Viktor Drago (Florian Munteanu), filho de Ivan Drago (Dolph Lundgren), o boxeador que matou Apollo Creed (Carl Weathers) e foi derrotado por Rocky (Sylvester Stallone). Sentindo a necessidade de defender a memória do pai, Adonis decide aceitar a luta mesmo com os conselhos contrários de Rocky, da mãe e da noiva, Bianca (Tessa Thompson).

Apesar de remeter a eventos de Rocky IV (1985), a estrutura da trama é mais parecida com a de Rocky III: O Desafio Supremo (1982), com o protagonista recebendo um desafio de um lutador novato e bruto, embarcando em uma luta para a qual não estava plenamente preparado e precisando se refazer depois. Nesse sentido, Creed 2 acaba sendo bem mais previsível do que seu antecessor, repetindo batidas já conhecidas e deixando pouca dúvida em relação ao que vai acontecer.

terça-feira, 22 de janeiro de 2019

Crítica – Sou Carnaval de São Salvador


Análise Crítica – Sou Carnaval de São Salvador


Review – Sou Carnaval de São Salvador
O carnaval da cidade de Salvador é um fenômeno bastante amplo e poderia ser observado sob diferentes pontos de vista, como manifestação cultural, como negócio, como ferramenta política, pela produção musical. Cada um desses aspectos renderia um documentário inteiro por si só e Sou Carnaval de São Salvador tenta a difícil tarefa de falar de tudo isso de uma vez só.

Narrado pelo ator João Miguel, o documentário demonstra uma ampla pesquisa histórica a respeito desta festa popular, explicando com clareza as origens do tema, as diferentes formas que a festa teve ao longo dos anos e também como as diferentes matrizes culturais influenciaram tanto na estrutura da festa quanto nos ritmos musicais tocados. Inclusive há um segmento considerável no qual músicos e maestros explicam de maneira bem didática a influência de deferentes estruturas rítmicas tornando um conhecimento bastante específico acessível até mesmo para leigos. É possível ver a paixão do filme pelo carnaval soteropolitano e o esforço em transmitir essa paixão para o espectador, com muito desse afeto emergindo da acertada narração de João Miguel.

Conheçam os indicados ao Oscar 2019


Oscar nominees 2019

A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas divulgou hoje, 22 de janeiro, os indicados para a 91ª edição do Oscar. Liderando em número de indicações estão Roma e A Favorita, ambos com dez indicações cada. Pantera Negra fez história ao ser o primeiro filme de super-herói a ser indicado como melhor filme e levou sete indicações ao todo. A entrega dos prêmios acontecerá no dia 24 de fevereiro e depois da polêmica envolvendo o comediante Kevin Hart, a cerimônia não terá um apresentador fixo, contando com diferentes celebridades para apresentar cada bloco da premiação. Confiram abaixo a lista completa de indicados.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

Crítica – A Favorita


Análise Crítica – A Favorita


Review – A Favorita
O diretor grego Yorgos Lanthimos constantemente recorre a narrativas que flertam com o fantástico, o sobrenatural e o surrealismo. Nesse sentido, A Favorita é talvez seu filme mais “normal”, mas isso não significa que temas caros ao diretor, como sua investigação do que há no ser humano para além do seu verniz de civilidade, estejam ausentes de seu mais recente trabalho.

A trama se passa na Inglaterra do início do século XVIII durante o reinado da Rainha Anne (Olivia Colman). O país está envolvido em uma dispendiosa guerra e a monarca não vai bem de saúde, delegando a maioria de suas atividades à Lady Sarah (Rachel Weisz), que goza de extrema confiança e favorecimento da rainha. As coisas começam a mudar quando Abigail (Emma Stone), prima distante e pobre de Sarah, chega ao palácio para trabalhar como criada da prima. Abigail aproveita a proximidade da prima com a rainha como uma oportunidade de recuperar o status de outrora, mas para isso precisará tomar o lugar de Sarah como favorita da rainha.

