Quando escrevi sobre a segunda temporada de Desventuras em Série, falei sobre a
cansativa repetição da mesma estrutura ao longo de seus episódios e a esperança
de uma próxima temporada não cometer os mesmos erros. Pois bem, essa terceira e
última temporada de fato evita repetir os mesmos formatos e entrega um desfecho
digno para a saga de infortúnio dos irmãos Baudelaire.
A narrativa começa no exato ponto em que a temporada
anterior terminou, com o Conde Olaf (Neil Patrick Harris) jogando os irmãos
Baudelaire do alto de uma montanha. A partir desse ponto acompanhamos o trio de
protagonistas em sua busca para descobrir os mistérios envolvendo a sociedade
secreta que seus pais faziam parte, a localização do cobiçado açucareiro e as
tentativas de se livrar de uma vez por todas da ameaça do Conde.
Desde o primeiro episódio há uma clara sensação de que a
série caminha para o seu desfecho e busca amarrar todas as pontas soltas,
refletindo sobre os impactos da jornada sobre seus personagens. Se as duas
primeiras temporadas tinham um claro viés maniqueísta, exibindo Olaf como um
sujeito completamente maligno e irredimível, a atual o torna uma figura mais
complexa ao nos exibir o seu passado e as razões da cisão dentro da organização
secreta que ele e os pais dos Baudelaire faziam parte.
Do mesmo modo, a trama confronta o trio de protagonistas com
as consequências de suas ações, lembrando que em muitos momentos eles agiram de
acordo com seus próprios interesses e sacrificando as pessoas ao seu redor. Até
mesmo alguns capangas de Olaf ganham um pouco mais de aprofundamento, como o
homem com gancho nas mãos, que tem seu passado explicado. Tudo isso reflete
temas que são centrais para a série desde sua primeira temporada, a ideia de
que nada é exatamente o que parece e nem tudo é exatamente o que esperamos.
Boa parte dos mistérios levantados até então são
respondidos, embora alguns recebam respostas vagas e alguns elementos sejam
deixados em aberto. Imagino que algumas pessoas podem se incomodar com isso, já
que nem tudo é completamente respondido, mas a narrativa sempre foi mais sobre
o amadurecimento dos Baudelaire do que sobre sociedades secretas ou
açucareiros. Nesse sentido o episódio final funciona como uma ótima metáfora
para a visão da trama sobre o papel das adversidades e infortúnio em nossas
vidas.
Presos em uma ilha cheia de recursos, os irmãos tem a
escolha de viver ali confortavelmente e sem problemas, mas isolados do mundo, ou
ir embora e confrontar os problemas que deixaram para trás. Narrativas voltadas
ao público infantil ou jovem muitas vezes desempenham uma função didática,
ensinando e preparando seus leitores para lidar com o que virá na vida adulta e
aqui a trama nos lembra que não é possível viver sem dificuldades, que
tragédias e infortúnios são tão parte da vida quanto os momentos de alegria e é
preciso aprender a crescer diante desses problemas ao invés de apenas tentar
evitá-los. Assim sendo, essa terceira temporada de Desventuras em Série entrega um desfecho bastante digno para a
série.
Nota: 8/10
Trailer
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