Eu não esperava que Creed
(2016) fosse tão bom como foi, mas o resultado era bastante digno do legado do
universo criado por Sylvester Stallone, apresentando novos e interessantes
personagens, além de levar velhos conhecidos por novos caminhos. Creed 2, por sua vez, não tem o mesmo
frescor do primeiro, mas ainda assim é um desenvolvimento competente do que foi
apresentado no filme anterior.
A narrativa começa com Adonis Creed (Michael B. Jordan) se
tornando campeão dos pesos-pesados. Após ganhar atenção da mídia mundial,
Adonis é desafiado por Viktor Drago (Florian Munteanu), filho de Ivan Drago
(Dolph Lundgren), o boxeador que matou Apollo Creed (Carl Weathers) e foi
derrotado por Rocky (Sylvester Stallone). Sentindo a necessidade de defender a
memória do pai, Adonis decide aceitar a luta mesmo com os conselhos contrários
de Rocky, da mãe e da noiva, Bianca (Tessa Thompson).
Apesar de remeter a eventos de Rocky IV (1985), a estrutura da trama é mais parecida com a de Rocky III: O Desafio Supremo (1982), com
o protagonista recebendo um desafio de um lutador novato e bruto, embarcando em
uma luta para a qual não estava plenamente preparado e precisando se refazer
depois. Nesse sentido, Creed 2 acaba
sendo bem mais previsível do que seu antecessor, repetindo batidas já
conhecidas e deixando pouca dúvida em relação ao que vai acontecer.
O elenco, no entanto, tem um entrosamento tão verdadeiro e
uma emoção tão genuína que é difícil não se conectar à dinâmica de Adonis,
Rocky e Bianca. Eles nos fazem crer que aquelas pessoas convivem há muito tempo
e se conhecem muito bem, uma naturalidade que não é fácil de alcançar. Jordan
dá a Adonis uma espécie de petulância insegura, alguém ciente de sua
habilidade, mas temeroso a respeito do próprio legado e da possibilidade de sair
da sombra do pai e da Rocky.
Eu cheguei a achar que a Bianca de Tessa Thompson seria
desperdiçada como a típica esposa que fica choramingando pelos cantos, mas o
filme é inteligente em dar a ela um papel bastante ativo na jornada de Adonis e
na conexão dele com sua família. Stallone, por sua vez, confere um
compreensível grau de hesitação a Rocky, que recusa tomar parte não por
descrença em Adonis, mas por não querer revisitar eventos traumáticos do seu
passado. Isso fica evidente no momento em que ele desliga a televisão antes que
a reportagem informe o que aconteceu com Adonis, como se fosse doloroso demais
para ele passar por isso de novo depois da perda de Apollo décadas atrás.
A família Drago, por outro lado, acaba sendo sub utilizada.
Ivan até tem motivações compreensíveis, tendo perdido tudo após a derrota por
Rocky e vivendo com uma crescente amargura e desejo de revanche nas últimas
décadas. Viktor, por sua vez, é uma página em branco, passando boa parte da
projeção apenas fazendo cara de mau e com pouquíssimos diálogos para
desenvolvê-lo. A trama chega a sugerir que ele é praticamente uma vítima dos
maus tratos de Ivan, que não teve nada a oferecer para o filho além de ódio. É
uma pena que esses personagens recebem um tratamento superficial, pois como
Viktor é um antagonista tão vazio, praticamente não há dúvida que Adonis sairá
triunfante ao final. Além disso a falta de desenvolvimento entre Ivan e Viktor
tira o peso dramático da decisão final de Ivan e da transformação que esses
personagens passam.
É curioso que mesmo os resultados sendo previsíveis, as
lutas permanecem empolgantes e cheias de emoção. Parte disso vem da já citada
qualidade do elenco, mas o mérito vem também de como as lutas são filmadas e do
design sonoro. Cada soco de Viktor
Drago soa como se uma pilha de tijolos caísse sobre Adonis nos fazendo sentir o
peso de cada golpe sobre o corpo do lutador. Mesmo não tendo nada parecido com
a luta em aparente plano contínuo do primeiro filme, ainda assim me peguei
torcendo e vibrando como se estivesse assistindo uma luta de boxe de verdade e
o fato do filme me conseguir colocar nesse estado de empolgação é um testamento
de sua habilidade em nos deixar imersos na trama.
Creed 2 acaba
sendo relativamente previsível, mas tem uma emoção tão genuína que é difícil
não embarcar na jornada de seus personagens.
Nota: 7/10
Trailer
Nenhum comentário:
Postar um comentário