Conheçam os indicados ao Framboesa de Ouro 2019


Razzies 2019


O Framboesa de Ouro (ou Razzies em inglês), premiação que “celebra” os piores filmes do ano, divulgou hoje seus indicados. Liderando a premiação com maior número de indicações está Gotti, que ainda não foi lançada comercialmente no Brasil. Dirigido por Kevin Connoly (o Eric da série Entourage) o filme é uma biografia do mafioso John Gotti com John Travolta no papel principal. Além de Gotti, Robin Hood: A Origem e Cinquenta Tons de Liberdade, ambos presentes em nossa lista de piores filmes de 2018, também receberam múltiplas indicações. A entrega dos Framboesas acontecerá no dia 23 de fevereiro, um dia antes do Oscar. Confiram abaixo a lista completa que indicados.

domingo, 20 de janeiro de 2019

Crítica – O Justiceiro: 2ª Temporada

Análise Crítica – O Justiceiro: 2ª Temporada


Review – O Justiceiro: 2ª Temporada
Considerando que a Netflix vem cancelando todas as suas séries com a Marvel em virtude de seu contrato de parceria estar chegando ao fim e a Disney/Marvel estar criando uma plataforma própria streaming, não estava particularmente empolgado para assistir essa segunda temporada de O Justiceiro apenas para que ela fosse cancelada algumas semanas depois de ser disponibilizada independente do quão boa seja. Demolidor, por exemplo, entregou uma excelente terceira temporada e ainda assim foi cancelada por conta do iminente fim da parceria entre Marvel e Netflix, então é bem provável que O Justiceiro também seja, mesmo com esse segundo ano sendo razoavelmente tão bom quanto o primeiro.

Frank Castle (Jon Bernthal) está viajando pelo interior dos Estados Unidos tentando reconstruir sua vida. Ele conhece Beth (Alexa Davalos) em um bar e se mostra disposto a se envolver com outra pessoa. Tudo muda quando ele vê a garota Amy (Giorgia Wingham) sendo perseguida por um grupo de criminosos e decide intervir. Aparentemente a jovem carrega consigo um rolo de filme contendo material comprometedor e alguém poderoso quer garantir que ela e o material sejam destruídos, colocando o assassino John Pilgrim (Josh Stewart) no rastro da garota. Ao mesmo tempo, Billy Russo (Ben Barnes) acorda do coma depois de quase ter sido morto por Frank na temporada anterior. Sem memória do que ocorreu, Billy quer descobrir quem destruiu seu rosto.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

Crítica – Histórias Que Nosso Cinema (Não) Contava


Análise Crítica – Histórias Que Nosso Cinema (Não) Contava


Review Crítica – Histórias Que Nosso Cinema (Não) Contava
A pornochanchada é uma espécie de “gênero maldito” do cinema brasileiro, talvez o único que ainda não foi plenamente redimido tal como aconteceu com as chanchadas dos anos 30 e 40 ou o Cinema Marginal. A pornochanchada tinha esse nome por misturar narrativas eróticas, sexuais e carregadas de nudez com um quê de comédia popular, tal como as antigas chanchadas, daí o termo “pornochanchada”. O documentário Histórias Que Nosso Cinema (Não) Contava tenta restaurar a memória desse gênero maldito e examinar o que eles tinham a dizer.

A diretora Fernanda Pessoa fez um enorme trabalho arquívistico em coletar uma quantidade enorme de filmes do período e vai montando cenas dos filmes pesquisados para mostrar os diferentes e recorrentes temas que apareciam nas produções do gênero. A ideia parece ser demonstrar a importância da preservação desses filmes ao mostrar o quanto eles refletiam a sua época, para o bem e para o mal, lembrando que mesmo a mais a arte considerada por muitos como “baixa” (e coloco o termo entre aspas por não crer que exista essa separação entre alta ou baixa arte e cultura) pode ser um veículo para compreendermos um momento da nossa história.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

Crítica – Sex Education: 1ª Temporada


Análise Crítica – Sex Education: 1ª Temporada


Inicialmente essa primeira temporada de Sex Education parece uma versão um pouco mais cômica de Skins, série britânica sobre os relacionamentos e descobertas sexuais de um grupo de jovens. Bem, na prática é quase isso mesmo, mas alcança um ótimo equilíbrio entre drama e humor, compreendendo os anseios da juventude ao mesmo tempo em que brinca com as situações insólitas dessa fase da vida.

A narrativa é centrada no jovem Otis (Asa Butterfield), que, por algum tipo de bloqueio, não consegue se masturbar. Otis é filho de Jean (Gillian Anderson), uma terapeuta sexual, e pela convivência com a mãe acabou adquirindo parte do conhecimento dela sobre como ajudar as pessoas com problemas sexuais. Quando a colega de escola Maeve (Emma Mackey) descobre as habilidades de Otis, ela propõe que eles montem uma “clínica” na escola para aconselhar os demais colegas. Atraído por Maeve, Otis aceita a proposta para se aproximar dela e começa a aconselhar os colegas apesar dele mesmo ter problemas sexuais.

O mais interessante é como a série constantemente se recusa a encaixar seus personagens em estereótipos de narrativas adolescentes e mesmo quando eles inicialmente parecem unidimensionais, aos poucos o texto vai dando a eles algumas camadas de complexidade. Se Adam (Connor Swindells) parece um típico valentão de escola, aos poucos vamos acompanhando sua vida doméstica e descobrimos que sua atitude agressiva com os outros vem da atitude agressiva que recebe do pai e falta de afeto que tem em casa.

terça-feira, 15 de janeiro de 2019

Crítica – Como Treinar Seu Dragão 3


Análise Crítica – Como Treinar Seu Dragão 3


Review – Como Treinar Seu Dragão 3
O primeiro Como Treinar Seu Dragão (2010) foi uma grata surpresa e um trabalho acima da média para a Dreamworks. O segundo filme, lançado em 2014, conseguia manter o alto nível do primeiro, mas não necessitava de mais uma continuação. Esse terceiro filme, embora entregue um desfecho aceitável para Soluço e Banguela, acaba sendo o mais fraco da trilogia.

Na trama, Soluço (Jay Baruchel) conseguiu criar uma utopia na qual humanos e dragões vivem em harmonia, mas seu sucesso atrai caçadores interessados nos dragões. Depois de muitos fracassos, um grupo de caçadores contrata o astuto Crimmel (F. Murray Abraham) para eliminar o dragão Banguela e capturar o resto dos dragões. Para afastar Banguela de Soluço, o vilão usa como isca a última fêmea restante da espécie de Banguela. Assim, Soluço precisa lidar tanto com a nova ameaça quanto com a perspectiva de ter que deixar o amigo ir embora.

A narrativa de caçadores gananciosos tentando capturar os dragões é praticamente a mesma do filme anterior, repetindo muitas das mesmas batidas e temas. Talvez o vilão nem fosse em si necessário, sendo possível fazer o filme em torno da aproximação entre Banguela e fêmea enquanto explorasse a dificuldade de Soluço em se desprender do velho amigo ou assumir um compromisso com Astrid (America Ferrera).

segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

Crítica – O Peso do Passado


Análise Crítica – O Peso do Passado


Review – O Peso do Passado
O Peso do Passado é daqueles filmes que seria bastante esquecível se não fosse protagonizado por uma ótima atriz. O filme mais recente da diretora Karyn Kusama, responsável pelo excelente O Convite (2016), não tem nada que já não tenhamos visto em outros dramas criminais e se apoia quase que exclusivamente no trabalho de Nicole Kidman.

Na trama, a detetive Erin Bell (Nicole Kidman) encontra um cadáver não identificado que parece trazer em si pistas que o ligam a um caso antigo de Erin e que deixou marcas profundas na policial. Ao perceber que finalmente pode ser capaz de encerrar a investigação que a assombra por tanto tempo, Erin inicia uma desesperada e inconsequente corrida contra o tempo para deter o criminoso que ela deixou escapar no passado.

É uma típica história da policial devastada por um trauma do passado e desesperada para tentar se redimir dos problemas. A maquiagem ajuda a dar à protagonista o aspecto de uma pessoa mal cuidada, que não dorme ou se alimenta direita há anos, mas é o trabalho de Kidman que convence da degradação interna de Erin. Com um olhar constantemente cansado e desiludido, um caminhar arrastado e uma fala rouca, a sensação é que estamos praticamente diante de uma zumbi, uma morta-viva, alguém que literal e metaforicamente se tornou um mero espectro de si mesma.

domingo, 13 de janeiro de 2019

Crítica - Titãs: 1ª Temporada

Análise Crítica - Titãs: 1ª Temporada


Review - Titãs: 1ª Temporada
O primeiro trailer de Titãs não me deixou nem um pouco interessado na série. Assim como os recentes filmes do Zack Snyder no universo DC, a prévia parecia confundir a exibição de violência e sombras com sinônimo de maturidade quando violência ou palavrões por si só não tornam nada complexo ou maduro. Felizmente o produto final não chega a ser o que a divulgação dava a entender e esta primeira temporada é razoavelmente aproveitável.

A temporada começa com Dick Grayson (Brenton Thwaites), agora um policial, chegando à cidade de Detroit e tendo que lidar com o seu afastamento de Bruce Wayne/Batman, assim como a possibilidade de deixar o manto de Robin. Enquanto isso, a jovem Rachel (Teagan Croft) tem dificuldade em controlar seus recém descobertos poderes e começa a ser caçada por um estranho culto. Ela começa a ter visões envolvendo Dick e pensa que ele pode ajuda-la. Ao mesmo tempo, Kory Anders (Anna Diop) acorda de um acidente de carro sem memória de quem é e a única coisa que tem consigo é uma foto de Rachel, assim ela tenta encontrar a garota na esperança de descobrir sua própria identidade.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

Crítica - A Esposa


Análise Crítica - A Esposa


Review Crítica - A Esposa
É interessante como um filme com tantos diálogos tão calmos e tantos momentos de silêncio possa trazer consigo uma quantidade enorme de emoções e conflitos que vão aos poucos chegando ao ponto de ebulição. Muito disso vem do trabalho de Glenn Close, que é o centro emocional e narrativo deste A Esposa.

A trama acompanha o casal Joe (Jonathan Pryce) e Joan (Glenn Close) que viaja à Suécia para que Joe, um renomado escritor, receba o Prêmio Nobel de Literatura por conta de suas obras. Durante a viagem Joan nada mais é que um adereço acompanhando o marido, com pessoas vindo cumprimentá-lo e ignorando-a por completo e Joe muitas vezes falando em nome dela para seus interlocutores. Aos poucos vamos descobrindo que o silêncio dela durante o evento tem outras razões para o fato de ser uma esposa que viveu dedicada ao marido e existe apenas para apoiá-lo.

A trama vai mostrando como o mundo da arte é dominado por homens, seja na produção artística, na direção das editoras e curadorias, ou mesmo na crítica de arte (e ainda hoje a crítica é um espaço majoritariamente masculino). Assim, mesmo uma escritora de talento, como é o caso de Joan em sua juventude, tem dificuldade de penetrar ou ser levada à sério nesses ambientes dominados por homens em todas as posições.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

Crítica – Máquinas Mortais


Análise Crítica – Máquinas Mortais


Review Crítica – Máquinas MortaisQuando escrevi sobre o péssimo Mentes Sombrias (2018) falei sobre como o subgênero da “distopia adolescente” já estava desgastado e parecia não dar sinais de renovação. Eis que chega aos cinemas Máquinas Mortais, mais uma aventura jovem baseada em uma obra literária sobre um mundo distópico, dessa vez há o nome de Peter Jackson, responsável pelas trilogias O Senhor dos Anéis e O Hobbit, na produção e no roteiro, mas nem mesmo Jackson consegue resgatar esse filão das suas estruturas cansadas e repetitivas, fazendo de Máquinas Mortais mais uma distopia genérica.

A trama se passa em futuro no qual a humanidade foi quase que inteiramente dizimada e as poucas cidades que restaram vagam o mundo como fortalezas móveis em busca de recursos que estão cada vez mais escassos, destruindo umas as outras para se manterem funcionando. Em meio à tudo isso está Hester Shaw (Hera Hilmar), uma jovem misteriosa que invade a cidade móvel de Londres para assassinar o cientista Thaddeus Valentine (Hugo Weaving) para vingar a morte da mãe.

terça-feira, 8 de janeiro de 2019

Crítica – Assunto de Família


Análise Crítica – Assunto de Família


Review – Assunto de Família
Dizer que Assunto de Família é uma espécie de drama sobre uma família de criminosos pode, talvez, dar uma impressão errada sobre o que ele é. Afinal, quando falamos de dramas sobre famílias criminosas imediatamente imaginamos histórias sobre máfia e sindicatos criminosos, mas o filme de Hirokazu Kore-eda é menos sobre crime ou poder e mais sobre os laços que unem ou separam a unidade da família protagonista.

O casal Osamu (Franky Lilly) e Nobuyo (Ando Sakura) vive em uma pequena casa junto com o filho Shota (Jyo Kairi), a irmã mais jovem de Nobuyo, Aki (Matsuoka Mayu), e a avó cuja pensão parece ser o principal sustento da família. As relações entre eles não ficam claras desde o início, deixando algumas dúvidas se eles são parentes de sangue, de criação ou consideração, mas é justamente sobre a natureza implícita dessas relações e os sentimentos não externados pelos personagens que muitos dos conflitos vão emergir.

Além da pensão da avó, muito do sustento da família vem de pequenos furtos. Nobuyo rouba itens de seu trabalho enquanto que Osamu e Shota roubam mercadorias em lojas e mercados. A natureza acumuladora dos personagens é refletida na própria casa, cheia de caixas, objetos, brinquedos e todo tipo de tralha empilhada por todos os cantos, reduzindo ainda mais o já diminuto espaço do lugar. A família se expande quando o casal encontra a menina Juri (Sasaki Miyu) abandonada na frente da residência deles e Nobuyo decide levá-la para casa.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

Crítica – Lizzie


Análise Crítica – Lizzie


Review – Lizzie
Em 1892 o pai e a madrasta de Lizzie Borden foram brutalmente assassinados a machadadas. As suspeitas recaíram sobre Lizzie e a empregada, Bridget Sullivan, as únicas duas pessoas na casa, mas ninguém foi preso e o crime nunca foi resolvido, ficando no imaginário popular da cultura dos Estados Unidos.

O caso já rendeu vários filmes, livros e séries de televisão que tentavam entender o que aconteceu e inspiraram tantas outras obras como Alias Grace da escritora Margaret Atwood (autora de O Conto da Aia) que tinha uma premissa bem similar aos eventos reais e foi transformada em minissérie pela Netflix. Este Lizzie é a tentativa mais recente de examinar o caso e imaginar o que aconteceu, mas tem pouco a dizer que já não tenha sido explorado antes.

Na trama, Lizzie (Chloe Sevigny) é uma jovem mulher pertencente a uma família de alta classe que percebe que o tio está tentando tomar os negócios do pai que, por sua vez, não acredita nas acusações de Lizzie. Ao mesmo tempo, a protagonista se aproxima de Bridget (Kristen Stewart), a nova empregada de sua casa, e as duas começam a desenvolver um relacionamento.

Vencedores do Globo de Ouro 2019


Vencedores do Globo de Ouro 2019


A entrega dos Globos de Ouro aconteceu ontem, 06 de janeiro, apresentada pelos atores Andy Samberg e Sandra Oh. A premiação sagrou Bohemian Rhapsody, biografia do músico Freddie Mercury, como melhor filme de drama e o ator Rami Malek venceu na categoria de ator dramático por seu trabalho como Freddie no filme. Green Book: O Guia venceu como melhor filme de comédia e rendeu um prêmio de ator coadjuvante para Mahershala Ali. No campo das séries, O Assassinato de Gianni Versace venceu em duas categorias, como melhor minissérie e em melhor ator em minissérie para Darren Criss. Confiram aqui a lista completa de indicados com os vencedores destacados em negrito.



sexta-feira, 4 de janeiro de 2019

Crítica – Desventuras em Série: 3ª Temporada


Análise Crítica – Desventuras em Série: 3ª Temporada


Resenha – Desventuras em Série: 3ª Temporada
Quando escrevi sobre a segunda temporada de Desventuras em Série, falei sobre a cansativa repetição da mesma estrutura ao longo de seus episódios e a esperança de uma próxima temporada não cometer os mesmos erros. Pois bem, essa terceira e última temporada de fato evita repetir os mesmos formatos e entrega um desfecho digno para a saga de infortúnio dos irmãos Baudelaire.

A narrativa começa no exato ponto em que a temporada anterior terminou, com o Conde Olaf (Neil Patrick Harris) jogando os irmãos Baudelaire do alto de uma montanha. A partir desse ponto acompanhamos o trio de protagonistas em sua busca para descobrir os mistérios envolvendo a sociedade secreta que seus pais faziam parte, a localização do cobiçado açucareiro e as tentativas de se livrar de uma vez por todas da ameaça do Conde.

Desde o primeiro episódio há uma clara sensação de que a série caminha para o seu desfecho e busca amarrar todas as pontas soltas, refletindo sobre os impactos da jornada sobre seus personagens. Se as duas primeiras temporadas tinham um claro viés maniqueísta, exibindo Olaf como um sujeito completamente maligno e irredimível, a atual o torna uma figura mais complexa ao nos exibir o seu passado e as razões da cisão dentro da organização secreta que ele e os pais dos Baudelaire faziam parte.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

Crítica – A Vingança Perfeita


Análise Crítica – A Vingança Perfeita


Review – A Vingança Perfeita
No papel A Vingança Perfeita tinha tudo para dar certo: uma estilosa história de vingança com um elenco cheio de intérpretes carismáticos como Margot Robbie e Simon Pegg. Na prática, no entanto, o resultado é um filme vazio e cheio de afetações que não levam a lugar algum.

Na trama, a assassina Bonnie (Margot Robbie) oferece seus serviços para um misterioso chefão do crime. Para trabalhar com ele, porém, ela precisa se mostrar superior aos seus concorrentes. Ao mesmo tempo, Bill (Simon Pegg), um professor com uma doença terminal, vaga pela cidade enquanto contempla a possibilidade de suicídio.

O texto se pretende a uma reflexão sobre violência, loucura, vida e morte, cheio de citações literárias a obras como Alice no País das Maravilhas, construindo longos diálogos verborrágicos com a certeza de que está fazendo algo digno de Quentin Tarantino ou Guy Richie quando, na verdade, está bem longe disso. A verdade é que a maioria dessas conversas nunca produz nenhuma reflexão ou insight sobre os temas abordados e as falas parecem mais estruturadas para gerar frases de efeito “impactantes” ou “descoladas” do que para produzir um argumento interessante a respeito de qualquer um dos assuntos. Claro, Margot Robbie traz uma energia insana à sua assassina que impede que tudo mergulhe no completo tédio, mas nem mesmo ela consegue salvar um texto tão equivocadamente raso.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

Crítica – Homem-Aranha no Aranhaverso


Análise Crítica – Homem-Aranha no Aranhaverso


Review – Homem-Aranha no Aranhaverso
A ideia da Sony fazer uma animação baseada nas múltiplas versões do Homem-Aranha parecia apenas uma estratégia caça-níqueis do estúdio para lucrar com o personagem sem precisar ceder o controle à Marvel como em Homem-Aranha: De Volta ao Lar (2017). Não esperava muita coisa, mas o que encontrei foi, talvez, o melhor filme do aracnídeo desde Homem-Aranha 2 (2004) do Sam Raimi.

A trama acompanha Miles Morales (Shameik Moore) que, tal como aconteceu com Peter Parker (Chris Pine), também é mordido por uma aranha radioativa e ganha poderes especiais. As coisas se complicam quando um colisor de partículas usado pelo Rei do Crime (Liev Schrieber) abre um portal para múltiplas dimensões trazendo versões do Homem-Aranha de diferentes universos. Assim, Miles precisará trabalhar com esses outros heróis, como Peter B. Parker (Jake Johnson), um Aranha fora de forma e em fim de carreira, a Gwen Aranha (Hailee Steinfeld), o Homem-Aranha Noir (Nicolas Cage), Peni Parker (Kimiko Glen), uma menina japonesa dentro de um robô aracnídeo, e o Porco-Aranha (John Mulaney), um porco antropomórfico que também tem poderes de aranha.